Cortesia da CMCampo Maior
O Castelo de Campo Maior, no Alentejo, localiza-se na povoação de Campo Maior, Freguesia de São João Baptista, Conselho de Campo Maior, Distrito de Portalegre. Erguido no alto do outeiro de Santa Vitória para defesa da raia alentejana, do alto de suas torres se divisam as vizinhas Badajoz e Elvas. Actualmente o monumento integra a Praça-forte de Campo Maior, depois da de Elvas, a mais importante fortificação do Distrito.
A vila foi conquistada por forças portuguesas entre 1295 e 1296. Só seria, entretanto, incorporada definitivamente aos domínios de D. Dinis em virtude do Tratado de Alcanises (1297). Para incrementar o seu povoamento e assegurar-lhe a defesa, o soberano concedeu-lhe Carta de Foral e determinou a reconstrução do seu castelo (1310). Diante do crescimento da povoação e da sua importância estratégica sobre a raia alentejana, D. João II ampliou-lhe as defesas, fazendo erguer uma nova cerca envolvente que inscrevia toda a vila dentro das muralhas. Esses trabalhos prosseguiam sob o reinado de D. Manuel I, quando foi figurada por Duarte de Armas no seu Livro das Fortalezas (c. 1509).
As ilustrações de Duarte D'Armas
Cortesia de objectivacm
Nos séculos XVII e XVIII, diante da modernização dos meios ofensivos, a defesa da vila foi remodelada com a introdução de linhas abaluartadas e construção de novas instalações militares, transformando a povoação medieval numa Praça-forte.
O conjunto medieval foi severamente danificado em 16 de Setembro de 1732. Por volta das três horas da madrugada, durante uma violenta tempestade, registrou-se a queda de um raio sobre a torre grande do castelo, utilizada como paiol de pólvora. À violenta explosão seguiu-se um enorme incêndio, que além das vítimas mortais, consumiu mais da metade das habitações da vila, arrasando não só o castelo como a cerca medieval.
No século XX o castelo foi classificado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 18 de Março de 1911. Na primeira metade da década de 1940 a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciou obras de consolidação e restauro do conjunto, caracterizadas por trabalhos de reconstrução. Uma segunda etapa de obras foi iniciada na segunda metade da década de 1960, estendendo-se até ao início da década de 1970, marcada por intervenções nas muralhas do castelo e na Capela de Nossa Senhora dos Aflitos. Uma terceira etapa teve lugar na década de 1980, passando o monumento para a afetação do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) a partir de 1996.
Erguido na cota de 299 metros acima do nível do mar, o castelo e a cerca medievais estão orientados para o território espanhol. As muralhas do castelo, ameadas, foram confeccionadas em alvenaria de pedra em fiadas, argamassas com cal, identificando-se alguns jorramentos e cunhais de silharia. O seu topo é percorrido em toda a volta por um adarve e eram reforçadas, originalmente, por seis torres de planta retangular, também ameadas, das quais restam hoje, apenas duas. Tanto as ameias das muralhas, quanto as das torres, apresentam terminação tronco-piramidal com arredondamento no topo. As torres apresentam, em seu interior, sala com teto abobadado ao nível do adarve; a torre a Norte ostenta uma janela em estilo renascentista.
A cerca da vila, a sul, apresenta planta no formato trapezoidal, reforçada com sete torreões: seis de planta retangular e uma octogonal, a nordeste, defendendo o portão de entrada. As muralhas apresentam-se rebaixadas, assim como as torres, permitindo o tiro à barbeta das canhoneiras. Apenas uma das torres, a sudoeste, junto a uma das portas falsas, apresenta ameias; no setor sudeste, destaca-se a Capela do Senhor dos Aflitos.
No contexto da Guerra da Restauração da independência portuguesa, diante da necessidade de modernização das suas defesas, a remodelação da sua fortificação foi projetada pelo Engenheiro-mór das fortificações do Alentejo, o francês Nicolau de Langres, que a transformou em uma verdadeira praça-forte (1644).
Posteriormente, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1713), resistiu invicta a um cerco de trinta e seis dias imposto por tropas espanholas sob o comando do marquês de Bay (1712). Na ocasião o fogo da artilharia sitiante causou-lhe severos danos, tendo aberto uma brecha no baluarte de São João, onde uma heróica resistência conteve o inimigo. Poucos anos mais tarde, em 1732, foi palco de uma nova tragédia quando a queda de um raio sobre a antiga torre de Menagem do castelo, utilizada como paiol de pólvora, causou a explosão da munição ali estocada, iniciando um violento incêndio e consequente morte e ferimentos a cerca de mil e trezentos moradores, arrasando a estrutura e consumindo mais da metade das casas da vila.
