sábado, 4 de dezembro de 2010

A Tese Henriquina: No Arquivo Histórico da Marinha existe um documento que reza: «Prouve a Nosso Senhor me dar certa (segura) informação e sabedoria daquelas partes, desde o dito cabo Não até passante toda a terra de Berbéria e Nubia. E assim mesmo terra da Guinea bem trezentas léguas»

Cortesia de  viladobispo-fotosantigas

A Tese Henriquina
«É pelos frutos que se conhece a árvore. É pelos resultados que se avalia a nobreza dum esforço». O esforço de D. Henrique, com raízes aprofundadas em nova concepção cosmográfica, não se limita às premissas laboriosamente montadas, até às linhas da Serra Leoa.
Essa é uma aparência que nem à vista desarmada resiste. No Arquivo Histórico da Marinha existe um documento que reza: «Prouve a Nosso Senhor me dar certa (segura) informação e sabedoria daquelas partes, desde o dito cabo Não até passante toda a terra de Berbéria e Nubia. E assim mesmo terra da Guinea bem trezentas léguas». (Documento Henriquino do Arq. da Marinha de 1458).

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Este diploma é um dos muitos cuja revelação vem derrubando ideias feitas e estereotipadas dos que se contentavam com as crónicas omissivas. O reexame da cartografia, embora escassa, confirma aquela revelação. O mapa de Fra Mauro (1459) como o planisfério genovês (1457) são bastante precisos no desenho do Golfo da Guiné.

Só poderiam ter esse conhecimento pelos únicos mareantes que frequentavam aquelas paragens - os de Sagres. Concomitantemente ficou demonstrado que Diogo de Teive, outro homem de Sagres, estivera na Terra Nova em 1452. Não se devem estas averiguações apenas a Damião Peres ou às deduções de Jaime Cortesão, mas também ao Portuguese voyages to America in the 15 th. century, de S. E. Morison (1940),e, recentissimamente, aos pesquisadores russos, Chumovsky e Tsukernik.
Conclui-se claramente que, barrada a passagem fluvial para leste da África Central (como o sugere Gomes Eanes), o Infante dera ordens para prosseguirem as tentativas rumo ao sul ou noutras direcções, sem excluir o norte e o noroeste.

Morto o Príncipe em 1460, quando o segundo período do périplo se desenrolava, a situação geográfica da Vila do Infante deixava lentamente do ser útil, depois de cumprida a sua missão pioneira. O espólio e o espírito de Sagres trasladou-se para Lisboa. El-Rei assumira a realização dos planos infantinos.

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D. Afonso V prevenira-se com a bula que seu tio alcançara da Santa Sé (Nicolau V, 1454), diploma que lhe conferia o direito de navegar «per hujusmodi oceanum maré, versus meridionales et orientales Plagas... usque ad Indos qui christi nomen colere dicuntur … et illos in christianorum auxilium adversus Sarracenos et alios hujusmodi fidei hostes commovere».
A dedução é patente: O Papa fora devidamente informado, por D. Henrique, dos seus desígnios:
  • Conhecia os planos do roteiro ou roteiros: «meridionales et orientales Plagas»;
  • Sabia que ninguém costumara navegar por aqueles lugares: «nunquam consuevisse … navigari»;
  • Declarava que aquele mar era desconhecido dos ocidentais: «nobis occiduis esset incognitum»;Jamais tivera segura notícia das gentes daquelas partes: nullam de partium illarum gentibus certam notitiam haberemus»;
  • Esperava que, por seu trabalho e indústria, atingiria os Indos, que se diz cultuarem o nome de Cristo, fossem eles os abissínios ou, mais seguramente, os cristãos indostânicos de S. Tomé. Esta última alternativa traz todos os indícios de ser a verdadeira e cabível: «ejus opera et industria … usque ad Indos qui christi nomen colere dicuntur»;
  • Aguardava que faria desses Indos aliados contra os Sarracenos e outros inimigos da Fé: «sirque cum illis participare et illos in christianorum auxilium adversus Sarracenos et alios fidei hostes commovere».
A clareza, deste documento (Alguns Documentos do Archivo Nac. da Torre do Tombo, 1892) confirma todas as nossas assertivas do Teorema do Infante e explica as consequências derivadas da sua Tese.

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  • Em 1462 completa-se o descobrimento do arquipélago de Cabo Verde, quando Diogo Afonso achou a ilha de S. Vicente;
  • Em 1469 D. Afonso V arrenda a Fernão Gomes, por cinco anos, o comércio da costa africana, com a condição de «descobrir» cem léguas de costa por ano;
  • Em 1470 Soeiro da Costa atingia o rio Soeiro;
  • Em l471 D. João II entra na liça da empresa que fora do seu tio-avô, cujo sentido plenamente assimilou. É vasculhado o Golfo da Guiné; são encontradas as ilhas de S. Tomé, a do Príncipe (o «Príncipe» era o mesmo D. João), a de Fernando Pó e a do Ano Bom. Os mareantes Lopo Gonçalves e Fernando Pó alcançaram os Camarões. Rui Sequeira chegou ao Cabo de Santa Catarina.
Os ciúmes de Castela, diante do prestígio e êxito dos portugueses, cria atritos, arma conflitos. O pretexto da pescaria (ainda hoje tão usado em circunstâncias parecidas…) foi o motivo para começar a interceptação das caravelas de Portugal, mesmo além do cabo Bojador. A coroa portuguesa cercara-se, como passim havemos dito, com a legitimação jurídica, desde Eugénio IV, 1442, o qual confirmara os direitos concedidos a D. Henrique (governador da Ordem de Cristo) por seu irmão D. Duarte e seu sobrinho D. Afonso V.
(…)

Com uma precisão matemática, seguindo o roteiro que, séculos corridos, as esquadras haveriam de seguir, alcançou finalmente as Índias, em 1498.
Em breve o Islão inteiro iria estremecer de Marrocos a Ormuz.

Hum Pacheco fortíssimo, & amp; os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terribil, Castro o forte
E outros em quem poder não teve a morte. (LUS I, 14)

O Teorema do Infante D. Henrique estava provado.

O silêncio de Zurara, cuja narrativa se finda por alturas da Guiné, deu azo à ignorância a duvidar das intenções do Príncipe. Mas lá veio Damião de Góis garantir dum modo explícito que o Navegador visava as Índias Orientais; disse-o, porque teve acesso aos arquivos ainda completos, que Zurara nunca poderia ter visto. O próprio D. Manuel, herdeiro do património sigiloso de Sagres, confirmou-o de modo integral, na carta-patente de almirante passada a Vasco da Gama, a 10 de Janeiro de 1502.

Cortesia de geopedrados
Contudo aquela intenção do Infante firmara opinião na mente e na voz do povo. Deste repositório a deve ter recolhido Gomes Eanes, para o capítulo XVI da Crónica dos Feitos de Guiné, neste passo: «não somente daquela terra desejava de haver sabedoria, mas... das Indias... se ser pudesse». A Tese ficou plenamente demonstrada». In Silva de Azevedo, Corolário de Sagres, Academia ou Escola Peripatética.

Cortesia de Dicionário Histórico/wikipédia/RTP/JDACT