Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
O intruso viu a pistola e atacou. Dominó deu meia-volta e empurrou-a para o
lado. Ela caiu na cadeira com um baque. À frente mal distinguia o turbilhão de
movimento. O recém-chegado atirara-se para cima de Dominó, fazendo com que
ambos caíssem no chão. Outra mão agarrou a arma enquanto eles, atracados, se
debatiam. Um estouro atravessou o quarto. E depois o intruso levantou-se,
correu e foi engolido pelo corredor escuro. Dominó olhava para o braço. O
sangue escorria da manga queimada e rasgada da camisa, por cima do cotovelo. Mer…!
Ficou de pé num salto e saiu correndo. Audrianna agarrou os braços da cadeira e
tentou acalmar o coração retumbante. Sons. Altos. Vozes agitadas no andar de
baixo e gritos assustados nos quartos vizinhos. Dominó voltou ao quarto e
fechou a porta. O seu braço!, gritou ela. A bala está na parede, ali. Ele
apontou um buraco preto novo, no reboco por baixo da janela. Mas, mais um
centímetro e... Mais gritos. Mais próximos. Ele olhou atentamente para ela. Está
bem? Recomponha-se e nem pense em desmaiar agora. Estou bem. Só com um pouco de
falta de ar, por causa do choque. Você trouxe uma pistola carregada e armou o
gatilho. Não devia chocar-se de que ela tenha acabado disparando. Com uma mão
firme no queixo dela, levantou a cabeça, para verificar como ela estava, presumiu
ela, e quão perto estava de desmaiar. Estarão aqui em breve, comunicou ele. Questão
de segundos. Não fale. Eu responderei às perguntas.
O olhar
dela percorreu o quarto em todas as direcções. Claro que haveria perguntas. Um
tiro fora disparado na estalagem e todos ouviram. A confusão aproximava-se da
porta. Vozes e passos pesados e excitação. Depois, de repente, silêncio. Uma
fresta se abriu. Não fale, ordenou Dominó novamente. A porta abriu-se
completamente, mostrando o estalajadeiro com uma expressão de preocupação no
rosto. Que foi substituída por alívio, depois raiva. Atrás dele, uma massa de
rostos esgueirava-se para conseguir olhar para dentro do quarto também. Não tem
ninguém morto, anunciou o estalajadeiro por cima do ombro. Enquanto a notícia
se espalhava pelo corredor, ele entrou no quarto, cruzando os braços. Olhou
para a ferida no braço do hóspede, depois para a cadeira onde Audrianna estava
sentada, depois para a pistola, ainda no chão. Voltou a olhar para Audrianna.
Assim que chegou soube que só traria problemas. A minha estalagem é um
estabelecimento de respeito e eu não... Summerhays! Mas que diabos...? Juntou-se
ao aglomerado que estava à porta um novo rosto, belo, com olhos azuis e cabelo
muito escuro. O recém-chegado abriu caminho e transpôs a soleira. Apreciou a
cena e balançou a cabeça. Que lindo serviço, Summerhays. Lindo serviço. Audrianna
constatou, alarmada, como a situação devia parecer.
Um
homem e uma mulher sozinhos numa estalagem... O homem ferido por uma pistola...
Todos pensavam que ela e Dominó eram amantes e que houvera uma discussão e que
ela disparara. Está sangrando, Summerhays, alertou o recém-chegado. Foi
atingido? Ela percebeu que
o cavalheiro de presença altiva se dirigia a Dominó e não ao estalajadeiro.
Summerhays. Um membro do parlamento chamado Summerhays estivera envolvido na
investigação feita ao seu pai. Lord Sebastian Summerhays. Era irmão do marquês
de Wittonbury e fora inflexível, cruel e implacável. Mas como podia ele ser o
Dominó? Se havia pessoa que sabia que o seu pai estava morto... Entendendo o
que se passava, começou a encará-lo. A bala está aqui na minha parede. O
estalajadeiro dobrou-se para examinar o estrago. Mas foi apontada para o braço,
ou pior, isso é certo. Esta mulher atirou nele sem dúvida alguma e a sorte dele
foi ela ter má pontaria. Fora do quarto, a multidão concordou com aquela
opinião». In
Madeline Hunter, Deslumbrante, Edições ASA, 2013, ISBN 978-989-232-372-5.
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