segunda-feira, 24 de maio de 2010

Navio-Escola SAGRES: A 3ª Viagem de Circum-Navegação. Acapulco, México, de 22 a 27 de Maio

Cortesia da Marinha Portuguesa
12MAI2010 - 114º Dia – Guayaquil!

A navegação continuou ao longo do dia 3 de Maio sobre a influência de uns Alíseos fracos de SE. Aproveitámos para navegar a motor de forma a ir baixando a média necessária para cumprir o ETA a Guayaquil. Fizemos um treino de homem ao mar ao final da manhã, após os serviços. Como correu bem, não foi preciso repetir. Há um sem número de pequenas falhas que podem ocorrer, desde a protecção individual de cada um dos intervenientes na manobra de recolha até à rapidez com que se retira o homem da água e se entrega à equipa médica. Fazemos diariamente briefings para que cada um cumpra com a sua parte e, sempre que possível, fazemos um treino a sério com o nosso Óscar - um boneco que temos para o efeito. Havia um certo stress futebolístico entre os pró e os anti-Benfica pois ambos pressentiam ainda alguma hipótese de sucesso nos seus desejos relativamente ao campeonato. Íamos estar atracados durante os jogos em que tudo se decidiria e esperávamos conseguir vê-los de alguma forma.
Posição actual do Navio-Escola
Acapulco, México
Cortesia da Marinha Portuguesa
Há apostas interessantes de Sportinguintas e Portistas. Antevendo a ordem natural das coisas os “anti” propunham-se pagar uma garrafa do melhor néctar da barca se o Braga fosse campeão. Não tiveram o gosto de pagar, foi no entanto uma boa forma de cultivar a sã rivalidade. Para além disto discutiam-se os resultados do torneio espontâneo que se realizou na Base Naval de Callao e as peripécias do porto acabado de visitar. Havia junto ao navio quatro campos de futebol que eram invariavelmente ocupados pela guarnição após a concessão de licenças. Muitos aproveitaram também o espaço para umas corridinhas. No dia 4, após verificação de que a média rondava os 5 nós e com um vento nos 10 a 15 nós de popa, parámos a máquina e caçámos todo o pano. O efeito de brisas e Sulada, em conjunto com os Alíseos, tem feito variar a nossa velocidade entre os 3 e os 9 nós. A Sulada é equivalente à nossa Nortada. O Sol aquece a massa continental, provoca uma depressão térmica e a circulação atmosférica correspondente, no sentido dos ponteiros do relógio, reforça o vento na componente Sul.
O Planeamento
Cortesia da Marinha Portuguesa
Esta seria uma boa explicação, não fora o facto de estarmos tão perto do equador e o efeito de Curiollis ser quase inexistente. O que parece estar a passar-se é que o vale depressionário que existe ao longo da costa se cava mais com a baixa térmica em terra, aumentando o gradiente de pressão e, com ele o vento. É esta baixa latitude que inibe o efeito de Curiollis que nos protege dos Ciclones Tropicais. O Curiollis é responsável por inúmeras coisas a que não ligamos mas que têm a sua importância. Tudo o que se desloca sobre a terra tem tendência a sofrer uma força para a direita no hemisfério Norte e para a esquerda cá no Sul. Os sedimentos dos rios deslocam-se para as margens direitas a N e para as esquerdas a S. O Tejo e o Douro têm praias nas suas margens direitas e margens profundas nas esquerdas. Os ciclones tropicais rodam no sentido horário no Sul e ao contrário no Norte. Navegámos calmamente, sem o ruído do motor e com um balanço muito fraco pois já quase não se sente o mar de fora. À tarde apareceram três baleias piloto que nos acompanharam durante alguns minutos. Já houve quem aproveitasse o Sol envergonhado e fizesse um pouco de praia. Apesar de a latitude estar já abaixo dos 5º, a corrente Sul de Humbolt mantém o controlo do clima e temos o ar e a água do mar a apenas 20ºC. Os dias por cá têm 12 horas de luz e outras tantas de escuridão. As noites têm sido escuras até ao nascer da lua que tem sido a meio da noite. No dia 3 à hora de jantar, o mar foi invadido por centenas de pequenas embarcações de pesca que nos passaram tangentes na noite escura enquanto pescavam à nossa volta com movimentos sinuosos.



