(1860-1934)
Coimbra
Cortesia de bmCMCoimbra
Manuel da Silva Gaio era filho de António da Silva Gaio, lente da Faculdade de Medicina e autor do romance histórico Mário: episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834.
Dedica-se, inicialmente ao jornalismo, colaborando no Novidades de Emídio Navarro e no Repórter, através de breves estudos ou notas sobre exposições de artes plásticas e sobre livros, «cristalizações de ideias e impressões sobre literatura e arte» como as que recolherá no volume Um ano de Crónica, publicado em 1889, em que se começa a conformar a sua intervenção cultural, e a sobressair a faceta de crítico. Convidado por Eça de Queiroz para secretariar a Revista de Portugal, aí actuará também enquanto colaborador e crítico, ao lado de Luís de Magalhães, como elemento da geração intervalar favorável à viragem para o novo ambiente ideológico e estético-literário que dominará o fim-de-século.
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De 1895 até ao findar do século conhece um período de oscilação literária, coincidente com a participação em iniciativas de índole cosmopolita e esteticista, como a Revista Arte, que dirige com Eugénio de Castro. Ainda de acordo com Seabra Pereira, pertencem a esta fase o drama histórico Na volta da Índia, exemplo notável de lusitanismo, pela reconstituição da linguagem quinhentista, e também O Mundo Vive de Ilusão e As Três Ironias, duas obras em que se nota o aflorar de alguns aspectos decadentistas ou simbolistas.
Em 1900, com a publicação de Mondego, vemo-lo já apóstolo assumido do neo-romantismo lusitanista. Lemano, em que talvez se encarne o próprio Silva Gaio, personifica o poeta desenraizado, salvo pelo regresso à terra natal, e por isso em condições de guiar os zagais mondeguinos, de testemunhar que a salvação está em ouvir o Mondego ..., em ir beber às fontes nacionais da inspiração, numa antecipação clara da poesia dos «velhos temas» de António Sardinha e Afonso Lopes Vieira.
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Poeta, jornalista e ensaísta colhe o misticismo de Junqueiro ou de Antero, preferindo o verso inflamado e as estruturas de rasgo épico na abordagem de temáticas religiosas, míticas ou de cunho histórico-nacional.
No contexto intelectual, Campos de Figueiredo tentou encontrar a explicação para a escassa aceitação da obra de Manuel da Silva Gaio.
De qualquer modo, contrastando com o alheamento do vasto público, é considerável o seu prestígio em círculos restritos da vida literária e cultural, que exaltam o seu papel de precursor.
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Bibliografia:
- Primeiras Rimas, Porto, 1887;
- Canções do Mondego, Coimbra, 1892;
- O Mundo Vive de Ilusão, Coimbra, 1896;
- As Três Ironias, Coimbra, 1897;
- Mondego, Coimbra, 1900;
- ( ... )
- Da Poesia na Educação dos Gregos, Coimbra, 1917;
- Eça de Queirós, carta, Coimbra, 1919;
- De Roma e suas Conquistas, Lisboa, 1919;
- Pecado Antigo, Coimbra, 1893;
- A Dama de Ribadalva, contos, Lisboa, 1903;
- Últimos Crentes, novela, Lisboa, 1904;
- Torturados, romance, Porto, 1911.
Na arte dramática:
- poema dramático, O Mundo Vive de Ilusão,
- drama histórico, Na Volta da Índia,
- uma peça em um acto de cariz melodramático, A Encruzilhada.
E a admiração generalizada de que goza o autor nos círculos integralistas manifesta-se igualmente no entusiasmo com que Sardinha acolhe Da Poesia na Educação dos Gregos (1917), capítulo de um projectado livro sobre a Antiguidade Clássica. E na esteira da notável monografia consagrada a Moniz Barreto, Silva Gaio dedica-se a novos estudos críticos, publicando trabalhos sobre os Vencidos da Vida (1931), ou sobre o Bucolismo em Bernardim e Cristóvão Falcão (1932-33).
Cortesia da Biblioteca Municipal da CMCoimbra/JDACT