segunda-feira, 25 de julho de 2011

Maria de Lourdes Ganho: O Essencial sobre Francisco de Holanda. «O seu gosto pelas novas concepções de arte, o seu entusiasmo de jovem promissor nas artes, levam a que seja apelidado de Lusitanus Apelles, conforme já foi mencionado. D. João III, em Évora, é nesta altura claramente favorável à cultura humanística, que apenas será travada quando em 1555 entrega à Companhia de Jesus o ensino»

Cortesia de livroshorizonte 

«Traçar o perfil de um autor renascentista, quando não existem livros de assentos para tais factos, acaba por implicar proceder a uma pesquisa de modo indirecto. Contudo, à boa maneira renascentista, o culto da personalidade começa a emergir e, por isso mesmo, Francisco de Holanda fala de si na sua obra. É por esta razão que podemos apontar dados biográficos, enquanto artista, ficando o homem no seu quotidiano silenciado, embora alguns traços do seu carácter também possam ser apontados.
Quanto à sua obra, pictórica e literária, far-lhe-emos uma referência própria, embora tenhamos de reconhecer que é a obra Da Pintura Antiga que mais nos interessa analisar e que, ao mesmo tempo, emerge como a mais relevante na economia da sua produção literária e artística.
Como refere Jorge Segurado, «estamos perante o principal artista da nossa Renascença». Nas palavras de André de Resende, estamos perante o Apeles Lusitano.

Vida.
Nasceu na cidade de Lisboa, conforme refere na obra Da Pintura Antiga, tendo provavelmente nascido em 1517 ou 1518, portanto, no reinado de D. Manuel I. Faleceu também em Lisboa, em 1584. Seu pai terá nascido cerca de 1480 e falecido por volta de 1557. Artista ligado à corte portuguesa, a sua profissão exerceu clara influência na futura orientação deste seu filho, que desde muito novo, mostrou clara propensa para a arte da pintura.


Cortesia de wikipedia 

De facto, o artista frequentou a escola de seu pai, sendo este um período de aprendizagem fundamental, conforme ele próprio reconhece no prólogo de Da Pintura Antiga:
  • «E muito grandes  e infinitas graças dou eu primeiro ao Summo Mestre e imortal, e depois as dou a meu pai [ ... ] de me não desviar minha própria índole natural, e me deixou seguir a arte da Sabedoria a mi mais segura e excelente de quantas há n'este grão mundo».
Seu pai, instalado em Évora, na altura polo cultural e onde residia a corte portuguesa, deu-lhe a formação necessária para se iniciar nas artes figurativas. Além disso, estudou Humanidades. Durante alguns anos e até 1537, Évora foi a capital cultural de Portugal e centro onde os mais diferentes artistas trabalhavam, bem como homens de letras.
Nesta cidade, certamente, contactou com os mais eminentes humanistas que aí residiam, tendo sido amigo e discípulo de André de Resende, Miguel da Silva e Nicolau Clenardo. Sabe-se que estudou línguas clássicas na Escola Pública de Letras, de que foi fundador André de Resende. Até aos 20 anos temos o seu período de aprendizagem e de certo amadurecimento, de contacto em Évora com antiguidades, provenientes de ruínas romanas, e que lhe permite reconhecer que um aprofundamento do seu saber só é possível se se deslocar a Roma, o grande centro cultural da Europa culta de então, no que à arte diz respeito. 


Cortesia de wikipedia

O seu gosto pelas novas concepções de arte, o seu entusiasmo de jovem promissor nas artes, levam a que seja apelidado de Lusitanus Apelles, conforme já foi mencionado. D. João III, em Évora, é nesta altura claramente favorável à cultura humanística, que apenas será travada quando em 1555 entrega à Companhia de Jesus o ensino.
Com 20 anos dá-se o facto fundamental da vida de Francisco de Holanda como artista:
  • obtém uma bolsa a fim de se dirigir a Roma e contactar com os grandes vultos da arte renascentista. Mas quando vai pata Itália é já um pintor claramente vocacionado para a arte, ansioso por se encontrar com os grandes mestres do seu tempo, com os grandes monumentos da antiguidade e com as maiores referências da arte sua contemporânea.
Esta viagem, por ele tão ansiosamente esperada, e que teve a duração de 3 anos (1537-1540) é um marco central na sua vida, como ele mesmo menciona no agradecimento que faz a D. João III, no prólogo de Da Pintura Antiga:
  • «E a Vós, muito Glorioso e Augusto Rei e Senhor, dou eu outras tantas graças pola ajuda que ategora me tem dado (mandandome ir ver Itália) em bens que, inda quando se a náu alagasse, e a cidade saqueada steuesse ardendo, eu posso sem empedimento de carga leuemente comigo trazer a nado [ ... ] porque dizem que o saber é só de todos o que em nenhuma alhea patria é strangeiro».
Destinava-se esta viagem, segundo Jorge Segurado, a corrsponder ao desejo do rei D. João III, de o jovem artista se instruir em arquitectura e «adquirir técnica segura para construir castelos e fortalezas à maneira italiana, tendo em vista, sobretudo, a defesa e a soberania do património de além-mar. Apurámos e não resta dúvida, que a Arquitectura da Renascença italiana foi o alvo principal da viagem, o qual foi de facto atingido com êxito (7)». In Maria de Lourdes S. Ganho, O Essencial sobre Francisco de Holanda, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Cortesia de INCdaMoeda/JDACT