segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Leituras. Parte VI: Este Ofício de Poeta. «A poesia é essencialmente a experiência de leitura. A poesia é (sempre) uma experiência nova. De cada vez que leio um poema, sucede a experiência. E isso é poesia. São símbolos para memórias partilhadas

Cortesia de rankopedia

Este Ofício de Poeta
This Craft of Verse
Autor: Jorge Luís Borges
(Argentina)
Editora: Teorema
Género: Ensaio
Ano de Publicação da Edição Corrente: 2002
Páginas: 165
ISBN: 972-695-483-5

Com a devida vénia ao CITADOR
Opinião:
«Este livro é um conjunto de textos/ lições que Jorge Luis Borges proferiu numa universidade, na década de 60. São realmente lições sobre poesia, acompanhadas de versos exemplificativos, e expostas de uma forma muito acessível. Quase no início, adverte ele: «tenho apenas as minhas perplexidades para vos oferecer. Aproximo-me dos setenta anos. Dediquei a maior parte da minha vida à literatura e só dúvidas posso oferecer-vos».
Borges considera que a poesia é essencialmente a experiência de leitura, ou melhor, a experiência desse momento de encontro entre autor-palavra poética-leitor; é nessa interacção que reside a poesia: «A poesia é uma experiência nova a cada vez. De cada vez que leio um poema, sucede a experiência. E isso é poesia». A poesia existe por trás das palavras, que «são símbolos para memórias partilhadas».


Cortesia de mediabooks 
 Borges fala de si como escritor, afirmando que, quando escreve, esquece as suas circunstâncias, ou tenta esquecer, sendo mais fiel ao sonho que pretende transmitir (e daí surge a ideia da universalidade da poesia, que assim ultrapassa circunstâncias espácio-temporais). Mas essencialmente fala de si como leitor, considerando que este (o leitor) procura «a beleza, não as circunstâncias da beleza», que «o significado não é importante – o que é importante é uma certa música, uma certa maneira de dizer as coisas», uma maneira capaz de despertar a emoção e/ou a imaginação do leitor (sentimos a beleza de um poema antes de começarmos sequer a pensar no significado).

Distingue naturalmente a palavra poética da palavra usada quotidianamente «a ideia de que as palavras começam por magia e de que a poesia as devolve à magia é, ao que penso, verdadeira» e traça o percurso da palavra, que terá surgido oralmente e, de algum modo, com uma função mágica; depois ter-se-á convertido em expressão abstracta; será a poesia que busca reencontrar na palavra uma forma mágica (seja pela metáfora, seja pelo poder sugestivo do significante,…). Remete-nos, assim, para uma citação de Walter Pater, segundo a qual toda a arte aspiraria à condição de música, por ser esta a única arte em que «forma e substância não podem ser separadas».
Utilizador, Maria Manuel Rocha

Cortesia de O Citador/JDACT