segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Irena Sendler: A Heroína «Jolanta». A Mãe das crianças do Holocausto, «A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade»

(1910-2008)
Varsóvia, Polónia
Cortesia de wikipédia

Irena Sendler, também conhecida como «O Anjo do Gueto de Varsóvia», foi uma activista dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuido para salvar mais de 2.500 vidas ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida.

A Mãe das crianças do Holocausto
«A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade». In Irena Sendler 
Quando a Alemanha Nazi invadiu o país em 1939, Irena era enfermeira no departamento de bem estar social de Varsóvia, que organizava os espaços de refeição comunitários da cidade. Ali trabalhou incansavelmente para aliviar o sofrimento de milhares de pessoas, tanto judias como católicas. Graças a ela, esses locais não só proporcionavam comida para órfãos, anciãos e pobres como lhes entregavam roupas, medicamentos e dinheiro.

Cortesia de wikipédia
Em 1942, os nazis criaram um gueto em Varsóvia, e Irena, horrorizada pelas condições em que ali se sobrevivia, uniu-se ao Conselho para a Ajuda aos Judeus, Zegota. Ela mesma contou: «Consegui, para mim e minha companheira Irena Schultz, identificações do gabinete sanitário, entre cujas tarefas estava a luta contra as doenças contagiosas. Mais tarde tive êxito ao conseguir passes para outras colaboradoras. Como os alemães invasores tinham medo de que ocorresse uma epidemia de tifo, permitiam que os polacos controlassem o recinto».

Quando Irena caminhava pelas ruas do gueto, levava uma braçadeira com a estrela de David, como sinal de solidariedade e para não chamar a atenção sobre si própria. Pôs-se rapidamente em contacto com famílias, a quem propôs levar os seus filhos para fora do gueto, mas não lhes podia dar garantias de êxito. Eram momentos extremamente difíceis: 
«Podes prometer-me que o meu filho viverá?». Disse Irena, «Que podia prometer, quando nem sequer sabia se conseguiriam sair do gueto?»
A única certeza era a de que as crianças morreriam se permanecessem lá. Muitas mães e avós eram reticentes na entrega das crianças, algo absolutamente compreensível, mas que viria a  tornar-se fatal para elas. Algumas vezes, quando Irena ou as suas companheiras voltavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de opinião, verificavam que todos tinham sido levados para os campos da morte.

Cortesia de  respuestaequivocada
Ao longo de um ano e meio, até à evacuação do gueto no Verão de 1942, conseguiu resgatar mais de 2.500 crianças por várias vias:
  • começou a recolhê-las em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo se valia de todo o tipo de subterfúgios que servissem para os esconder;
  • sacos;
  • cestos de lixo;
  • caixas de ferramentas;
  • carregamentos de mercadorias;
  • sacas de batatas;
  • caixões... nas suas mãos qualquer elemento transformava-se numa via de fuga.
Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos de paz e por isso não fica satisfeita só por manter com vida as crianças. Queria que um dia pudessem recuperar os seus verdadeiros nomes, a sua identidade, as suas histórias pessoais e as suas famílias. Concebeu então um arquivo no qual registava os nomes e dados das crianças e as suas novas identidades.

Cortesia de galeriacores
Os nazis souberam das suas actividades e em 20 de Outubro de 1943, Irena Sendler foi presa pela maldita Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: «Jesus, em Vós confio», e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.

Irena, a única que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou-se a trair seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Foi condenada à morte. Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um «interrogatório adicional». Ao sair, gritou-lhe em polaco «Corra!». No dia seguinte, Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados. Os membros da Zegota tinham conseguido deter a execução de Irena subornando os alemães, e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.

Árvore plantada no Yad Vashem em homenagem a Irena Sendler
Cortesia de wikipédia

Em 1944, durante o Levantamento de Varsóvia, colocou as suas listas em 2 frascos de vidro e enterrou-os no jardim de uma vizinha para se assegurar de que chegariam às mãos indicadas se ela morresse. Ao acabar a guerra, Irena desenterrou-os e entregou as notas ao doutor Adolfo Berman, o primeiro presidente do comité de salvação dos judeus sobreviventes. Lamentavelmente, a maior parte das famílias das crianças tinha sido morta nos campos de extermínio nazis.
De início, as crianças que não tinham família adoptiva foram cuidadas em diferentes orfanatos e, pouco a pouco, foram enviadas para a Palestina.


Cortesia de yadvashem e itsawonderfulmovi

As crianças só conheciam Irena pelo seu nome de código «Jolanta».
Mas anos depois, quando a sua fotografia saiu num jornal, após ter sido premiada pelas acções humanitárias durante a guerra, um homem telefonou-lhe e disse-lhe:
  • «Lembro-me da sua cara. Foi a senhora que me tirou do gueto»
E assim começou a receber muitas chamadas e reconhecimentos públicos.
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.

Em Novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwaśniewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por Elżbieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que recordava como «a menina da colher de prata».

Funeral de Irena Sendler
Cortesia de wikipédia

Proposta para o Nobel da Paz
Irena Sendler foi apresentada como candidata para o prémio Nobel da Paz pelo Governo da Polónia. Esta iniciativa pertenceu ao presidente Lech Kaczyński e contou com o apoio oficial do Estado de Israel através do primeiro-ministro Ehud Olmert, e da Organização de Sobreviventes do Holocausto residentes em Israel. As autoridades de Oświęcim (Auschwitz) expressaram o seu apoio a esta candidatura, já que consideraram que Irena Sendler era uma dos últimos heróis vivos da sua geração, e que tinha demonstrado uma força, uma convicção e um valor extraordinários frente a um mal de uma natureza extraordinária.
O prémio desse ano, no entanto, foi dado a Al Gore pela sua defesa do meio-ambiente.

Cortesia de seir10wapo
Cortesia de smh

Com a amizade de RR.
Cortesia de wikipédia/auschwitzdk/Jornal Público/JDACT