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Imagens de Guayaquil
Cortesia da Marinha Portuguesa
Não conseguimos identificar o tipo de arte de pesca. Bastava apontar uma luz a uma ou outra que se aproximava excessivamente e ela desviava-se apontando também uma luz a mostrar que nos estava a ver. A nossa excêntrica cumpriu um programa que lhe preparámos para que a sua experiência fosse mais completa e fez nessa noite o quarto da alva, i.e., das 04:00 às 08:00. Depois subiu ao Traquete e apreciou o espectáculo das velas a empurrar o navio sem o ruído do motor. Fundeámos no dia 6 logo pela manhã na foz do Rio Guayaquil aproveitando para fazer as beneficiações necessárias para a estadia no porto. Aproveitámos também para colocar a Baleeira do Comandante na água, aparelhada para navegar à vela. Temos duas iguais, o que permite fazer competições do tipo match racing mas este ano ainda não tínhamos tido oportunidade de as utilizar. Jogando com o vento fraco e a corrente de maré, fomos até ao Gloria de manhã e até ao Simón Bolivar e ao Cuahutemoc durante a tarde. Os três navios maiores, os gémeos Esmeralda e JS Elcano, e o Libertad avançaram nessa manhã para o porto de águas profundas, mais afastado do centro de Guayaquil. Aproveitando o facto de estar um grupo de 6 navios juntos, o Comandante do Guayas convidou os restantes Comandantes e Navegadores para almoçar. Quando lá chegámos percebemos que o almoço era em nossa honra, a primeira de várias simpáticas manifestações de despedida e gestos de amizade com que fomos brindados nesta nossa estadia. Entretanto avisaram-nos que o Capitão do Porto de Bolívar, o mais próximo daquele fundeadouro, nos convidava para jantar. Navegámos 15 milhas nas velozes lanchas que nos foram buscar e, ao chegar a terra, fomos levados para um local onde estava o Governador, o Comité organizador do evento “Guayaquil a toda Vela”, vários jornalistas e patrões de alto mar. Até Pierina Correa Delgado, a irmã do Presidente da Republica estava presente. Aquilo que pensamos que ia ser um jantar descontraído afinal era uma conferência de imprensa de apresentação do evento, com muitos discursos, uma tapas e muita bebida que recusámos por ser tarde e a nossa subida do rio Guayas começar logo às 5 da manhã.
Assim que nos pareceu menos indelicado, solicitámos o regresso a bordo onde chegámos à meia-noite. Madrugámos e navegámos rio acima até ao local onde prestaríamos honras ao Presidente da Republica, embarcado numa fragata. O Rio tem apenas três locais que inspiram maiores cuidados e que nos obrigaram a escolher uma janela de maré para passar com altura de água suficiente. Percorremos 60 milhas de margens com mangais altos e algumas aldeias de pescadores a espaços com casas lacustres. O rio Guayas, o maior rio a desaguar no Pacífico, é um rio de cor barrenta, com muita vegetação e alguns troncos a flutuar, em tudo semelhante ao que nos é dado a conhecer do Amazonas. A moldura humana nas margens começou a fazer-se sentir na aproximação final à cidade. Havia várias bandeiras de Portugal devido às várias empresas de pesca de arrasto de camarão por que passámos, maioritariamente pertencentes a Portugueses que aqui se instalaram nos anos 50 e que fizeram fortuna na pesca, constituindo-se como uma comunidade com um nível de vida relativamente alto. Às 13 horas, prestámos as devidas honras com os Vivas ao Presidente. Com os navios da frente a parar para inverter o rumo no estreito rio, criou-se um stressante harmónio para os pilotos embarcados mas tudo se resolveu sem problemas e seguimos para o nosso cais que se situava 5 km a Sul do centro. A cidade tem uma marginal espectacular chamada Malecón 2000, construída com dádivas da população, onde se situa o cais permanente do navio da casa, o Guayas. A nossa atracação não foi fácil porque havia várias pessoas da organização a ditar diferentes ordenamentos dos navios no cais e bordo de atracação. A isto somou-se a dificuldade acrescida de o cais ser pequeno para os três navios para lá escalados: O Europa, a Sagres e o Glória. Como a maré estava prestes a virar decidimos cumprir com o que ficou acordado na reunião de largada do último porto. Terminámos a manobra às 15.00 e pouco depois já íamos a caminho da cidade numa