terça-feira, 3 de março de 2015

O Prior do Crato Contra Filipe II. Evocação Histórica. Mário Domingues. «… se não fosse a corrupção, habilmente, espalhada, em longos meses, pelos agentes espanhóis; se os cinco governadores tivessem a isenção, o patriotismo, a energia, que as suas altas funções de guardas da independência nacional…»

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A repercussão internacional do problema português
«(…) Tanto a Inglaterra como a França não podiam ficar indiferentes perante os preparativos de conquista evidenciado pela Espanha. Desejavam auxiliar os Portugueses, mas o sou auxíiio tinha de ser discreto, para não desafiar as iras de um senhor tão poderoso como Filipe II; e, para se tornar eficaz, preciso era que também a nação lusitana se tornasse apta a recebê-lo e a usá-lo. Por isso, dona Isabel Tudor respondeu aos governadores, em 4 de Abril, manifestando o seu sincero desejo de ajudar Portugal a manter a sua independência, mas recomendando que seria conveniente que eles se esforçassem por reconciliar os Portugueses, pois, unidos, com mais facilidade repeliriam a agressão estrangeira. Na verdade, comenta Queiroz Veloso; se não fosse a corrupção, habilmente, espalhada, em longos meses, pelos agentes espanhóis; se os cinco governadores tivessem a isenção, o patriotismo, a energia, que as suas altas funções de guardas da independência nacional imperiosarnente lhes impunham; se o duque de Bragança e o Prior do Crato se unissem, em vez de se hostilizarem em mesquinhas rivalidades: Portugal resistiria, pois as forças de Filipe II eram mais aparentes que reais, e a nossa união teria animado o auxílio dos soberanos estrangeiros, que viam com apreensões, o engrandecimento do rei católico. Por seu lado, dona Catarina, duquesa de Bragança, muito rnais enérgica do que o jarrão do seu marido, não permanecera inactiva e solicitara o apoio da Inglaterra e da França para a sua causa. Através dos factos, colhe-se a impressão de que ela, se não fosse a inoperância balofa do duque e as antipatias gerais que este provocava, ter-se-ia sentado no trono e conciliaria os Portugueses em sua volta para lho defenderem, mas em história os factos são os factos e as hipóteses dos historiadores, embora possam constituir salutar lição, não passam de hipóteses. Vimo-la chegar a Almeirim, sem régia autorização, onde foi encontrar o monarca seu tio já moribundo. Logo após a morte do cardeal, mandou dizer aos governadores que estava pronta a obedecer-lhes, aguardando a sentença dos juízes nomeados para apreciar a causa da sucessão. Já vimo como o rnarido deu este recado, ajuntando-lhe umas vagas ameaças, certamente da sua lavra, que intimidavam ninguém. Nessa mesma ocasião escreveu ela a Filipe II, a pedir-lhe que se submetesse, como ela própria, à decisão dos julgadores. Confiante em que lhe assistiam mais direitos do que a qualquer outro pretensor, convinha-lhe que todos os outros se sujeitassem à decisão jurídica, que forçosamente teria de ser-lhe favorável». In Mário Domingues, O Prior do Crato Contra Filipe II, Evocação Histórica, edição da L. Romano Torres, Lisboa, 1965.

Cortesia de RTorres/JDACT