sábado, 25 de dezembro de 2010

Jorge de Sena: «Levam justiça consigo as palavras que dissermos. Por quanto sentido antigo, nelas ficou por castigo o futuro que tivermos»

Cortesia de absorto


Hoje devo recordar:
JLT, MLAC, ATJ, ST, AL, LC, FJB, FJSM, FMJ, SP, MR, RT, MIL, JP, MN, ALT, JMA, LC, JL, JT, AV, JL, AL, MAT, AR, LVC, AH, JS, JS, GO, FM, MLR, CM, CC, MC, AC, ACM, EGS, EMA, FS, MA ... de entre outros.
Exactidão
Levam as frases sentido
que uma cadência lhes dá:
sentido do não-vivido
a que fica reduzido
o que, escolhido, não há.

Do imo do poder ser,
onde o não-sido se arrasta,
ouvi cadências crescer:
vaga música de ter,
na vida, quanto não basta -

quanto um sentido se entenda,
que nem verdade ou mentira.
(Que o que dele se aprenda
é como cobarde venda
para que a luz nos não fira.

Luz sem luz, brilho da treva
que tudo no fundo é;
e a certeza que se eleva
do fundo da própria treva,
de exacta que seja, é.)

Levam justiça consigo
as palavras que dissermos.
Por quanto sentido antigo,
nelas ficou por castigo
o futuro que tivermos.

Levam as frases sentido
que uma cadência lhes dá.
É justo, injusto - o escolhido?
Como quereis que, vivido,
ele não seja o que será?
Jorge de Sena


JDACT 

Desencontro
Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.

E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,

de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena

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