Cortesia de purl
Os conhecimentos económicos de Damião de Góis não têm sido suficientemente realçados. De todos os seus biógrafos, apenas Marcel Bataillon foi ao ponto de «representar Damião de Góis como um agente comercial da mais alta categoria, dirigindo-se em nome de um rei a outras cabeças coroadas, aos príncipes da finança», e afirmando mesmo que «uma parte do prestígio de que gosa atem-se, não o ponhamos em dúvida, ao volume dos negócios de que trata, à riqueza do soberano a quem representa».
Na verdade, a formação comercial de Damião de Góis revela-se em toda a sua obra, quer se trate das crónicas ou dos opúsculos latinos, quer da correspondência numerosa que trocou durante toda a vida. Poucos são, realmente, os escritos de sua autoria, se exceptuarmos as cartas que dirigiu aos colegas humanistas, onde as referências a comércio ou a finanças se encontrem omissas.
Túmulo de Damião de Góis
Cortesia de alenquermonumentos
Em 1539 saíu a público o seu opúsculo sobre o cerco de Diu. Este livrinho, dividido em duas partes, narrava na primeira, sob a forma de carta dirigida ao cardeal Bembo, os feitos militares dos portugueses; na segunda, endereçada a Paulo Jóvio, defendia os direitos de Portugal na Índia e rebatia as informações menos verdadeiras que se tinham, na Europa, sobre o império português. Nesta segunda parte, o problema económico do nosso domínio no oriente e a concorrência feita aos italianos eram demorada e magistralmente analisados. O tráfico das especiarias, a acusação de Portugal vender pimenta deteriorada, o lado económico da expansão, o aspecto deficitário de muitas das viagens ao Oriente, tudo Damião de Góis, referia com conhecimentos técnicos, só próprios de alguém que com as práticas comerciais estivesse familiarizado.
Cortesia de arquimedeslivros
Nos dois pequenos trabalhos, editados em 1540, o primeiro sobre a religião e os costumes dos Etíopes, o segundo sobre a Lapónia, não está tão patente a formação comercial do autor, até pela natureza dos assuntos tratados. Não obstante, havia entre as suas páginas alguns informes sobre matéria económica (geografia comercial da Etiópia, por exemplo).
Em 1541, Damião de Góis publicou mais um trabalhinho histórico, descrevendo a Espanha: Pro Hispania adversus Munsterum defensio, em que rebatia algumas informações do célebre Sebastião Münster. No ano seguinte, endereçava a Hans Jacob Fugger, sobrinho do grande financeiro Anton Fugger, uma nova defesa da Espanha: Pro defensione Hispaniae. Os dois opúsculos foram conjuntamente publicados em 1572». In Portugal Quinhentista (Ensaios), A. Oliveira Marques, Quetzal Editores (Referências), Lisboa 1987.
Cortesia de Quetzal Editores/JDACT