quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Bela Poesia. Teixeira de Pascoaes: «Tu, por acaso, não lhe podes dar um pouco d'esse frio que entorpece o coração e o deixa descansar?... Jamais! Não há remédio! Nem as horas que passam! Toda a fria noite choras»

Cortesia de chuvisco

Tristêza
O sol do outomno, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lagrimas, beijando
A terra, e o meu espirito a sorrir...

Eis como a minha vida vae passando
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me fôram sepultando...

E fico mudo, extatico, parado
E quasi sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...

Só a longinqua estrela em mim actua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petreficada esphinge de saudade...
Teixeira de Pascoaes, in «Elegias»

Noites em Claro
Passas em claro as noites a chorar;
Dia a dia, teu rosto empalidece...
Faze tu, pobre Mãe, por serenar,
Santa Resignação sobre ela desce!

Rochedo que a penumbra desvanece,
Tu, por acaso, não lhe podes dar
Um pouco d'esse frio que entorpece
O coração e o deixa descançar?...

Jamais! Não ha remedio! Nem as horas
Que passam! Toda a fria noite choras;
Tua sombra, no chão, é mais escura.

Soffres! E sinto bem que a tua dôr,
Como se fôra um beijo, acêso amôr,
Vae-lhe aquecer, ao longe, a sepultura.
Teixeira de Pascoaes, in «Elegias»

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