As
primeiras prostitutas da história. Demóstenes
«(…)
Havia
bordéis públicos, pequenos bordéis privados e também casas de tolerância, os
banhos públicos. Além disso, continuavam a existir as prostitutas que
trabalhavam nas ruas. Em tese, o acesso aos prostíbulos públicos era proibido
para homens casados e padres, mas eles encontravam meios de burlar a
legislação. Rossiaud escreve que as prostitutas não eram marginais na cidade,
mas desempenhavam uma função. Nem eram objecto de repulsão social, podendo,
inclusive, ser aceitas na sociedade e casar-se depois que deixassem a vida de
prostituta.
A
liberdade sexual só era tolerada para os homens. As mulheres casadas e suas
filhas, de boa família, deviam temer a desonra. Mas, de acordo com Rossiaud,
essa liberdade masculina não sobreviveu à crise do Renascimento. Houve uma
progressiva rejeição da prostituição, que revelava nas comunidades urbanas a
precariedade da condição feminina. Lentamente, a mulher conquistou uma parte do
espaço cívico, adquiriu uma identidade própria, tornou-se menos vulnerável,
explica Rossiaud. E houve uma revalorização do casal.
Prostituição
e violência aparecem pela primeira vez associadas, devido a brigas, disputas e
assassinatos nos locais públicos. Autoridades municipais, apoiadas pela igreja,
passaram a coibir a prostituição que, a partir de então, aparecia como um
flagelo social gerador de problemas e de punições divinas, afirma Rossiaud. Um
após outro, os bordéis públicos foram desaparecendo. A prostituição não
desapareceu com eles, mas tornou-se mais cara, mais perigosa, urdida de
relações vergonhosas, diz Rossiaud. Para o autor, foi o duplo espelho
deformante do absolutismo monárquico e da Contra-Reforma que fizeram parecer decadência
escandalosa o que era apenas uma dimensão fundamental da sociedade medieval.
A prostituição
nas cidades é como a fossa no palácio: tire a fossa e o palácio vai-se tornar num
lugar sujo e malcheiroso. Na modernidade, segundo Margareth Rago, autora de Os
Prazeres da Noite, a prostituição ganhou feições diferenciadas. Isso porque as
mulheres conquistam maior visibilidade e actuação na sociedade. Surgiram novas
formas de sociabilidade e de relações de género, com a criação de fábricas,
escolas e locais de lazer e consumo. Foram outros modos de vida, nos quais a mulher
vai ter maior participação, diz Margareth. Apesar da modernização dos costumes,
a sociedade ainda é conservadora em relação às prostitutas.
Nesse
contexto, nasceu o feminismo e a mulher reivindicou o direito de trabalhar e de
estudar. O discurso sobre a prostituição ficou forte nesse período e virou
debate médico e jurista. Há um uso, não consciente, da prostituição para dizer
que mulher direita não fuma, não sai de casa sozinha, não assobia na rua, não
goza. O médico vai dizer que a mulher não tem muito prazer sexual, ela tem
desejo de ser mãe. Já o homem tem e, por isso, precisa da prostituta, afirma
Margareth.
De acordo
com Margareth, é nessa época que as prostitutas passam a ser condenadas como
anormais, patológicas, sem-vergonhas; uma sub-raça incapaz de cidadania. E a
justificativa vai vir de teorias médico-científicas. O que acontece é que a
medicina do século XVIII usa os argumentos misógenos de Santo Agostinho
e de São Paulo, e fundamenta cientificamente o preconceito contra a prostituta,
explica Margareth. Diz que a prostituta é um esgoto seminal, uma mulher que não
evoluiu suficientemente. São pessoas que têm o cérebro um pouco diferente, o
quadril mais largo, os dedos mais curtos. Criam toda uma tipologia.
Para a
autora de Os Prazeres da Noite, podemos diferenciar a imagem que se construiu
da prostituta na modernidade para a visão que temos dela hoje em dia: nos
últimos 40 anos, mudou muito. O sexo está deixando de ser patológico, de
estigmatizar o que pode e o que não pode. Não sei se acontecem mais coisas na
cama de casados ou de uma prostituta. A revolução sexual transformou os
costumes. Mas a sociedade ainda é conservadora e há forte preconceito contra
essas mulheres». In Patrícia
Pereira, As prostitutas na História, Jacques Rossiaud, A Prostituição na Idade Média, 1991, Margareth Rago,
Os Prazeres da Noite, 2008, Revista Leituras da História, wikipédia, 2009.
Cortesia de
RLKdaHistória/JDAC