Cortesia de sulscrito
As Vindimas da Noite
As ancas, os ombros, as falésias flutuariam,
na noite onde se despenham as ravinas,
o corpo insidioso arrastando o mar, a boca,
os joelhos sonâmbulos,
os barcos que se cobrem de limos, grãos de areia,
esquecimento.
As harpas do horizonte ergueram-se já,
como árvores frondosas.
Nas colmeias de sangue, fervilha a rosa,
a corola verde, o tumultuoso nome,
o timbre infinito.
As ancas, os ombros, as falésias flutuariam,
na noite,
no vazio errante de um coração silábico
que se abre, suspenso,
por dentro das estrelas, à deriva.
No vazio leve das miragens, esconde-se,
nas vindimas da noite,
o corpo dormente da eternidade que rebenta,
silenciosa,
nos punhais ébrios de salsa, cinza,
aspergindo, na névoa minuciosa,
o ruir das telhas, entre ervas, dedos,
acariciados lentamente.
Paisagem aquática
Violinos de água, cavalos, veados de música,
florestas nocturnas de água e ciprestes.
E a lua, sempre.
Passa nos olhos, no cume da montanha,
a sombra que torna as palavras lentas
e os olhos turvos de espuma,
no silêncio espasmódico de beber gota a gota
o espaço que é assim,
lacustre nos olhos do assombro.
Porque falta o sol.
E um girassol de palavras que o possa abrir,
na noite, para cobrir a nudez, o vazio,
um esqueleto de nuvens em busca do oiro,
da vertigem,
desperto na erupção da bruma, do sangue,
a língua por dentro movendo o besouro negro
(antigo), onde tudo é intolerável,
entre paisagens aquáticas, dunas febris,
côndilos esfacelados, fragmentos de música,
magnólias, constelações,
linhas repassadas,
entre retalhos meniscais.
Maria do Sameiro Barroso
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