viatura com condutor, segurança e oficial de ligação, e com dois batedores de mota a abrir caminho no trânsito da cidade. Seria sempre assim. Em todas as nossas deslocações diurnas tínhamos os nossos batedores. Apresentámos cumprimentos ao Comandante Geral da Marinha às 16:00 no Clube Naval e meia hora depois ao Governador, outra meia hora e fomos ao Prefeito e depois ainda ao Alcalde que terminaram com uma Conferência de Imprensa. Sempre com jornalistas a cobrir os eventos e com muitos discursos em que o do Presidente do Comité Organizador foi um denominador comum. No total dos 4 dias ouvimos 7 discursos seus. Ainda houve um lançamento filatélico alusivo ao evento em que cada navio figura na colecção. Neste porto não foi possível juntar as entidades todas num só local para abreviar a apresentação de cumprimentos e troca de lembranças porque estávamos em presença de várias cores partidárias que não quiseram perder o seu protagonismo. A noite terminou com uma festa de guarnições no Malecon 2000. O segundo dia no porto começou com a deposição de coroas de flores na “Columna de los Próceres”, uma coluna de mármore e bronze, muito trabalhada, inaugurada em 1918 para celebrar as pessoas que contribuíram para os movimentos independentistas de 9 de Outubro de 1820. Andemos um pouco para trás. Este território, tal como o do Peru, também foi habitado por culturas com um assinalável nível de desenvolvimento desde há mais de 9000 anos. Os Incas, que se começaram a expandir em 1450 e ocuparam esta zona cerca de 50 anos depois, foram o povo que os primeiros espanhóis a chegar encontraram em 1526. Pizzarro chegaria em 1532, poucos dias após a capitulação de uma das facções da guerra de sucessão do Imperador inca Huayna Capac e espalharia o terror que levou à derrota destes que a venderem caro ao incendiarem a cidade de Quito. O colonialismo espanhol instalou-se em 1532 sob o governo de Lima, Peru e, em 1739 passou para o vice-reinado da Colômbia. O trabalho, essencialmente agrícola e com gado levou ao florescimento de uma classe média crioula que começa a tentar tornar o pais independente de Espanha. Crioulos e espanhóis desagradados com a usurpação do poder em Espanha na sequência da invasão de Napoleão que o entrega a um seu irmão, organizam Juntas fiéis ao Rei deposto. Após várias peripécias, em 10 de Agosto de 1810 estabelecem a primeira Junta Nacional em Quito, um governo com autodeterminação, embora sob a presidência do representante da coroa. Em Outubro de 1820 a junta patriótica existente em da região de Guayaquil proclama a independência de qualquer poder espanhol. A independência do país foi ganha em 1822 com a ajuda do libertador venezuelano Simón Bolivar atacando por Norte e o argentino San Martin atacando por Sul, que se encontraram precisamente em Guayaquil. Bolívar criou a Grande Colômbia, composta pela actual Venezuela, Colômbia e Equador, e tinha o sonho de unificar a América do Sul mas ao fim de 8 anos o Equador saiu e pouco depois os outros dois países também se separaram. Saímos da Praça da Independência e desfilámos, os Comandantes e as autoridades, acompanhados por uma banda, até ao monumento a Bolívar e San Martin que celebra o abraço entre os dois Generais. Aí tirámos a foto de Comandantes e seguimos para o tradicional desfile de tripulações. As ruas estavam repletas de assistentes. Seguiu-se o almoço a bordo da Sagres com a presença dos Comandantes para uma despedida mais formal, troca de contactos e lembranças e acerto de pormenores sobre possíveis encontros futuros para recordar a experiência que vivemos juntos e que nos marcará para sempre. Quem assistia à chegada dos convivas pensaria estarmos perante uma cerimónia de altíssimo nível por estes chegarem com os tais batedores e seguranças. Nessa tarde ainda recebemos a bordo o Comandante Geral da Marinha que fez questão de nos visitar e agradecer a presença da Sagres em representação de Portugal neste que é o maior evento comemorativo do bicentenário da Junta Nacional ao qual todas as autoridades e entidades estão a dar a maior atenção. Jantámos no distintíssimo Club de la Unión com a mais alta sociedade, autoridades e entidades locais, enquanto no Clube Naval decorria uma festa para Oficiais e Alunos. O Domingo