sábado, 6 de janeiro de 2024

Os Abutres do Vaticano. Eric Frattini. «Rapidamente, a máquina do Vaticano pôs-se em movimento para contrariar o golpe desferido à imagem da Santa Sé pelo canal de televisão. O padre Federico Lombardi expressou a sua amargura pela difusão…»

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Os Abutres do Vaticano

Paolo Gabriele. Anjo ou Demónio

«Santidade. Já são horas, dizia Paolo Gabriele todas as manhãs, às seis e meia, para acordar o Sumo Pontífice. Assistia-o de seguida na missa das sete, servia-lhe o pequeno-almoço às oito, o almoço à uma e meia e o jantar às sete e meia. Ao cair da noite, acompanhava Bento XVI no seu passeio diário pelos jardins do Vaticano, escolhia a menta perfumada para a infusão papal, dava-lhe os medicamentos receitados pelo médico do Vaticano e, por volta das nove da noite, ajudava-o a despir-se e a deitar-se.

Boa noite, Paoletto, dizia o Sumo Pontífice.

Boa noite, Santidade, respondia o fiel mordomo.

Foi este o dia-a-dia do mordomo papal, durante trezentos e sessenta e cinco dias por ano, até quarta-feira 23 de Maio de 2012. Nesse dia, oito agentes da Gendarmaria do Vaticano, sob ordens do seu comandante em chefe, Domenico Giani, entraram num apartamento da Via da Porta Angelica, no mesmo edifício onde residia a mãe de Emanuela Orlandi, a adolescente desaparecida em 1983. Giani tocou à campainha e esperaram. Pouco depois, a esposa de Paolo Gabriele abria a porta.

Senhora Gabriele, trazemos um mandato de detenção para o seu marido e um mandado de busca, anunciou Giani abrindo passagem aos guardas para o interior da residência do mordomo do papa.

Poucos minutos depois, o próprio Gabriele chegava ao apartamento, alertado pela mulher. O mordomo não teve tempo para dizet fosse o quc fosse. Dois guardas do Vaticano aproximaram-se dele, puxaram-lhe as mãos para trás das costas e algemaram no. Em seguida, foi transportado num veículo Fiat Brava preto com matrícula SCV para o quartel-general do corpo da Gendarmaria do Estado da Cidade do Vaticano, no Palácio do Tribunal, na Praça de Santa Marta. De que me acusam? De que me acusam?, repetia Gabriele, uma e outra vez, aos agentes que o tinham detido.

O início de tudo

Para ficar a conhecer os motivos que levaram à detenção de Paolo Gabriele, um romano de quarenta e dois anos, casado, com três filhos e que era um dos homens mais próximos do Sumo Pontífice, é necessário retroceder até quarta-feira 25 de Janeiro de 2012. Nessa noite, o canal de televisão privado La7 transmitiu no programa Gli Intoccabili, dirigido pelo jornalista Gianluigi Nuzzi, um especial sobre o Wikileaks do Vaticano». O jornalista apresentava à audiência a carta enviada por monsenhor Carlo Maria Viganò ao papa, na qual este denunciava a corrupção e a má gestão na Governação do Estado do Vaticano.

Rapidamente, a máquina do Vaticano pôs-se em movimento para contrariar o golpe desferido à imagem da Santa Sé pelo canal de televisão. O padre Federico Lombardi expressou a sua amargura pela difusão de documentos privados num comunicado, advertindo os dirigentes do canal La7 das possíveis acções legais por parte do Estado do Vaticano» In Eric Frattini, Os Abutres do Vaticano, 2012, Bertrand Editora, 2013, ISBN 978-972-252-598-5.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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