sexta-feira, 2 de junho de 2017

O Cerco de Campo Maior em 1801. António Ventura. «As causas dessa prisão relacionam-se com a sua filiação na maçonaria, fazendo parte do numeroso grupo de maçons que então foram alvo de devassa»

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«(…) A 2.ª Divisão, comandada pelo Príncipe da Paz, Manuel Godoy, partiu de Albuquerque em direcção a Badajoz, a 15 de Maio, entrando em Portugal, junto a Campo Maior, no dia 20. Após algumas trocas de tiros de artilharia junto a esta vila, dirigiu-se para Santa Eulália, S. Vicente, Barbacena e Arronches, onde, juntamente com forças da Divisão de Vanguarda, tomou parte no combate de dia 29. Permaneceu durante três dias na vila de Arronches, e depois marchou para Portalegre, participando nas operações da Divisão de Vanguarda, incluindo o combate de Flor da Rosa, bem como em acções contra camponeses que atacaram soldados espanhóis na Serra de S. Mamede.
A 3.ª Divisão, comandada pelo marquês de Castelar, estacionada em Valverde, avançou no dia 20 de Maio para Olivença e Juromenha, cujos governadores se renderam sem a menor resistência, e tomou posições junto a Elvas, onde se registou algum tiroteio, e a Campo Maior. Participou no cerco àquela praça, até dia 27 de Maio, posicionando-se depois em Santa Eulália. Finalmente, a 4.ª Divisão, comandada pelo tenente-general  Francisco Xavier Negrete, concentrada em Badajoz, empenhou-se exclusivamente no cerco a Campo Maior.
A 25 de Janeiro de 1801, o coronel Inácio Freire Andrade ficava desobrigado do governo da Praça de Campo Maior, que passou a ser assegurado interinamente pelo tenente coronel de engenheiros, Matias José Dias Azedo. Vejamos, em primeiro lugar, quem era o novo Governador Militar de Campo Maior e quais os meios ao seu dispor para uma defesa eficaz.

Matias José Dias Azedo, governador da Praça de Campo Maior
Matias José Dias Azedo, um dos mais notáveis engenheiros militares portugueses do seu tempo, acabara de ser nomeado para o governo interino da praça. Vejamos quem era esse ilustre militar. Foram seus pais Caetano Dias Azedo, natural do Brasil, e Iria Joaquina Rosa, natural de Beja. Nasceu em Lisboa a 24 de Fevereiro de 1758 e ali morreu a 11 de Fevereiro de 1821, sendo sepultado no convento de S. Pedro de Alcântara.
Com vinte e dois anos, assentou praça em 11 de Março de 1780; foi promovido a 1.º tenente de infantaria com exercício de engenheiro por decreto de 2 de Junho de 1782, ascendendo regularmente aos diversos graus da hierarquia militar. Era Capitão em Dezembro de 1791, e lente da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, quando foi detido e entregue à Inquisição (maldita), a 5 daquele mês. As causas dessa prisão relacionam-se com a sua filiação na maçonaria, fazendo parte do numeroso grupo de maçons que então foram alvo de devassa por parte das autoridades, dentro da política repressiva de Pina Manique, que levou à perseguição de 1791-1792. Matias Azedo pertencia a uma loja maçónica de Lisboa, fundada por volta de 1778, da qual faziam parte diversos militares. Foi condenado a abjurar de levi e a sujeitar-se a penitência espiritual e a instrução religiosa.
Em Junho de 1798, o seu nome aparece ligado à Sociedade Marítima, Militar e Geográfica para o desenho, gravura e impressão das cartas hidrográficas e militares, fundada por iniciativa do Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Rodrigo de Sousa Coutinho. Tinha, entretanto, prosseguido a sua carreira militar. Era sargento-mor, posto equivalente a Major, desde 4 de Abril de 1795, e atingia os postos de tenente coronel em 1800, de coronel e de brigadeiro em 1801, ano em que, a 16 de Outubro, foi nomeado Chefe de Brigada na Estremadura e Beira. Depois, foi promovido a marechal de campo, em7 de Julho de 1810, e a tenente general, o mais elevado posto do exército português, em 10 de Junho de 1813. O posto de coronel adquiriu-o, justamente, em 23 de Maio de 1801, pela maneira como fortificou e defendeu, naquele ano, a praça de Campo Maior, de que era governador». In António Ventura, O Cerco de Campo Maior em 1801, Edições Colibri, Centro de Estudos Documentais do Alentejo, 2001, ISBN 972-772-270-9. 

Cortesia de EColibri/JDACT