iniciou-se com um pequeno-almoço oferecido pelo Comandante ao Cônsul de Portugal e um conjunto de convidadas da comunidade portuguesa. Era o Dia da Mãe e as senhoras ficaram encantadas quando lhes oferecemos para recordação o poster autografado do navio e o CD do concerto da fadista Marisa ao Vivo em Lisboa. Seguiu-se um Campeonato de Futebol entre tripulações. Mas ao meio dia o navio estava em polvorosa pois iniciavam-se os jogos que iriam decidir a Iª Liga que fomos acompanhando via rádio e através dos sites desportivos da internet. Obtido o melhor resultado para a maioria da guarnição, aproveitámos para ir conhecer um pouco da cidade. O Malecon 2000, o Palácio Municipal, o antigo bairro Las Peñas, zona dos artistas, com casas de mais de 400 anos, os parques com Iguanas e Árvores enormes, a Catedral, o Mercado de Artesanato, o Museu Marítimo e o Cerro de Santa Ana com o seu farol e capela. À noite, participámos no “Festival de la Noche Gastronómica Ecuatoriana”, oferecido no Centro Cultural Simón Bolivar a grande parte das tripulações, com fogos de artifício e com a actuação da cantora Beatriz Gil Parra que deu um óptimo espectáculo, e outros artistas, assim como uma breve peça de teatro sobre aludindo a Bolívar. Como o próximo porto é Cartagena das Índias, na Colômbia, fizemos a reunião de preparação da largada e apresentação do porto seguinte a bordo do Glória. Esta foi precedida de um pequeno-almoço de Comandantes para mais uma despedida em que fomos todos presenteados com uma típica balalaica colombiana e nos fizemos fotografar com ela. Ao longo destes meses os nossos amigos colombianos insistiram muito para que fossemos a Cartagena, diz-se que será o melhor porto do evento. No entanto, contrariamente às outras duas voltas ao Mundo da Sagres, não praticaremos o Canal do Panamá. Não se pode ter o melhor de dois mundos, a nossa rota está traçada. Almoçámos no Parque Histórico de Guayaquil situado na moderna cidade de Samborondón, na margem oposta do Guayas. A convite do Alcalde local, visitámos um esplêndido parque e assistimos a um espectáculo de música e danças locais. À tarde ainda houve tempo para uma rápida compra de souvenirs e à noite veio a maior das surpresas. Uma recepção da Casa de Portugal que reuniu a maioria dos portugueses e os seus jovens descendentes e respectivos amigos. De repente estávamos nos jardins de uma bonita e grande casa envolvidos num ambiente jovem com artistas convidados e com os saudosos portugueses ávidos de uma foto e dois dedos de conversa. Levámos uma salada de bacalhau e pastéis de nata por sabermos as dificuldades locais em encontrar aqueles acepipes. Havia muito camarão, não fosse a pesca do arrasto desta iguaria a principal actividade dos portugueses no Equador que a chegaram a colocar no segundo lugar das exportações. A filha do Engº António Marques Firmino, Cônsul Honorário de Portugal, foi Miss Equador em 2005 e tem uma empresa de organização de eventos que se esmerou e conseguiu uma festa como temos tido poucas. Cantou-se fado, tocou-se música e dançou-se muito. Esta foi mais uma confirmação da experiencia que temos tido de que as pequenas comunidades portuguesas podem ser muito acolhedoras. Para o final da manhã de ontem, Dia da Largada, estava prevista a visita do Presidente da Republica do Equador, Rafael Correa, que já tinha estado marcada duas vezes e foi sempre cancelada. Desta vez disseram-nos que viria ao cais mas que só visitaria o navio colombiano. Considerámos que tal seria inaceitável para um navio do Estado Português e exigimos uma explicação aos organizadores do evento. Resultou pois o Presidente Correa chegou ao cais e dirigiu-se logo à Sagres onde cumprimentou os portugueses que estavam a bordo para uma visita privada da comunidade e, numa conversa muito animada, comentou o quase incidente de não nos visitar e a importância que Portugal tem para o Equador. Agradeceu a nossa presença e elogiou-nos como os melhores marinheiros de sempre, falou da recente passagem pela Cimeira Ibero-americana do Estoril e anunciou, perante os jornalistas que o acompanhavam, que vai colocar uma Embaixada em Lisboa. Oferecemos-lhe uma garrafa de Vinho da Madeira por ser esta a zona de proveniência da maioria da comunidade lusa, uma