sábado, 5 de março de 2011

Heitor Villa-Lobos: «Aos 18 anos solta o grito do Ipiranga! Junta-se aos Chorões... Ei-lo de batuta em riste em frente das grandes orquestras europeias ou americanas. Apresenta ao mundo os Choros, as Serestas, Amazonas...»

(1887-1959)
Rio de  Janeiro
Cortesia de musicabrconcerto

Na Europa, mais propriamente em Lodz, na Polónia, a 28 de Janeiro de 1886 nasce Arthur Rubinstein. No ano seguinte, no outro lado do mundo, na Rua do Ipiranga, nasce uma criança de seu nome Heitor Villa-Lobos.
Raul, seu pai, toca violoncelo como músico amador. O filho tem seis anos e como ainda é pequeno, ensina-lhe violoncelo numa viola de arco virada para baixo. Heitor aprende a distinguir a altura dos sonidos da rua, os rudimentos de solfejo, teoria musical e clarinete. Nas ruas do Rio, grupos de músicos amadores (os chorões) tocam o «Choro nas noites de festa e no Carnaval». A existência musical do jovem «Tuhu» (labareda, em tupi), sobrenome com que o chamam, oscila entre Bach e as serenatas dos chorões.
O pai morre quando Heitor tem 12 anos. A biblioteca do pai, livro a livro, é objecto de dedicação. Ei-lo a aprender sozinho o seu violão!

Cortesia de deianeartes
Aos 18 anos solta o grito do Ipiranga! Junta-se aos Chorões, os tais músicos considerados marginais. Os Estados do Norte esperam por ele. Em 1907 volta ao Rio e inscreve-se no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Tem aulas de Harmonia com Frederico Nascimento que utiliza os métodos didácticos de Schoenberg. Mas é sol de pouca dura... porque tem «mais prazer em absorver o folclore que passa sob as suas janelas do que ouvir o arrazoar dos explicadores». Desta vez visita os estados do interior do Norte e Nordeste e conhece a Amazónia, facto nunca comprovado, que marcará profundamente a sua obra.
Nestas andanças recolhe mais de mil temas que utilizará na sua obra. Faz anotações do folclore. Utiliza uma espécie de taquigrafia com sinais que representam a unidade de tempo e o ritmo.
Saciada a curiosidade e ânsia de aventura regressa em 1912 ao Rio. Qual não é o seu espanto?... Uma missa em sua memória! A mãe, que há anos não sabia dele...julgara-o morto.

Cortesia de jblo
Completa a sua formação autodidacta dedicando-se à análise e estudo das obras dos grandes mestres. Consulta alguns tratados de harmonia e orquestração, nomeadamente o de Vincent d’Indy.
O ano de 1915 marca o início da apresentação oficial no Rio de Villa-Lobos como compositor. A sua Música provoca ira nas forças passadistas.
O jornais publicam críticas contra a modernidade. Oscar Guanabarino do Jornal do Comércio escreve sobre Villa-Lobos:
  • «O seu grande talento está transviado» porque faz parte dos novos iconoclastas que querem destruir a arte saída das velhas escolas «julgando haver possibilidade de fazer desaparecer o belo para das sua cinzas surgir o império do absurdo».
A resistência à música de Villa-Lobos não se fica só por aqui. Em 1918 o director do Instituto Nacional de Música convida-o a dirigir um concerto exclusivamente com obras suas, a 1ª Sinfonia e Amazonas, ainda com o título Miremis. Muitos intelectuais e artistas brasileiros formam esta vaga renovadora. É também nesta época que, de forma singular, conhece Rubinstein que será seu protector e o intérprete da obra Prole do Bebé que o lançará na Europa.

Cortesia de vejaabril

O jovem pianista Arthur Rubinstein está em digressão no Rio. Quer conhecer o compositor de quem Ernest Ansermet lhe falara com entusiasmo, em Buenos Aires. Vai ao cinema Odeon onde Villa-Lobos toca numa orquestra manhosa. Após uma série de musiquinhas banais atacam uma das Danças Africanas. O pianista no intervalo vai cumprimentar o autor, mas foi rechaçado violentamente:
  • «Vous êtes un virtuoso, vous ne pouvez pas comprendre ma musique!..»
No dia seguinte, pelas oito da manhã, no Palace Hotel batem à porta do quarto de Rubinstein. É Villa-Lobos acompanhado de uma dúzia de músicos. Quer que ele oiça algumas das suas obras e como os colegas trabalham à tarde e à noite, tem de ser a esta hora...
Em meados de 1923 embarca num navio francês rumo à Europa. O autor de Amazonas chega a Paris. Na bagagem leva a imensa obra já feita. Em menos de um ano, este estrangeiro mensageiro de um país tropical e atrasado, impõe-se pelo o talento e espírito independente. Conquista o meio musical do mundo «civilizado». Aos quarenta anos Villa-Lobos é um ser mistificador.

Cortesia de cinemauol

Ei-lo de batuta em riste em frente das grandes orquestras europeias ou americanas. Apresenta ao mundo os Choros, as Serestas, Amazonas, a Missa de São Sebastião. É professor de composição do Conservatório Internacional de Paris e faz parte do Comité d’Honneur juntamente com Paul Dukas, Maurice Ravel, Albert Roussell, Florent Schimtt, Alfredo Casela, Manuel de Falla, Arthur Honegger, Arthur Rubinstein, entre outros.











Cortesia de Vidas Lusófonas/JDACT