terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Manuel da Silva Gaio: Poeta, jornalista e ensaísta colhe o misticismo de Junqueiro ou de Antero, preferindo o verso inflamado e as estruturas de rasgo épico na abordagem de temáticas religiosas, míticas ou de cunho histórico-nacional

(1860-1934)
Coimbra
Cortesia de bmCMCoimbra 

Manuel da Silva Gaio era filho de António da Silva Gaio, lente da Faculdade de Medicina e autor do romance histórico Mário: episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834.

Dedica-se, inicialmente ao jornalismo, colaborando no Novidades de Emídio Navarro e no Repórter, através de breves estudos ou notas sobre exposições de artes plásticas e sobre livros, «cristalizações de ideias e impressões sobre literatura e arte» como as que recolherá no volume Um ano de Crónica, publicado em 1889, em que se começa a conformar a sua intervenção cultural, e a sobressair a faceta de crítico. Convidado por Eça de Queiroz para secretariar a Revista de Portugal, aí actuará também enquanto colaborador e crítico, ao lado de Luís de Magalhães, como elemento da geração intervalar favorável à viragem para o novo ambiente ideológico e estético-literário que dominará o fim-de-século.

Cortesia de bmCMCoimbra

De 1895 até ao findar do século conhece um período de oscilação literária, coincidente com a participação em iniciativas de índole cosmopolita e esteticista, como a Revista Arte, que dirige com Eugénio de Castro. Ainda de acordo com Seabra Pereira, pertencem a esta fase o drama histórico Na volta da Índia, exemplo notável de lusitanismo, pela reconstituição da linguagem quinhentista, e também O Mundo Vive de Ilusão e As Três Ironias, duas obras em que se nota o aflorar de alguns aspectos decadentistas ou simbolistas.

Em 1900, com a publicação de Mondego, vemo-lo já apóstolo assumido do neo-romantismo lusitanista. Lemano, em que talvez se encarne o próprio Silva Gaio, personifica o poeta desenraizado, salvo pelo regresso à terra natal, e por isso em condições de guiar os zagais mondeguinos, de testemunhar que a salvação está em ouvir o Mondego ..., em ir beber às fontes nacionais da inspiração, numa antecipação clara da poesia dos «velhos temas» de António Sardinha e Afonso Lopes Vieira.

Cortesia de bmCMCoimbra

Poeta,  jornalista e ensaísta colhe o misticismo de Junqueiro ou de Antero, preferindo o verso inflamado e as estruturas de rasgo épico na abordagem de temáticas religiosas, míticas ou de cunho histórico-nacional.
No contexto intelectual, Campos de Figueiredo tentou encontrar a explicação para a escassa aceitação da obra de Manuel da Silva Gaio.
De qualquer modo, contrastando com o alheamento do vasto público, é considerável o seu prestígio em círculos restritos da vida literária e cultural, que exaltam o seu papel de precursor.

Cortesia de bmCMCoimbra

Bibliografia:
  • Primeiras Rimas, Porto, 1887;
  • Canções do Mondego, Coimbra, 1892;
  • O Mundo Vive de Ilusão, Coimbra, 1896;
  • As Três Ironias, Coimbra, 1897;
  • Mondego, Coimbra, 1900;
  • ( ... )
  • Da Poesia na Educação dos Gregos, Coimbra, 1917;
  • Eça de Queirós, carta, Coimbra, 1919;
  • De Roma e suas Conquistas, Lisboa, 1919;
  • Pecado Antigo, Coimbra, 1893;
  • A Dama de Ribadalva, contos, Lisboa, 1903;
  • Últimos Crentes, novela, Lisboa, 1904;
  • Torturados, romance, Porto, 1911.
Na arte dramática:
  • poema dramático, O Mundo Vive de Ilusão
  • drama histórico, Na Volta da Índia,
  • uma peça em um acto de cariz melodramático, A Encruzilhada.
E a admiração generalizada de que goza o autor nos círculos integralistas manifesta-se igualmente no entusiasmo com que Sardinha acolhe Da Poesia na Educação dos Gregos (1917), capítulo de um projectado livro sobre a Antiguidade Clássica. E na esteira da notável monografia consagrada a Moniz Barreto, Silva Gaio dedica-se a novos estudos críticos, publicando trabalhos sobre os Vencidos da Vida (1931), ou sobre o Bucolismo em Bernardim e Cristóvão Falcão (1932-33).

Cortesia da Biblioteca Municipal da CMCoimbra/JDACT