sábado, 16 de setembro de 2017

As prostitutas na História. Patrícia Pereira. «Falando de modo geral, a prostituição na antiga Roma era uma profissão natural, aceita, sem nenhuma vergonha associada a essas mulheres trabalhadoras»

Cortesia de wikipedia e jdact

As primeiras prostitutas da história. Demóstenes
Livres no império romano
«(…) Sob os olhos de dezenas de homens e escondendo o rosto, a mulher grega é julgada, talvez por traição: motivo que estigmatizava esposas infiéis, que optavam viver como prostitutas. Tela de Jean-Léon Gérome (1861). Frei São Tomás de Aquino, por frei Angélico: em sua vasta obra filosófica e moral do século XIII, ele defendeu a existência da prostituição, argumentado esse ser um mal necessário.
Roma foi diferente da Grécia. Até ao início da República, a prostituição não era tão disseminada no território romano. Roma ainda era muito provinciana, fechada, explica Ronald Rosa, historiador e pesquisador do NEA/UERJ. A prostituição apenas se difundiu com a expansão militar do império romano e a conquista de escravos. Antes desta expansão, há indícios de que entre os primeiros romanos, que eram povos agrícolas, existia a antiga religião da deusa. Ela também afirma que, em tempos posteriores, a prostituição religiosa estava ligada à adoração da deusa Vénus, que era considerada protectora das prostitutas.
Após a expansão militar e territorial, os escravos eram os prostitutos, tanto homens quanto mulheres. E não havia estigmatização, não era algo mal-visto. Era normal o uso comercial do escravo para a prostituição. E, muitas vezes, eles usavam esse dinheiro para conseguir a liberdade. De acordo com Nickie, Roma foi uma sociedade sexualmente muito permissiva. Eles escarneciam de qualquer noção de convenção moral ou sexual e desviavam-se de toda a norma que houvesse sido inventada até então, afirma. A grande expansão urbana favoreceu o crescimento da prostituição. A vida era barata, e o sexo, mais barato ainda, diz a autora. Prostituição, adultério e incesto permearam a vida de muitos imperadores romanos.
Falando de modo geral, a prostituição na antiga Roma era uma profissão natural, aceita, sem nenhuma vergonha associada a essas mulheres trabalhadoras, comenta Nickie. A vida permissiva levava mulheres a rejeitar o casamento, a ponto de o imperador Augusto estabelecer multas para as moças solteiras da aristocracia em idade casadoira. Muitas registaram-se como prostitutas para escapar da obrigação. O sucessor de Augusto, Tibério, proibiu as mulheres da classe dominante de trabalhar como prostitutas. Diferente da Grécia, os romanos não possuíam e nem operavam bordéis estatais, mas foram os primeiros a criar um sistema de registo estatal das prostitutas de classe baixa. Isso resultou na divisão das prostitutas em duas classes, explica Nickie: as meretrices, registadas, e as prostibulae (fonte da palavra prostituta), não registadas. A maior parte não se registava, preferia correr o risco de ser pega pela fiscalização, que era escassa. Suprimir a prostituição e a luxúria caprichosa vai acabar com a sociedade.
Com o declínio do Império Romano, começou a Idade Média. Os invasores, guerreiros bárbaros, organizam a vida não em grandes cidades e sim em aldeias agrícolas, que não favoreciam a prostituição como a vida urbana. As artes civilizadas do amor, do prazer e do conhecimento, o erótico e os demais, desapareceram durante a Idade das Trevas. (...) a antiga tradição de uma sensualidade feminina orgulhosa e exaltadora desapareceu para sempre, afirma Nickie Roberts. A igreja cristã perpetua-se e reprime a sexualidade feminina, ao censurar a prostituição.
Apesar de condenada, a prostituição foi tolerada pela igreja, que a considerou uma espécie de dreno, existindo para eliminar o efluente sexual que impedia os homens de elevar-se ao patamar do seu Deus, explica Nickie. A igreja condenava todo o relacionamento sexual, mas aceitava a existência da prostituição como um mal necessário. De acordo com Jacques Rossiaud, autor de A Prostituição na Idade Média, pode-se afirmar, sem receio de erro, que não existia cidade de certa importância sem bordel». In Patrícia Pereira, As prostitutas na História, Jacques Rossiaud, A Prostituição na Idade Média, 1991, Margareth Rago, Os Prazeres da Noite, 2008, Revista Leituras da História, wikipédia, 2009.

Cortesia de RLKdaHistória/JDACT