segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tebosa: Nossa Terra, Minha Aldeia. O étimo relaciona-se com o latim «tabula» indiciando possivelmente uma ponte de madeira. No entanto, já pelo último quartel do séc. XI (muito concretamente, em 1081) se documentava a «vila Tebolosa»

Cortesia de Miguel Louro

Tebosa, Nossa Terra, Minha Aldeia
Origens
O topónimo de Tebosa, cujas formas do séc. XIII eram ora Tavoosa, a mais antiga e denunciante do étimo, ora Tevoosa, demonstrando a oscilação que foi nesta época que se passou para a forma actual (com quanto ainda posteriormente ocorra a mais antiga), é um índice indubitável do seu povoamento anterior ao séc. XII. O étimo relaciona-se com o latim «tabula» indiciando possivelmente uma ponte de madeira. No entanto, já pelo último quartel do séc. XI (muito concretamente, em 1081) se documentava a «vila Tebolosa», grafia que parece não abonar muito aquela opinião. Já instituída como paróquia, sob o orago de S. Salvador, pelo menos nos inícios do século XIII, achava-se integrada, por 1220, na vasta «terra» e julgado de Penafiel de Bastuço.

A paróquia de S. Salvador de Tebosa já estava instituída do séc. XII para o séc. XIII. Consta a existência em Tebosa de um mosteiro muito antigo, da regra beneditina, mas as inquirições de 1220 (Inquirições de D. Afonso II), pelo menos, não o citam, o que não surpreende dado que apenas trataram de averiguar quais os direitos reais em cada localidade. Esse mosteiro existiu efectivamente, pois que, se não se conhece o seu princípio, é bem sabido o seu fim, e provavelmente é mais antigo do que o de Lomar, como se deduz do título da notável e anónima meana (1): «meana de Salhariz e Tavoosa que foi feitura de Lomar e padroa de Tavoosa».

No séc. XV este mosteiro, como tantos outros, foi extinto pelo arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, e transformado em igreja secular. Em 1839, Tebosa pertencia, ao concelho e comarca de Barcelos e, em 1852, passa para o concelho de Braga.

Em 1859, segundo as actas do livro da Junta de Freguesia de Tebosa de 1848-1879, houve uma ameaça de extinção da Freguesia: «com o fim de deliberarem se esta paróquia do Salvador de Tebosa... devia ficar subsistindo, ou ser unida a outra, e deliberaram que devia ficar subsistindo sem que lhe tirasse ou aumentasse algum lugar, porque tinha igreja, lojas, residência suficiente e a comodidade assim o exigia. Para servir alguns lugares as freguesias de Priscos, Ruílhe e Arentim tinham além da grande distância de passar grandes montes e medonhas devesas, para os de S. Pedro de Oliveira, Sezures e Arnoso com quem confinam, tem além da grande distância de passar ribeiros e pontarros, que nem sempre dão passagem...».

