Cortesia de jpnicicomup
Com a devida vénia a Manuel Inácio Pestana e Revista A CIDADE, nº 0, Maio de 1981.
As palavras são certeiras...
Um MUSEU, o que é e como se vê.
«Para a maioria das pessoas, o que é efectivamente um museu?
Naturalmente a resposta tornar-se-á demasiado simples: um lugar onde permanentemente estão expostas determinadas peças de arte de variada natureza e de variadas origens, com a finalidade de serem vistas por alguns interessados pelas coisas da Arte, por simples curiosos ou por apressados turistas vindos de longe.
Claro que um museu é muito mais do que isso: em si mesmo constitui um complexo exigente de uma aprofundada análise pois são numerosas as implicações que provoca, desde as diversas técnicas postas ao seu serviço até aos aspectos sociais e pedagógicos de que se reveste.
Quem «vê» museus e «como os vê», isto é, que pessoas os visitam e que ensinamentos se recolhem desses contactos.
Cortesia de bcultural
O que mais frequentemente vemos, para além de um ou outro grupo escolar, é o turista, o que vem de fora, de máquina a tiracolo, mais cheio de curiosidade de «ver» do que «saber» que, em trânsito apressado passa os olhos sobre as peças expostas, recolhe fotografias ou postais (se os houver…) e segue o seu caminho… Não é este, naturalmente, o visitante correcto dos museus, porque apenas olha, porque não sabe «ver».
Na realidade, um museu não é para se olhar, nem propriamente para se «ver»; é sim, para se «ler», só que nos resta saber quem é que estará efectivamente preparado para isso. Estudantes? Professores? Intelectuais? O Povo?
A resposta, aliás difícil de encontrar, coloca responsabilidades imediatas a alguém, pessoas ou instituições.
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Assim, julgamos que, antes de mais, é a escola, entendida num sentido genérico, isto é, todas as escolas e de qualquer especialização que sejam, que têm obrigação de ensinar a «ver-ler» os museus, porque neles todas elas encontram resposta à ciência que ministram. Bastará à escola-instituição comunitária e comunicativa saber encontrar o verdadeiro significado de tais outras instituições de comunicação que os museus efectivamente são.
Não será possível «ler» (entenda-se «interpretar») e apreender as múltiplas lições que num museu permanentemente se patenteiam e se renovam? Não será possível encontrar ali todas as artes, que não apenas as visuais, e todas as ciências, que não apenas as tecnológicas, a filosofia, a religião, a literatura, a história, a antropologia, enfim um mundo infinito e inesgotável de toda a técnica e de toda a força der espírito criador? Não é essa via pedagógica uma indesmentível possibilidade de imediata e intensa comunicação entre o artista-criador e o «leitor» das suas expressões e mensagens?
Cortesia de portalalentejano
Mas, de facto, saberá o aluno de uma qualquer escola, de conformidade com o seu nível intelectual e cultural, «ler» um quadro de Picasso ou um retábulo quinhentista de Nuno Gonçalves ou de Cristóvão de Figueiredo? Ou limitar-se-á tão singelamente a «ver» e a «criticar» em seu juízo primário o que lhe se lhe afigura ser bonito ou feio, perfeito ou omperfeito?
Tenho para mim, finalmente, que um museu é semelhante a uma biblioteca: as suas peças tal como os livros, não devem apenas ser «visitadas», mas verdadeiramente «lidas», interpretadas, sentidas e vividas.
Só assim um museu se tornará motivo de uma autêntica dinâmica de prática cultural». In Manuel Ináio Pestana, revista a Cidade.
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Cortesia de Manuel Inácio Pestana/JDACT