segunda-feira, 21 de março de 2011

Há dias assim... Dia Mundial da Poesia: Paul Auster. «...Senão à palavra, Que renunciamos: o inverno. Terá sido um espaço De maturidade...»

Cortesia de geetchaturvedi 

Fragmento de frio
Porque cegamos
No dia que sai connosco,
E porque vimos o nosso hálito
Embaciar
O espelho do ar,
A nada se abrirá
O olho do ar
Senão à palavra
Que renunciamos: o inverno
Terá sido um espaço
De maturidade.

Nós que nos tornamos nos mortos
De outra vida que não a nossa.
Paul Auster

Irlanda
Gasta de turfa, ó tu em abandono posta de charnecas,
Tu, a mais nua, banhada na escuridão
Da profunda e verdejante
Ravina, da cama cinzenta
Que o meu fantasma
Furtou à boca
Das pedras – investe-me de silêncio
Com que ampare as asas das gralhas, concede-me
Que de novo passe por aqui
E respire o ar acerbo e maltratado
Que ainda trafica a tua vergonha,
Dá-me o direito de te destruir
Na língua que empala
A nossa colheita, as cruéis
Searas do frio.
Paul Auster

JDACT