quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Claustro da Badia de Florença. António M Reis. «Descendente de uma família da pequena burguesia lisboeta, pois se aventa que o pai, Johan Martinz, fosse notário, Gomez, ao terminar a primeira década de quatrocentos, dirigiu-se a Pádua, para frequentar o curso de Direito»

jdact e wikipedia

«Numa época decisiva do primeiro Renascimento, no mosteiro da Badia, situado no coração de Florença e então dirigido pelo Abade D. Frei Gomes, natural de Lisboa, um artista português, Giovanni di Gonsalvo ou João Gonçalves, executa um conjunto de pinturas a fresco sobre a vida de S. Bento, considerado um dos momentos mais altos da pintura florentina daqueles anos (1436-1439)». In Resumo


«Há 25 anos, constituíram para mim uma revelação os frescos de Giovanni di Gonsalvo, João Gonçalves, pouco tempo antes recolocados no seu lugar de origem, depois de trabalhosas operações de restauro. O tema parece-me adequado a esta homenagem a um professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que abraçou a Ordem que mais de perto segue o estilo de vida propagado por S. Bento, e permite-me, ao mesmo tempo, reviver alguns momentos intensos da minha vida, no coração da Toscana, em contacto com as obras de arte de uma época singular, que as lições de mestres competentes e magnânimos como Carlo Ludovico Ragghianti, Luciano Berti e Umberto Baldini me ajudaram a compreender. Remontam a essa época as notas que serviram de base à elaboração deste trabalho.
Descendente de uma família da pequena burguesia lisboeta, pois se aventa que o pai, Johan Martinz, fosse notário, Gomez, ao terminar a primeira década de quatrocentos, dirigiu-se a Pádua, para frequentar o curso de Direito, a pensar naturalmente numa carreira brilhante, dentro da vida secular ou eclesiástica. Ainda não tinha concluído o curso quando, em fins de 1412 ou princípio de 1413, bateu à porta do mosteiro de Santa Justina, que então conhecia um período de renovação que atraiu muitas vocações e se expandiu a outros mosteiros, entre eles o da Badia, localizado no coração de Florença. Gomez deve ter feito a profissão religiosa, ao terminar o ano de 1414. Dali a quatro anos, com o título de Prior Claustral, aparecia à frente de dezasseis monges enviados com a missão de renovar a Badia florentina, quase sem religiosos e enredada em graves problemas económicos, motivados em grande parte pelos desvarios cometidos, por ocasião do concílio de Constança, pelo último Abade, que deles se viria a penitenciar exemplarmente. Após a morte deste, foi Gomez eleito Abade, em 1418, iniciando então um período de importantes reformas. Em 1423, depois de ter exercido as funções de Presidente da respectiva Congregação, frei Gomez deslocou-se a Portugal, de onde regressaria no começo de 1426. Durante a sua ausência registaram-se algumas perturbações na vida interna da Badia, às quais em seguida pôs cobro. Em 1435 voltou a Portugal, onde permaneceu até 1437, desta vez como núncio do papa junto do rei Duarte I.
O mosteiro da Badia, com a principal entrada pela Via della Condotta, situava-se (e situa-se) a poucas dezenas de metros do Palazzo Vecchio, sede do governo florentino, e tinha nas vizinhanças, do outro lado da Piazza San Firenze, o Bargello, onde residia o Podestà ou o magistrado que desempenhava as mais altas funções na República florentina e depois o Bargello ou capitão da polícia, como era designado no século XVI. Estava espartilhado pelas construções urbanas, apertado no meio de outros edifícios e sem possibilidade de se expandir para os lados.
O Abade Gomez pôs em marcha uma série de obras destinadas a aumentar o espaço destinado aos monges e aos seus hóspedes. Não podendo promover a expansão horizontal do mosteiro, viu-se obrigado a fazê-lo crescer em altura, o que exigiu a transformação de várias estruturas. A primeira obra empreendida terá sido a do oratório destinado a servir o público, com fácil acesso a partir do exterior. A partir de 1429, realizaram-se as obras do claustro inferior e do refeitório. Seguiram-se as do claustro superior e do dormitório, entre 1434 e 1437, encontrando-se as da hospedaria nova, iniciadas em 1440, ainda na fase de arranque quando Gomez, nomeado Geral dos Camaldulenses, teve de deixar a Badia. A partir de 1431, o Abade Gomez comprou diversas boteghe instaladas à volta do mosteiro, não só para alargar o espaço disponível mas também para libertar os monges de vizinhos indesejáveis, e designadamente das vozearias e cantares dos operários, assim como dos odores incómodos resultantes da laboração das manufacturas pertencentes à Corporação da Arte della Lana e dos olhares indiscretos. O claustro superior deve ter sido construído no decorrer de 1435 e 1436. Na primavera deste último ano estava em condições de receber a decoração que o abade Gomez lhe destinara». In António M. Reis, O Claustro da Badia de Florença, Museu Municipal de Viana do Castelo, Wikipedia.

Cortesia do MMVdoCastelo/JDACT