réplica de um astrolábio para navegar nos tempestuosos mares da política e um CD da Marisa que reconheceu da actuação em Belém durante a cimeira. O Presidente Correa é alinhado com o Presidente Hugo Chaves e as relações com a Colômbia não têm sido as melhores. Daí a importância da sua visita ao navio colombiano, sendo uma demonstração de boa vontade para a melhoria das relações. O Equador é um país rico em petróleo, produtos agrícolas e produtos do mar. As suas bananas, café e cacau são exportadas para todo o mundo e a actividade turística, em que o arquipélago das Galápagos é o ex-líbris, está muito desenvolvida. De facto no Equador, em termos de orografia e paisagem existem os apelidados quatro mundos, para além das Galápagos, há a zona costeira com boas praias, alta montanha dos Andes e, no interior, a Floresta Amazónica. Esta designação que demarca quatro zonas completamente distintas também se aplica à gastronomia, bem rica por sinal. Há ainda um grande número de pobres a que não é alheia a antiga governação do país, as lutas internas entre os conservadores de Quito e os liberais de Guayaquil, e as guerras com o Peru que tiveram mais um ponto alto em 1995 e com quem ainda há fronteiras em disputa. Após uma grave crise financeira, o Sucre, que se tinha desvalorizado mais de 500%, foi substituído pelo dólar americano, moeda oficial do país. Apesar de tudo, a cidade pareceu-nos a mais organizada e o povo o mais feliz e mais simpático dos últimos portos visitados. É o clima tropical! Largámos às 14:30. À vela, aproveitando o facto de o vento estar do lado do cais e a corrente ser contrária. Uma manobra simples mas muito apreciada pelo publico em geral, mas de cardápio para os poucos que sabiam de vela e a compreenderam. Tínhamos o Glória a 3 metros da popa e caçámos primeiro pano latino avante para ir abrindo de proa até a corrente começar a entrar pela amura de dentro. Depois caçámos gáveas baixas e papa-figos para vencer a corrente, folgando a amarração que dizia para ré e, quando a amarração que dizia para vante começou a folgar foi o sinal de que já tínhamos andamento para não descair com a corrente. Continuámos a folgar tudo até largar completamente tocando a sereia e acenando com a mão gigante. Pouco depois metemos máquina para avançar mais rapidamente rio abaixo tendo chegado ao pacífico às 22:00. Ainda no rio, após terminada a faina de largada, realizou-se uma cerimónia há muito prometida. Convocaram-se os benfiquistas para o convés, com os seus respectivos cachecóis e içou-se a respectiva bandeira ao som do hino. Apareceram também cachecóis de outras cores –azuis-, e cantou-se o hino em sã camaradagem. Esta manhã já realizámos o nosso último desfile naval, em Salinas, a todo o pano porque temos tempo para chegar a Acapulco. Os nossos companheiros dos últimos três meses despediram-se no rádio. Houve tiros de salva do navio Argentino que fez questão de se aproximar, muitos toques de sereia e muita nostalgia. Na Sagres terminámos um ciclo desta viagem. Muito cansativo mas muito gratificante pelas amizades, pela troca de experiencias, pelo que nos é permitido aprender uns com os outros e respeito granjeado. Esta nostalgia, agravada pelo facto de largarmos de um porto onde também fomos muito bem recebidos e pelo facto de já estarmos há 114 dias fora de casa faz com que precisemos rapidamente de uma dose de adrenalina. O clima já é tropical e vamos recuperar as nossas competições de Futeconvés. Amanhã passamos a Linha do Equador, desta vez sem as pesadas penalizações do Rei Neptuno, e estaremos de volta ao Hemisfério Norte. É dia 12 de Maio e o Papa Bento XVI está em Portugal. A bordo, uma boa parte da guarnição organizou uma “Procissão das Velas” com a nossa Virgem del Rozário de Pozo de que já aqui falámos. À meia-noite, num lindo andor percorreu o navio todo, pelos exteriores e interiores enquanto nos altifalantes se ouviam cânticos. Um momento de paz e introspecção único, a navegar à vela, com todo o pano e apenas a 50 milhas da linha que junta os dois hemisférios. Chegamos a Acapulco - México no dia 22! Até breve! In Diário de Bordo, Pedro Proença Mendes, Cte do NRP SAGRES

http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/sagres/
 



Cortesia da Marinha/JDACT