quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Maria Manuel Cid: A Poetisa da Chamusca. A Querida «Mimela» de voz terna e afável. Quando morrer rosas brancas para mim ninguém as corte, se não as tive na vida, para que as quero na morte?

Cortesia de antonioteles

Eu quisera lavar o pensamento
Sou feita de temor, e ansiedade
Em tudo vejo aquilo que não presta
Uma saudade atrás doutra saudade,
Porque a saudade é tudo o que me resta.

E quando me convenço que estou morta,
Ela me faz viver mais outro dia,
Corre no sangue ainda gota a gota
Para tornar maior esta agonia...

Como a água do mar leva as areias
Eu quisera lavar o pensamento,
Escorrer de mim o sangue destas veias
E vazia partir atrás do vento...
Maria Manuel Cid

Talvez que eu parta chorando
Da terra que me criou,
Ou então de quando em quando
Minh'alma volte cantando
Na voz de quem me cantou...

Em vez de chorar eu canto
Esta voz amargurada,
Nascida dentro de mim,
Embora não seja nada,
É tristeza repassada
Duma amargura ruim...

Mata o desprezo qu’a vida
Nos faz sentir por alguém,
Torna a saudade esquecida,
Dando à alma já perdida,
A crença que lhe faz bem...

E quando a alma pergunta
Se o meu cantar é condão,
Eu digo qu’a gente canta
Porque nos saem p'la garganta
As mágoas do coração...

Por isso é triste o meu fado,
Por isso lhe quero tanto...
E porque sou desgraçado,
Ao sentir-me amargurado,
Em vez de chorar... eu canto...
Maria Manuel Cid

Cortesia de mariamanuelcid

Cortesia de Poemas, Obra Completa de Maria Manuel Cid, Autoria de Maria Manuel Cid, MG Editores, Edição de Maio de 1999, ISBN 972-8471-19-X.

Obra adquirida em 1 de Junho de 2000.

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