Cortesia de Miguel Louro

Tebosa (O Salvador)
Documento histórico de 6 de Abril de 1758 extraído do Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso, Vol. 36 - fol. 25
«Muito Reverendo Senhor Doutor Provizor deste Arcebispado de Braga Primaz, me ordena responda aos interrogatórios contheudos em hum papel impresso que me foi enviado de Sua Magestade Fedellicima que Deos goarde, ao que satisfasso na forma seguinte:
  • l. Esta terra e freguezia está situada na provincia de Hentre Douro e Minho. Pertence ao Arcebispado de Braga, hé do termo da villa de Barcellos, freguezia do Salvador de Thaboza.
  • 2. Pertensse esta freguezia ao Diado da Santa Sé de Braga e toda a sua renda; e hé aprezentaçam do senhor reverendo Diam.
  • 3. Tem esta freguezia outenta e nove vezinhos: e pessoas maiores ou de cumunham duzentas e cincoenta e cinco; menores corenta e hum, que fazem duzentas e nuventa e seis pessoas.
  • 4. Está esta freguezia situada em hum valle plaino e delle se descobre a freguezia de Sam Mamede de Sezures e parte da freguezia de Santa Maria de Arnozo, que dista hum carto de legoa.
  • 5. Assima fica dito ser termo da villa de Barcellos e comarca de Vianna, foz do Lima.
  • 6. Está esta parochia situada quazi no meio dos lugares della que são treze e seus nomes são os seguintes: Asento, Quinta, Cadoi, Riba, Deveza, Cazais, Boussa, Passo, Vicainha, Laam, Thaboza, Arras, Baneiros.
  • 7. O seo orago hé o Salvador de Thaboza. Tem três altares: o maior e dous colaterais. O maior hé do Salvador; os collaterais, o da parte do Evangelho hé de nossa senhora do Rozário; o da parte da Epistola do Spirito Santo e, no dito altar, Sam Brás e Sam Sebastiam. Não tem mais do que huma nave. Tem duas irmandades, huma de Nossa Senhora do Rozário e outra do Spirito Santo.
  • 8. O parocho desta freguezia hé vigario ad nutum e sua aprezentaçam hé do muito reverendo Diam da sé Primaz deste Arcebispado. Rende ao vigario dela quarenta mil réis e o reverendo Diam duzentos e quarenta mil réis.
  • 9. Não tem beneficiados.
  • 10. Não há conventos.
  • 11. Não tem hospital.
  • 12. Não tem casa de mizericordia.
  • 13. Tem três hermidas, a saver: huma de Nossa Senhora do campo, a coal e festeja aos dous de Fevereiro com o thitullo da Purfficaçam: em o tal dia acode gente bastante das freguezias vezinhas; e tem confradia de irmãos. E os três de Fevereiro se festeja Sam Brás na Parochia, com concurso de gente em o tal dia, por cer muito milagrozo da garganta. E tem a irmida de santo António com hum altar do mesmo santo. E tem mais capella do spirito santo, irmandade e confradia dos clerigos, com cinco altares, dentro no lugar de Thaboza. A capella maior tem o spirito santo, E coatro colaterais, o da parte da Epistola tem sam Domingos pintado e o da parte do Evangelho tem Sam Caetano pintado; e da outra parte correspondente, outro altar de Sam Bento. E Pertencem todas estas três capellas a esta mesma freguezia do Salvador de Thaboza.
  • 14. Assima declaro as romagens e dia em que acodem concursso de gente a esta freguezia.
  • 15. Os fruitos desta terra são: senteio, milho miudo; e os de maior abundancia são milho mais, que hé milham e vinho verde; algumas castanhas e fruta pouca.
  • 16. Hé esta freguezia do termo da villa de Barcellos, comarca da villa de Vianna. Tem juíz de fora e ouvidor e por elles se rege e tem camera.
  • 17, 18 e 19. Nada.
  • 20. Esta terra se serve do correio da cidade da Braga, que para esta parte. Dista legoa e meia aonde chega.
  • 21. Dista esta freguezia a cidade capital do Arcebispado de Braga legoa e meia e a capital do reino de Lisboa secenta legoas.
  • 22, 23, 24, 25 e 26 Nada.
  • 27. Não se acha nesta terra couza alguma digna de memoria de que se fassa mençam neste interrogatorio. Enquanto aos interrogatorios da segunda parte do papel, digo: há hum monte pela parte Ocidente que parte com a freguezia de Sampaio de Roilhe com o nome de Monte. Tem carvalhos e alguns castinheiros e mato que serve para a cultura dos campos, no coal pastam gados como são bois, vacas e ovelhas. Há nelle alguma cassa como lebres, perdizes, coelhos e algumas rapozas. Este hé tam lemitado do comprimento e largura que não tem medida que se lhe possa dar. Em quanto aos interrogatorios da terceira parte não há rio algum de que se fassa mençam; só um ribeiro que comessa a nacer nesta mesma freguezia e sequa de Bram. E só os lavradores se aproveitam delle no Imberno para limar algum campo; e não tem nome senão o de ribeiro. Tem somente a freguezia hum moinho que não moi senão de Imberno, muito pouco. Não tem nome e corre para Ocidente, aonde bai morrer; e as poboasois por dounde passa, melhor o declararam os reverendos parochos que continuam pela sua corrente. E não sei haja nesta terra couza notavel de que aqui fassa menção, o que tudo vai na verdade como me consta. O Salvador de Thaboza, seis de Abril de mil settesentos e cincoenta e oito.
O vigario Manoel Ferras da Motta.
O vigario de São Pedro de Oliveira, Agostinho da Fonceca.
O vigario de Sezures, o padre Manoel Parente Ramos.

Cortesia de Miguel Louro

Factos Históricos
Em 960, Chámoa Rodrigues nomeou testamenteira a sua tia Mumadona com poder de dispor de Larim e das «Vilas Retorta Castro Nugaria Portella Teobolosa».

Tebosa existia, por conseguinte, no séc. IX, uma vez que tinha sido adquirida pelos avós de D. Chámoa.

Em 1220, a igreja paroquial de S. salvador possuía dois casais e suas «searas», além de outras «searas», na freguesia. O mosteiro de Lomar, não distava muito de Tebosa.
Vê-se que a dona, padroeira do mosteiro de Lomar, era também senhora dos lugares de Senhariz e Tebosa, pelo menos em boa parte, o que concorda com o facto de a grande parte da freguesia estar no séc. XIII em poder e posse de privilegiados - as «ordens» (mosteiros, igreja, hospital) sobreditas e fidalgos, sem dúvida, descendentes dessa «meana» e de seu marido, D. Aires «Carpinteiro».

NOTAS:1 - meana: minha dona, senhora.
2 - Dados extraídos dos livros: «o Bispo D. Pedro e a organização da Diocese de Braga, volumes I e II de Avelino Jesus Costa, Dicionário Enciclopédico e Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, volume XXX.

Continua.

Cortesia de Miguel Louro