Cortesia de teiaportuguesa
Sobre a sepultura de Tirsália
Negra fera, que a tudo as garras lanças;
já murchaste, insensível a clamores,
nas faces da Tirsália as rubras flores,
em meu peito as viçosas esperanças.
Monstro, que nunca em teus estragos cansas,
vê as três Graças, vê os nus Amores
como praguejam teus cruéis furores,
ferindo os rostos, arrancando as tranças!
Domicílio da noite, horror sagrado,
onde jaz destruída a formosura,
abre-te, dá lugar a um desgraçado.
Eis desço... Eis cinzas palpo... Ah, Morte dura!
Ah, Tirsália! Ah, meu bem, resto adorado!
Torna, torna a fechar-te, ó sepultura!
Convite a Marília
Já se afastou de nós o Inverno agreste
envolto nos seus húmidos vapores;
a fértil Primavera, a mãe das flores,
o prado ameno de boninas veste.
Varrendo os ares o subtil Nordeste
os torna azuis; as aves de mil cores
adejam entre Zéfiros e Amores,
e toma o fresco Tejo a cor celeste.
Vem, ó Marília, vem lograr comigo
destes alegres campos a beleza,
destas copadas árvores o abrigo.
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
quando me agrada mais estar contigo
notando as perfeições da Natureza!
Bocage, in «Sonetos»
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