A praça foi restaurada, ainda sob o reinado de D. João V, com as obras a cargo do engenheiro militar Manuel de Azevedo Fortes, que transformou o conjunto em ruínas numa fortaleza de menores dimensões, mas de maior operacionalidade.
Quando da Guerra Peninsular, a praça caiu com honras militares após dezoito dias de cerco espanhol durante a chamada Guerra das Laranjas (1801). Um novo cerco (treze dias) culminou em nova capitulação com honras militares, agora diante das tropas de Napoleão (1811), para ser retomada quatro dias mais tarde por tropas luso-inglesas sob o comando de William Carr Beresford.
Um texto da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos:
«A representação mais antiga que se conhece do castelo e da vila de Campo Maior é do início do séc. XVI da autoria de Duarte d’Armas, que o retratou ao serviço de D. Manuel I, cerca de 1509. Aqui é possível identificar pelo menos três períodos construtivos: o mais antigo corresponde ao período dionisino (XIII-XIV) que se caracteriza pela Torre de Menagem sobrelevada, pela presença de matacães nesta torre, nas terminações das ameias primitivas em prisma triangular. Corresponde ainda à campanha de obras promovidas por D. Dinis, cerca de 1310, a edificação da cerca da vila com duas portas e torres unidas por tramos de muralha. As barbacãs que são visíveis nos desenhos de Duarte d’Armas deverão corresponder certamente aos períodos Fernandino e Joanino, já no séc. XIV. Já correspondentes ao séc. XV serão as ameias de corpo largo presentes nas barbacãs e na cerca urbana. Não são visíveis nestes desenhos qualquer adaptação à nova artilharia pirobalística.
Nos desenhos de Duarte d’Armas, destaca-se no castelo, a torre de menagem ameada com os seus matacães. O povoado antigo desenvolve-se para Norte e Nordeste e está protegido, por uma linha de muralha que constitui a cerca urbana. Já no século XVI é possível visualizar os arrabaldes extra-muros que se desenvolvem também para Norte e Nordeste.
De notar que o autor representa ainda duas atalaias uma orientada para Olivença e outra para Elvas, representando também os castelos de Elvas e Badajoz, claramente simbólicas. O castelo medieval possuía mais cinco torres além da de Menagem, todas elas de planta quadrangular, das quais subsistem hoje duas. As torres da cerca (sete) representadas nos desenhos são também de planta quadrangular, com excepção da torre a Nordeste, de planta octogonal.A porta da vila está a Sudeste e a porta falsa ou da traição a Noroeste. Existia ainda na barbacã, uma porta de acesso à vila intramuros, orientada a nascente, e ainda duas portas desde a barbacã para o castelo propriamente dito sendo uma no tramo de muralha situada junto à torre do cunhal Oeste e a outra no troço de muralha a nordeste da Torre de Menagem.
Será ainda do século XVI, mas não representada por Duarte d’Armas, portanto posterior a 1509, a edificação de um torreão facetado ou cubelo artilheiro construído na entrada Nascente da cerca da vila. Esta estrutura foi posteriormente entulhada e transformada em orelhão da porta.
