sexta-feira, 2 de junho de 2017

O Cerco de Campo Maior em 1801. António Ventura. «O cerco de Campo Maior constitui uma excepção no quadro das operações ocorridas nesse breve conflito»


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«Completaram-se, no pp ano de 2001, dois séculos sobre a Guerra das Laranjas, onde de novo Portugal e Espanha se enfrentaram. Desta vez, o conflito teve uma origem exterior à Península, e foi motivado pela política expansionista da França, de quem a Espanha era aliada desde a celebração do Tratado de Santo Ildefonso, em 1796. O objectivo de privar a Grã-Bretanha do seu mais fiel apoio no Continente, Portugal, levava as autoridades francesas a pressionar o governo espanhol, no sentido de uma intervenção que obrigasse o nosso país a romper com a aliança inglesa, o que só aconteceu em 1801, depois de numerosas vicissitudes.
Para assinalar tal efeméride, publicamos o quarto estudo monográfico que dedicamos àquela campanha, depois dos que tiveram como tema os combates de Arronches e de Flor da Rosa na invasão de Portugal, em 1801. O cerco de Campo Maior constitui uma excepção no quadro das operações ocorridas nesse breve conflito, onde o desempenho das tropas portuguesas deixou muito a desejar, seja pela incompetência dos comandos, pela má preparação e motivação dos soldados e pela deficientíssima logística. Bem vistas as coisas, os resultados podiam ter sido muito piores…
No entanto, aquele triste panorama foi amenizado por três elementos positivos. O primeiro foi a resistência da Praça de Elvas, se bem que as operações militares em seu redor fossem escassas; o segundo foi a fortaleza de Marvão, que repeliu no dia 3 de Junho uma tentativa de assalto por parte de forças da Divisão de Vanguarda, e manteve fogo durante 14 horas, obrigando os assaltantes a retirar; o terceiro foi a defesa de Campo Maior. Sobre este episódio existem alguns estudo, que utilizámos, bem como abundante documentação inédita, tanto portuguesa como espanhola. A resistência daquela praça, cujo governador era o tenente coronel de engenheiros, Matias José Dias Azedo, foi uma acção militar que permitiu salvar a dignidade de Portugal e do seu exército. 

O Posicionamento das tropas espanholas
A declaração de guerra da Espanha a Portugal foi feita a 27 de Fevereiro de 1801 e as hostilidades iniciaram-se três meses depois. Manuel Godoy, nas suas memórias, descreve esse momento: a 20 de Maio, marcado para a marcha, entrou o exército em Portugal com um aparato solene e bateu o campo, afugentando os inimigos, encerando em Elvas e Campo Maior as guarnições destas praças, e tomando na sua largura as posições convenientes para assediar ambas as fortalezas.
A Divisão de Vanguarda, comandada pelo marechal de campo, marquês de Solana, que estava concentrada em Santa Engrácia, junto ao Xévora, tomou posições junto a Elvas, onde se registaram recontros esporádicos com as tropas portuguesas. O brigadeiro José Urbina intimou o Governador de Elvas, Francisco Xavier Noronha, para que se rendesse, mas este recusou firmemente tal exigência, confiante na inexpugnabilidade das suas fortificações e nos 9 000 homens de linha e milícias que as guarneciam. A mesma Divisão dirigiu-se depois para Campo Maior e dali para S. Vicente, que ocupou, encaminhando-se para Barbacena e Monforte. Desta localidade marchou sobre Arronches, onde, a 29 do mesmo mês de Maio, travou combate com forças portuguesas comandadas pelo coronel José Cárcome Lobo, as quais foram completamente derrotadas.
A 1.ª Divisão, comandada pelo tenente general Diego Godoy, irmão do Príncipe da Paz, igualmente acampada em Santa Engrácia, atravessou a fronteira no mesmo dia 20 de Maio e tomou posições junto a Elvas, cortando as ligações com Campo Maior. Dirigiu-se depois para S. Vicente e Barbacena, apertando o cerco a Elvas; um destacamento rumou a sul, entrando mais tarde em Borba e em Vila Viçosa». In António Ventura, O Cerco de Campo Maior em 1801, Edições Colibri, Centro de Estudos Documentais do Alentejo, 2001, ISBN 972-772-270-9.

Cortesia de EColibri/JDACT