«Gabriel
Allon, restaurador de arte e espião, está prestes a enfrentar o maior desafio
da sua vida. Um alegado simpatizante da Al-Qaeda é morto em Londres, e no seu
computador são encontradas fotos que levam o serviço secreto israelense a
desconfiar de que a organização terrorista prepara um dos mais arrojados
atentados no coração do Vaticano. Allon avisa o seu velho amigo, monsenhor
Luigi Donati, secretário pessoal do papa, e parte para Roma a fim de ajudar na
segurança. O que nem ele nem Donati sabem é que o inimigo já se infiltrou no
Vaticano. Nas semanas seguintes, Allon travará mortífero duelo de astúcia
contra um dos homens mais perigosos do mundo, que o levará de uma galeria
londrina a uma ilha paradisíaca no
Caribe, a um isolado vale na Suíça e, por fim, de volta ao Vaticano. Allon
monta uma armadilha e espera não ser ele a presa. Com intriga intensa e
imprevisível, A Mensageira consolida a reputação de Daniel Silva.
Londres
Foi
Ali Massoudi quem, involuntariamente, arrancou Gabriel Allon do seu apartamento
breve e inquieto: Massoudi, o grande intelectual e livre-pensador eurófilo que,
num momento de pânico, se esqueceu de que os ingleses dirigem do lado esquerdo
da estrada. O cenário de sua morte foi um fim de tarde chuvoso de Outubro, em
Bloomsbury. A data, a sessão final do primeiro Fórum Político anual para a Paz
e Segurança na Palestina, Iraque e Países Vizinhos. A conferência tivera início
nessa manhã bem cedo, por entre votos de esperança e grande fanfarra. Ao fim do
dia, contudo, assumira a qualidade de uma peça medíocre em digressão. Até mesmo
os manifestantes que ali tinham comparecido, na esperança de partilhar um pouco
da luz da ribalta, pareciam ter consciência de que representavam um guião já
muito batido. O presidente americano foi queimado em efígie às dez. O primeiro-ministro israelense foi lançado às
chamas purificadoras às onze. Por volta da hora de almoço, sob um dilúvio que
por momentos transformou Russell Square num lago, tivera lugar uma qualquer
tolice relacionada com os direitos das mulheres na Arábia Saudita. Às oito e
meia, quando o painel final foi dado por encerrado, as duas dúzias de estoicos
que tinham permanecido até o fim arrastaram-se para as saídas. Os organizadores
do acontecimento detectaram pouco apetite para uma repetição do encontro, no
Outono seguinte.
Um
aderecista adiantou-se e removeu do púlpito um cartaz que dizia: Gaza foi
libertada e agora? O primeiro congressista a levantar-se foi Sayyid, da London
School of Economics, defensor dos homens-bomba suicidas e apologista da
Al-Qaeda. Em seguida, o austero camareiro-mor de Cambridge, que falava da
Palestina e dos judeus como se estes ainda fossem uma pedra no sapato dos
elementos sisudos do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Ao longo de toda a
discussão, o idoso camareiro servira de Muro de Separação entre o inflamável
Sayyid e uma pobre alma da embaixada
israelita, chamada Rachel, que suscitara apupos e vaias de desaprovação sempre
que abrira a boca. O camareiro procurava agora servir de soldado da paz, com
Sayyid a perseguir Rachel até a porta, lançando-lhe invectivas em que lhe dizia
que os dias de colonizadora chegavam ao fim.
Ali
Massoudi, professor de Administração Global e de Teoria Social da Universidade
de Bremen, foi o último a levantar-se. Tal não seria de surpreender, poderiam
ter dito os colegas invejosos, pois no mundo incestuoso dos estudos sobre o Médio
Oriente, Massoudi tinha a reputação de ser alguém que nunca abandonava de bom
grado um palco. Palestino de nascimento, jordano de passaporte e europeu de
formação e estudos, o professor Massoudi surgia ao mundo como um homem
moderado. O futuro brilhante da Arábia, assim lhe chamavam. O rosto do
progresso. Era conhecido por desconfiar da religião em geral e do islamismo
militante em particular. Aproveitava todas as oportunidades, quer fosse em
editoriais de jornais, nas salas de aula ou na televisão, para se lamentar da
disfunção vivida pelo mundo árabe. Do
seu fracasso em educar o povo. Da tendência para culpar os Americanos e os
Sionistas pelas maleitas de que padecia». In Daniel Silva, A Mensageira, 2006,
Bertrand Editora, 2007, ISBN 978-972-251-544-3.
Cortesia
de BEditora/JDACT