No séc. XVII, este castelo de feição medieval conhece profundas transformações com o objectivo de o adaptar aos novos conceitos de arquitectura militar e da nova forma de fazer a guerra. Com o inicio da Guerra da Restauração, em 1641, o reforço da “Penetrante do Caia” é necessário e essencial, sendo os esforços de fortificação orientados para Elvas e Olivença. A posse de Campo Maior, embora sendo uma fortificação com uma posição estratégica e de apoio a esta penetrante não era tão importante. Daí que apenas em 1647 se tenham iniciado os trabalhos de fortificação moderna de Campo Maior, que até à data possui apenas uma fortificação passageira. São conhecidos quatro projectos para a nova fortaleza, da autoria de Roseti, Lassart, Cosmander e Nicolau de Langres. Será deste último o projecto adoptado com algumas pequenas modificações, relacionadas sobretudo com a extensão da obra. As principais alterações ao projecto de Nicolau de Langres são a substituição de uma obra corna de braços compridos, que se estendia para Nordeste da vila, por uma pequena fortificação, o forte de S. João Baptista desaparecido entre 1797 e 1801. A porta principal é deslocalizada com relação ao projecto original e o meio baluarte de S. Sebastião estava projectado como sendo um baluarte. A planta final apresenta a forma de um polígono irregular de 10 lados, com ângulos de flanco de 90 graus. As principais estruturas abaluartadas, embora
sob grande pressão urbanística, ainda são identificáveis na sua maioria. Junto ao castelo medieval, a oeste e sudoeste, podemos identificar os meios baluartes do Curral dos Coelhos e de Lisboa. Na cortina entre os meios baluartes de Lisboa e de S. Sebastião abre-se a Porta da Vila, protegida por um revelim. A Sul da vila o meio baluarte de S. Sebastião e a cortina que se estende até ao baluarte da Boa Vista. Ainda perceptível a cortina que para norte se estende desde o baluarte da Boa Vista até ao meio baluarte de St.ª Rosa que apresenta ainda orelhão e uma poterna ou porta falsa. As estruturas que desde este meio baluarte de St.ª Rosa circundavam a vila por Leste até ao baluarte do Cavaleiro situado a Norte do perímetro, foram ou demolidas ou absorvidas pela mancha urbana que tornou quase irreconhecível o traçado Leste da fortificação. A Norte, o baluarte do Cavaleiro permanece ainda bem visível assim como a cortina que o une ao baluarte de St.ª Cruz, este apresenta várias construções, na sua maioria completamente arruinadas. Desde o baluarte de St.ª Cruz estende-se a cortina que unida ao meio baluarte do Curral dos Coelhos encerra o perímetro.
Nicolau de Langres projectou ainda um enorme fosso que circundava a magistral (com cerca de três km de extensão) e que aproveitava as águas das ribeiras existentes nas imediações de Campo Maior. Com este fosso aquático, único em todas as fortificações da raia portuguesa, o objectivo seria criar uma barreira para dificultar o acesso à crista da contra escarpa onde os mosqueteiros assumiam a primeira fase do combate defensivo. Altamente inovador para a tradição de fortificar em Portugal, este fosso foi abandonado em 1801 talvez devido à pouca experiência com manobras de água, passando a ser um fosso seco. É possível ainda, fazer a reconstrução hoje do mesmo, bem como a contra-escarpa da Praça Forte de Campo Maior.
Enormes dificuldades se depararam a este projecto, sendo a maior a necessidade de envolver o núcleo urbano com o reparo em terra bem como o enorme volume de material a aplicar na camisa de pedra (xisto) necessário para cobrir o referido reparo. Houve que demolir casario na envolvente para realizar a obra de fortificação.
Em 1732 a explosão do paiol provocou imensos danos na fortaleza de Campo Maior. A planta de 1742 apresenta um castelo e cerca urbana medieval já reconstruídos. Serão desta época as duas cisternas e ainda o meio baluarte de Santa Rosa (concluído em 1738). Desaparece ainda um revelim pequeno a Oeste e o chamado Forte de Caxinho sendo construídos o “Barrete de Schomberg Luneta” e a “Luneta de Mr. Parque” (Bucho, 202). É reconstruído o paiol encostado ao paramento exterior da muralha Oeste do castelo medieval e várias áreas de armazéns, junto ao castelo, que ainda hoje são visíveis. São também desta data a construção dos quartéis de infantaria que surgem adossados aos sectores Sul, Sudeste e Sudoeste do castelo. As obras de reconstrução, após a explosão terão sido dirigidas pelo Eng.º Manuel Azevedo Fortes. A Praça Forte terá mantido esta configuração durante todo o século XVIII, com alterações de nomes de edifícios. Esta configuração manteve-se também durante a Guerra Peninsular, já no século XIX.
Uma memória descritiva realizada após a Guerra Peninsular, dá-nos conta do estado de conservação da fortificação, apontando obras necessárias. Assim no início do século XIX, as fortificações de Campo Maior estariam bastante danificadas. Foram reconstruídos e reabilitados baluartes e meio-baluartes, ter-se-á adaptado a cerca medieval, não o castelo, com o rebaixamento das torres e das muralhas. Em 1819 foram projectadas novas fortificações para Campo Maior, que não chegaram a ser executadas.
A partir desta data, sensivelmente, a Praça Forte de Campo Maior «descobre» uma vocação urbana e os espaços da fortificação foram sendo aproveitados e utilizados para a vida quotidiana de uma povoação em expansão».
História de Portugal/wikipédia/objectivacm/JDACT
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