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De Ilegítimo
a Rei de Portugal. João I
«Nasceu
a 11 de Abril de 1357 o filho ilegítimo de Pedro I, o penúltimo rei da dinastia
afonsina, que não estava destinado a governar um reino, mas foi um rei singular
na História de Portugal. Não só porque, pela primeira e única vez, um bastardo
subiu ao trono do reino, mas também pela prole que gerou e pelo legado de boa memória que deixou. Era o rei
João I de mediana estatura, bem proporcionado, com o rosto largo, testa
pequena, cabelo negro pouco comprido e bem composto, olhos negros e grandes, com
notável viveza, o semblante agradável, o corpo robusto, e de forças grandes. Gostava
de caça e de exercícios do corpo, mas também de música, dança, jogos e xadrez.
Homem
de forte personalidade, de carácter teimoso, repentino e violento que se revelou
desde a sua mocidade, João não nasceu para ser rei. Filho natural do rei Pedro I,
sua mãe nem sequer foi a eterna amada dona Inês de Castro. De facto, João foi o
fruto de uma relação do monarca com dona Teresa Lourenço, uma dama natural da Galiza,
já depois da morte de dona Inês. Este filho, que nascia no ano em que Pedro foi
alçado rei, foi primeiro educado em casa de Lourenço Martins, ficando depois ao
cuidado de Nuno Freire Andrade, mestre da Ordem de Cristo. Era ainda novo, tinha
somente 7 anos, quando, tal como escreveu Rui Pina na Crónica de dom Afonso IV,
foi investido como mestre de Avis em 1364. À partida, João, tal como outros
filhos ilegítimos dos reis seus antecessores, seguiria, assim, uma carreira religiosa.
Nada faria esperar que viesse a assumir os destinos do reino. Mas, como foi salientado
pela historiadora Maria Helena C. Coelho, foram várias as circunstâncias, internas
e externas, que fizeram com que João fosse projectado para a ribalta política e
se tornasse a hipótese mais viável e desejável para governar. Por tal motivo, a
tradição cronística confere a João I uma aura de predestinação, tal como com
outros monarcas da História Portuguesa, entre eles Afonso Henriques ou Pedro II.
O caminho
até ao trono
Quais
as circunstâncias que conduziram este filho ilegítimo de Pedro I ao poder? Lembremos,
antes de mais, o afastamento do seu meio-irmão João, filho de Pedro e de dona Inês,
por obra de dona Leonor Teles. João Castro apaixonou-se por dona Maria Teles, irmã
da rainha, que era formosa e muito graciosa. Uma vez casados, a rainha viu no
amor que os vassalos tinham a João e a dona Maria uma ameaça. Caso Fernando I morresse
sem deixar mais sucessão do que a filha de ambos, dona Beatriz, João poderia suceder
no trono. Assim, dona Leonor conseguiu, através da intriga, que João Castro acreditasse
que a sua amada lhe era infiel e, acreditando, acabou por matá-la brutalmente nos
Paços de Coimbra, em 1379. Na sequência destes acontecimentos, João afastou-se,
por algum tempo, da corte, indo depois definitivamente para Castela. A rainha urdiu,
de igual modo, algumas tramas de modo a comprometer o mestre de Avis em supostas
conspirações contra o rei, seu irmão, Fernando I. Na realidade, o ilegítimo filho
de Pedro I constituía, tal como o seu homónimo meio-irmão João, um perigo às pretensões
e ambições de dona Leonor Teles. Foi, pois, neste contexto que a rainha, qual Penélope,
teceu a sua teia de intrigas, de tal modo que levou o mestre até à prisão, em 1382.
Na sua
crónica, Fernão Lopes refere que logo na noite em que o mestre foi preso, a
rainha mandara fazer um alvará falso, supostamente assinado pelo rei, e no qual
ordenava degolar João. No entanto, terá sido a desconfiança do executor da ordem
que, ao procurar, junto do rei, a confirmação do que lhe fora ordenado, acabou por
salvar o mestre da morte, sendo posto em liberdade». In Paula Lourenço (coord), Ana
Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos
Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.
Cortesia
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