quinta-feira, 12 de março de 2015

Uma Vila Iluminista. Manique do Intendente. «A Praça dos Imperadores, é uma figura hexagonal, na qual se inscreve um círculo de 300 palmos, ‘a distância entre o centro e o meio dos lados da praça são 150 palmos’, “33 m, sendo que a cada palmo correspondem 22 centímetros”».


Esquema das medidas da praça e alçados da Praça dos imperadores 
jdact e wikipedia

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A Autoria
Os projectos do palácio e da Casa de Câmara e Cadeia são atribuídos ao arquitecto Joaquim Fortunato Novais pelos historiadores Paulo Varela Gomes e José Manuel Fernandes. Novais, casapiano desde 1780, foi estudar para a Academia de Belas-Artes de Roma, a expensas da instituição, em 1785, integrado na primeira leva de alunos. Aí fica até ao ano de 1791 ou 1794. Fortunato Novais fez também construções em Vila Nova da Rainha. Morre em 1807, sem deixar registo de quaisquer outros projectos. Horta Correia e Margarida Calado consideram que este arquitecto, tendo regressado a Portugal apenas no ano de 1794, terá participado nas obras mas não terá sido o autor do projecto da nova povoação. Numa carta, datada de 28 de Março de 1803, dirigida ao arcebispo-primaz de Braga, o Intendente lista uma série de artistas, referindo as obras em que trabalhariam na altura e os ordenados que aufeririam. Nessa lista está Joaquim Fortunato Novais, Architecto civil tem duzentos mil reis de ordenado. Este está actualmente empregado na construção de hum palácio e huma Igreja, cuja obra lhe dá a honra pelo gosto, com que vai edificada…. Será esta referência do Intendente relativa ao seu próprio palácio em Manique do Intendente?
A mesma Margarida Calado refere que António Lambert Pereira Silva o atribui a José Costa Silva (1747-1819), que projectou na mesma época o Teatro de São Carlos (com intervenção do Intendente Pina Manique, recorde-se). Pereira Silva escreve poderá ter sido José Costa Silva, autor do projecto do Teatro de São Carlos, em Lisboa, iniciado por diligência de Pina Manique em 1792, os quais mostram certas semelhanças arquitectónicas, revelando acentuada influência italiana. Este arquitecto começou a sua formação em Lisboa, estudando com o milanês Carlos Maria Ponzoni (mestre de debuxo no Colégio dos Nobres) e em 1760, viajou para Itália, onde continuou o seu tirocínio com Petronio Francelli, após o que seguiu para Veneza. Aqui estudou com Carlo Bianchoni. Regressou a Portugal em 1779. Contudo, não existem quaisquer outras referências que liguem o seu nome a Manique do Intendente. De referir que este arquitecto foi o autor de um conjunto que englobava área de residência, hospício para inválidos militares e uma igreja, em Runa, perto de Torres Vedras. Foi a obra realizada a pedido de dona Maria Francisca Benedita, que a encomendou em 1792, tendo as obras prosseguido até 1827. Este edifício tem a particularidade de apresentar a igreja numa posição central, acessível por uma galilé. Sobre esta galilé, no interior, abre-se uma tribuna a partir da qual se pode assistir aos ofícios religiosos. De implantação rectangular (456 de frente por 280 palmos de profundidade), desenvolve-se em quatro alas e três pisos, tendo dois pátios internos. Frente à construção abre-se um largo onde desemboca uma alameda com 170 metros, a eixo da Igreja.

Uma Vila Iluminista. A Praça dos Imperadores
A Praça dos Imperadores, com uma área de aproximadamente 3800 m2, é uma figura hexagonal, na qual se inscreve um círculo de 300 palmos, ou seja, a distância entre o centro e o meio dos lados da praça são 150 palmos (33 m, sendo que a cada palmo correspondem 22 centímetros). Os lados construídos da praça medem aproximadamente 142 palmos (cerca de 31 m). Dos seus ângulos partem seis ruas, conhecendo-se o nome de cinco delas: César, Justiniano, Augusto, Trajano e Sertório surgem escritos em painéis de azulejos da época, na fachada lateral das casas que compõem a praça. No seu centro ergue-se um pelourinho, assente em três degraus hexagonais, cujos ângulos se orientam aos ângulos do hexágono que constitui a praça. Em 1802 a Praça albergava 18 fogos, correspondendo esse número a três bandas, de seis casas, erguidas. Sendo que a praça mantém quatro bandas (que terão albergado 24 fogos) em tudo semelhantes, não é possível saber quando foi construída a quarta, nem qual o motivo para não ter sido levantada de imediato. Até um tempo recente, um dos lados da praça, a Sul, manteve-se por erguer, mas acabou por ser construído o edifício que alberga a Junta de Freguesia. Este, embora mantenha a mesma implantação das bandas de casas que constituem quatro dos restantes lados (viam-se mesmo, em tempos recuados e segundo testemunhos dos habitantes de Manique do Intendente, paredes levantadas nesta zona), tem uma distribuição de vãos dissemelhante. Aliás, é claro, mesmo numa análise superficial dos alçados que compõem a praça, que muitos vãos foram alterados, e alguns entaipados. No que diz respeito ao lado Sudoeste, quatro das habitações foram demolidas, dando lugar a duas habitações maiores que não respeitam o plano inicial. Quando se consideram as traseiras, a maioria foi muito alterada e, em alguns casos, as casas foram ampliadas nesse sentido. O lado Norte está ocupado pela Casa de Câmara e Cadeia que, pelo menos exteriormente, não parede ter sofrido alterações no risco primitivo. Relativamente à ocupação do lado Sul da Praça, embora seja praticamente certo que ali existisse realmente uma construção, não é possível saber se se tratava de uma banda de casas, semelhante às outras quatro, ou um edifício com outro tipo de funções. A posição, oposta à Casa de Câmara e Cadeia, e o facto de não ter sido desde logo edificada podem apontar nesse sentido». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.

Cortesia de FCTUC/JDACT