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Um
rei com um temperamento inconstante
«(...) Depois
de ver reconhecida a sua dignidade régia por bula papal, Sancho I teve que
lidar com complicadas situações ao longo do seu reinado, desde maus anos
agrícolas às sucessivas crises de fome, peste e, claro, as guerras. De um lado
estava a questão da divisão das Hispânias pelos herdeiros de Afonso VII e, do
outro, a ameaça do império almóada, sempre presente. Foi um rei empenhado em
todos os assuntos do seu reino. Conhecia bem os problemas, as necessidades e a
realidade do seu país. De facto, estivera, durante tantos anos, à frente dos
seus destinos e convivera de perto, pelo menos desde 1169, com os altos
oficiais do reino. Povoou as terras de fronteira para as manter e mostrar a
soberania portuguesa e entregou a sua defesa e conquista dos territórios em seu
redor às ordens militares.
Foi
também durante o seu reinado que as questões entre Braga e Compostela e os intermináveis
conflitos entre a Sé de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz tiveram lugar.
Várias vezes, na sequência destes problemas, o monarca foi excomungado e o seu
reino interditado. Sancho I tinha um temperamento inconstante, que se foi
revelando com maior intensidade à medida que ia envelhecendo. Acessos de raiva
eram frequentes, indo ao ponto de perpetrar grandes vinganças, como se viu em
Silves. Conquistou Silves após um cerco que durou dois meses, com a ajuda dos
cruzados que tinham arribado ao reino. Não foi um processo pacífico, pois os
cruzados, ocupando a cidade, fecharam as portas para que nenhum muçulmano a
pudesse abandonar e dedicarem-se ao saque e espoliação de bens e pessoas.
Recusaram-se a dar a Sancho I a sua parte em Silves, o domínio da própria
cidade e a posse dos aprovisionamentos em víveres. O monarca, enfurecendo-se,
entrou na cidade e expulsou à força os cruzados. A amargura chegaria mais
tarde, com a perda de Silves, o que teve um impacto grande. Não podia perder mais
território do que aquele que lhe fora legado por seu pai. A partir daqui, era
importante investir em pactos de aliança e políticas matrimoniais para minorar
as hipóteses do reacender da guerra entre os reis cristãos peninsulares.
As amantes
Algumas
descrições, não coevas, referem que Sancho I era de estatura média e que tinha
o rosto grande, a boca grossa e grande, os olhos pretos grandes, cabelo de cor
castanho-escura quase preta e tinha barba. Afinal, em nada parecido com seu
progenitor, que era alto, de rosto perfeito com olhos e cabelo castanho-claros.
Era um homem que gostava da caça, de correr touros e do convívio com os
cortesãos. Nos serões passados na corte não faltava o vinho, os poemas e os
jograis. E, claro, as mulheres. Sancho I foi pai de 19 filhos. A sua
fertilidade enquanto progenitor foi excepcional, da relação com a sua mulher,
dona Dulce, teve 11 filhos. Para além de dona Dulce, a mulher legítima, são-lhe
conhecidas duas amantes: dona Maria Pais Ribeira, a conhecida Ribeirinha,
e dona Maria Aires Fornelos, senhora da nobreza média. Delas teve também uma
significativa prole. A primeira foi mãe de seis filhos, ao passo que a segunda
gerou dois. Ao que parece, estas ligações amorosas tiveram lugar após a morte
da rainha, ou seja, entre 1198 e 1211., mas foram, provavelmente, também
concomitantes. Estas amigas do rei tinham o seu lugar na corte e acompanhavam-no
para onde se deslocava». In Paula Lourenço (coord), Ana Cristina
Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos Livros,
Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.
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