terça-feira, 6 de junho de 2017

Deslumbrante. Madeline Hunter. «Mais gritos. Mais próximos. Ele olhou atentamente para ela. Está bem? Recomponha-se e nem pense em desmaiar agora»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O intruso viu a pistola e atacou. Dominó deu meia-volta e empurrou-a para o lado. Ela caiu na cadeira com um baque. À frente mal distinguia o turbilhão de movimento. O recém-chegado atirara-se para cima de Dominó, fazendo com que ambos caíssem no chão. Outra mão agarrou a arma enquanto eles, atracados, se debatiam. Um estouro atravessou o quarto. E depois o intruso levantou-se, correu e foi engolido pelo corredor escuro. Dominó olhava para o braço. O sangue escorria da manga queimada e rasgada da camisa, por cima do cotovelo. Mer…! Ficou de pé num salto e saiu correndo. Audrianna agarrou os braços da cadeira e tentou acalmar o coração retumbante. Sons. Altos. Vozes agitadas no andar de baixo e gritos assustados nos quartos vizinhos. Dominó voltou ao quarto e fechou a porta. O seu braço!, gritou ela. A bala está na parede, ali. Ele apontou um buraco preto novo, no reboco por baixo da janela. Mas, mais um centímetro e... Mais gritos. Mais próximos. Ele olhou atentamente para ela. Está bem? Recomponha-se e nem pense em desmaiar agora. Estou bem. Só com um pouco de falta de ar, por causa do choque. Você trouxe uma pistola carregada e armou o gatilho. Não devia chocar-se de que ela tenha acabado disparando. Com uma mão firme no queixo dela, levantou a cabeça, para verificar como ela estava, presumiu ela, e quão perto estava de desmaiar. Estarão aqui em breve, comunicou ele. Questão de segundos. Não fale. Eu responderei às perguntas.
O olhar dela percorreu o quarto em todas as direcções. Claro que haveria perguntas. Um tiro fora disparado na estalagem e todos ouviram. A confusão aproximava-se da porta. Vozes e passos pesados e excitação. Depois, de repente, silêncio. Uma fresta se abriu. Não fale, ordenou Dominó novamente. A porta abriu-se completamente, mostrando o estalajadeiro com uma expressão de preocupação no rosto. Que foi substituída por alívio, depois raiva. Atrás dele, uma massa de rostos esgueirava-se para conseguir olhar para dentro do quarto também. Não tem ninguém morto, anunciou o estalajadeiro por cima do ombro. Enquanto a notícia se espalhava pelo corredor, ele entrou no quarto, cruzando os braços. Olhou para a ferida no braço do hóspede, depois para a cadeira onde Audrianna estava sentada, depois para a pistola, ainda no chão. Voltou a olhar para Audrianna. Assim que chegou soube que só traria problemas. A minha estalagem é um estabelecimento de respeito e eu não... Summerhays! Mas que diabos...? Juntou-se ao aglomerado que estava à porta um novo rosto, belo, com olhos azuis e cabelo muito escuro. O recém-chegado abriu caminho e transpôs a soleira. Apreciou a cena e balançou a cabeça. Que lindo serviço, Summerhays. Lindo serviço. Audrianna constatou, alarmada, como a situação devia parecer.
Um homem e uma mulher sozinhos numa estalagem... O homem ferido por uma pistola... Todos pensavam que ela e Dominó eram amantes e que houvera uma discussão e que ela disparara. Está sangrando, Summerhays, alertou o recém-chegado. Foi atingido? Ela percebeu que o cavalheiro de presença altiva se dirigia a Dominó e não ao estalajadeiro. Summerhays. Um membro do parlamento chamado Summerhays estivera envolvido na investigação feita ao seu pai. Lord Sebastian Summerhays. Era irmão do marquês de Wittonbury e fora inflexível, cruel e implacável. Mas como podia ele ser o Dominó? Se havia pessoa que sabia que o seu pai estava morto... Entendendo o que se passava, começou a encará-lo. A bala está aqui na minha parede. O estalajadeiro dobrou-se para examinar o estrago. Mas foi apontada para o braço, ou pior, isso é certo. Esta mulher atirou nele sem dúvida alguma e a sorte dele foi ela ter má pontaria. Fora do quarto, a multidão concordou com aquela opinião». In Madeline Hunter, Deslumbrante, Edições ASA, 2013, ISBN 978-989-232-372-5.

Cortesia de EASA/JDACT