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Foi mais forte o Vento de Oeste.
«Pelo sistema do tributo, visava-se manter sob a alçada chinesa os Estados asiáticos e, através deste sistema de controlo, exercer influência nos povos tributários, que assim se iam «elevando» até aos padrões civilizacionais chineses pela mão firme e magnânima do Filho do Céu.
Quando partiu para sudoeste, em 1405, em barcos com quatro vezes o tamanho dos do Gama, Zheng He ia em missão de suserania, firmar o prestígio chinês, fazer entrar na ordem sínica os mais recalcitrantes (se necessário, pela força). Mas não havia intenções de ocupação, pois uma vez enquadrados os Estados no sistema tributário, os grandes navios partiam e continuavam a ser as hierarquias autóctones a exercer o poder. Segundo historiadores que se dedicaram a comparar os objectivos do imperador chinês com os do monarca português, o sonho de D. Manuel e o desígnio de Yongle são diferentes na sua génese e nos seus objectivos, mas convergem na estrutura psicológica e na convicção de superioridade, de destino, de origem messiânica, num, de um substrato imanente a uma milenar cultura, noutro.
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Vasco da Gama e Zheng He terão assim sabido incarnar a plenitude da visão estratégica global dos seus soberanos. Yongle morreu em 1424, com 64 anos.
A sua política externa e o impulso dado às expedições marítimas não foram continuados pelo seu sucessor, que suspendeu as viagens. O imperador seguinte, Xuande, que reinou de 1426 a 1435, ordenou ao eunuco uma sétima e última viagem. Este viria a morrer em 1433, em Calicut, 65 anos antes da chegada de Vasco da Gama à cidade. Se prosseguisse a viagem, ou outros por ele, o almirante eunuco, que já tinha tocado zonas da costa oriental africana hoje Moçambique, poderia muito bem estar no ano seguinte ao largo da costa portuguesa. E os livros de História poderiam falar, por exemplo, da ocupação das Berlengas, em 1434, por «gente estranha, de fala estranha, pele mais clara que a nossa, ricamente vestida, olhos quase cerrados, nariz pequeno [...]».
Porque terá parado com a morte de Zheng He a aventura imperial marítima chinesa do século XV?
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Ninguém sabe ao certo, os anais são omissos quanto a isso (os próprios relatos das suas viagens foram destruídos, dado o seu estatuto de eunuco, e apenas a descoberta de uma estela, há três décadas, em Fujien, assinada por Zheng He, lançou mais alguma luz sobre as expedições). Não era o comércio (de escravos, inclusive), a conquista ou a dilatação da fé que a moviam, mas antes a procura de Estados «suseranáveis».
Uma razão plausível é o facto de, chegados a África, os chineses vislumbrarem cada vez menos Estados organizados, não encontrando por isso mais razão para continuar. Parece que as reviravoltas políticas na corte de Beijing, os custos elevadíssimos das expedições e os fracos lucros que delas se retiravam, além das «eternas» preocupações com a sempre periclitante fronteira do Norte, ajudaram ao fim abrupto das expedições.
Se, em Lisboa, as vozes maioritárias contra a prossecução da expansão a leste foram derrotadas pelo messianismo manuelino, em Beijing, desde 1433 que pesaram as opiniões dos «Velhos do Restelo». Era a vitória da «China Amarela» em detrimento da «China Azul». In Fernando Correia de Oliveira, 500 anos de Contactos Luso-Chineses, Público, Fundação Oriente, 1998, ISBN 972-8179-28-6.
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