sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Adérito Sedas Nunes: Pertence à geração que implantou definitivamente as Ciências Sociais na Universidade portuguesa, depois das tentativas mais ou menos amadoras do passado. Criou a revista «Análise Social»

(1928-1991)
Lisboa
Cortesia de fnac  
«Adérito Sedas Nunes pertence à geração que implantou definitivamente as ciências sociais na Universidade portuguesa, depois das tentativas mais ou menos amadoras e voluntaristas do passado. Nessa geração foi talvez a figura de maior relevo, pela capacidade que demonstrou para produzir investigação científica própria de qualidade, coordenar institucionalmente o trabalho de uma das raras Escolas da Universidade portuguesa e actuar ainda na luta política ao mais alto nível. Tudo isto tanto antes como depois de 1974.

Formou-se em Economia. Foi convidado para dirigir, em 1956, o Centro de Estudos do Ministério das Corporações, do qual se demite dois anos depois em ruptura com as politicas sociais do regime. De facto, a sua primeira obra, Situação e Problemas do Corporativismo (1954) apresenta logo de inicio uma clara critica das instituições do regime, que bem conhecia pois, ainda estudante, organizara na companhia de Maria de Lurdes Pintassilgo o I Congresso da Juventude Universitária Católica (em 1953). Empenhou-se na conversão do GEC em Gabinete de Investigações Sociais e na criação da revista Análise Social, a mais consolidada publicação do género em Portugal. 

Cortesia de wook
Será neste período e nestes moldes que desenvolverá a sua pesquisa sobre temas sociológicos, como a composição social da população de Portugal e o subsistema universitário, à época em enorme convulsões. Esta linha de trabalho prolonga uma pista já lançada por António Sérgio nos anos 20, mas nunca prosseguida. Sem ser «sergiano», Sedas Nunes participa através da JUC na campanha de Delgado, porventura o último momento de real influência de Sérgio e no qual perdera as ilusões quanto a eventuais reformas do regime pelo seu próprio esforço.
Ao dedicar-se a desenvolver as ciências sociais, banidas pelo Estado Novo sob a acusação genérica de «marxista», Sedas Nunes optou por uma especialização científica à qual o empenhamento cívico dos da geração de Sérgio nunca permitiu grandes progressos e, com isso, conseguiu fazer avançar as intuições do ensaísta com método mais sólido.

Cortesia de  educacaouol
A caracterização de Portugal como uma sociedade dualista, no fundo uma sociedade separada em duas sem verdadeira comunhão, e a extracção das efectivas consequências desse fenómenos na década de 1960 (o êxodo rural revelava-se um êxodo nacional, alimentado pela fuga à pobreza e à guerra colonial ao mesmo tempo), o economista feito sociólogo destacou-se da maioria dos seus pares e, mesmo para os exilados nesse período, o seu trabalho era importante, como o comprova a referência, em trabalho de 1970, de Hermínio Martins ao seu nome a pretexto deste tema, como sendo o mais importante disponível (Martins, formado já em Inglaterra também em Economia e encaminhando-se igualmente para a Sociologia, embora mais próximo de Sérgio apresenta também a sua própria visão destes processos; o texto de 1970, e outros, foram posteriormente publicado em Português em 1998, sob o título Classe, Status e Poder). Muito activo, esteve também ligado ao surgir da Universidade Católica e da Universidade Nova de Lisboa, onde encerra a sua actividade docente. A partir de 1982 dedica-se exclusivamente à investigação no Instituto de Ciências Sociais, que institucionalizara durante o seu breve período no governo de Pintassilgo, como ministro da Cultura e Ciência.


Cortesia de wook
Além desta carreira e actividade científica, e como que a demonstrar a estreiteza dos subsectores sociais da sociedade dual portuguesa, Sedas Nunes exerceu uma quantidade imensa de outros cargos. Foi membro de numerosos corpos académicos e professor visitante de várias universidades no Brasil, em Espanha, na Alemanha e nos EUA, entre outros países. Recebeu em vida e postumamente prémios e distinções públicas reveladoras da sua influência e prestígio.
Entre as suas obras mais relevantes, contam-se:
  • Princípios de Doutrina Social (1958, prefaciado pelo Bispo do Porto);
  • Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento (1968);
  • Questões Preliminares Sobre as Ciências Sociais (1972); 
  • História dos Factos e Doutrinas Sociais (1992);
  • Uma colectânea dos mais importantes artigos sobre a Universidade publicados na Análise Social na década de1960 surgiu na Imprensa do ICS, organizada por uma sua discípula, Maria Filomena Mónica.
Cortesia de CVC Instituto Camões/JDACT