segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tomar: Um tríptico escondido e Densos Mistérios. Parte IV. «Saindo de Tomar, é obrigatório ver, ainda nas imediações da cidade, o monumental aqueduto de Pegões. Era por aqui que o convento se abastecia de água. O facto de atravessar vales acentuados confere ao monumento um carácter impressionante, em alguns pontos dos seus sete quilómetros de extensão»

Cortesia de cmtomar 

A Festa dos Tabuleiros é preparada quase em segredo por centenas de pessoas que, durante meses, recortam milhares e milhares de flores e ornamentos em papel - para as ruas do centro histórico de Tomar e para os 700 tabuleiros que este ano desfilarão.

Um Tríptico Escondido.
«Voltemos aos segredos que Tomar esconde. Por exemplo, o tríptico de origem flamenga, do século XVI, que está no baptistério da igreja de São João Baptista, logo à esquerda quando se entra. Tem que se pedir ao sacristão da igreja que faça o favor de abrir a porta do baptistério. Só assim se pode apreciar a obra - não haverá maneira de proteger o quadro sem ter que o esconder? Representando cenas da vida de Jesus - o baptismo no centro, as bodas de Caná e as tentações, além de São João e Santo André nas portas -, a obra é de uma delicadeza ímpar.
Há nesta igreja ainda outras sete telas a justificar a visita. São todas de Gregório Lopes, um dos nomes mais destacados do Renascimento português. Do lado direito, estão A Degolação de João Baptista, a Apresentação da Cabeça de João Baptista, Abraão e Melquisedeque, a Apanha do Maná, a Última Ceia e a Missa de S. Gregório. Na parede defronte, vemos uma Visitação. Gregório Lopes tem obra distribuída por Setúbal, Madeira e Tomar (há pinturas suas também no Convento de Cristo).


Cortesia de cmtomar

Em Tomar, além de podermos pousar o olhar de cada vez que passamos junto do Nabão, ainda é possível dar um salto à ermida de Santa Iria. Destaca-se aqui um retábulo em calcário representando a paixão de Cristo, com a curiosidade de a cruz ser em T, ou Tau, representação iconográfica invulgar. Ou à igreja de Santa Maria dos Olivais, onde os templários eram armados cavaleiros.
Subindo de novo para as bandas do castelo e do Convento de Cristo, encontramos a ermida da Senhora da Conceição. Há quem diga que foi construída para capela funerária de D. João III. Álvaro Barbosa diz que isso não é verdade: "Não tem dimensão para ser mausoléu", assegura, foi mesmo edificada como espaço de culto. Aviso aos visitantes: até Novembro, os acessos de automóvel ao convento e ao castelo estão condicionados por causa de obras de requalificação.

Densos Mistérios.
«Saindo de Tomar, é obrigatório ver, ainda nas imediações da cidade, o monumental aqueduto de Pegões. Era por aqui que o convento se abastecia de água. O facto de atravessar vales acentuados confere ao monumento um carácter impressionante, em alguns pontos dos seus sete quilómetros de extensão. No vale de Pegões, a parte mais comovente do percurso, o aqueduto desenha uma curva, num pórtico com 58 arcos de volta inteira e 16 arcos quebrados. Uma obra a pedir reabilitação, de modo a que se possa passear pelo aqueduto.

Cortesia de cmtomar

Mais longe, espera-nos a torre templária de Dornes, a uma meia hora da cidade. Uma vez mais, estamos perante um monumento único. E, também aqui, fechado a visitas, neste caso pelo mau estado da escada de acesso. Uma pequena obra e uma bilheteira permitiriam dar outra visibilidade a esta construção, transformada no tempo de Dom Manuel em torre sineira da igreja matriz, situada ao lado.
A igreja terá sido fundada pela Rainha Santa Isabel e nela se pode ver uma assombrosa Pietá em pedra, do século XVI. Os 42 círios de Dornes, representando outras tantas povoações vizinhas, estão guardados na sacristia: saem em procissão desde segunda-feira de Páscoa até ao terceiro domingo de Setembro. Já houve alturas em que a rivalidade entre aldeias foi pretexto para ameaças de tiroteio. Construída sobranceira à albufeira, numa das curvas do Zêzere, o edifício é de planta pentagonal e teria servido como torre-atalaia dos templários. O mistério adensa-se pela serenidade conferida ao lugar pela confluência do rio, da torre, dos montes e vales em redor. Há por aqui segredos que o tempo não desvendará nunca». In António Marujo.

Cortesia da CMTomar/JDACT