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«(…) Os factorcs climáticos reflectem-se
inevitavelmente no manto vegetal que, na sua forrna espontânea, se caracteriza pelo
predomínio de árvores e arbustos de folha perene e odorífera e tem a sua expressão
mais típica na charneca. A este tipo de vegetação associa-se, em regra, o gado ovino
e suíno. Todos os elementos que acabamos de enumerar dizem respeito ao território
que cronstitui o quadro geográfico da cidade. Porém, como lembra Orlando Ribeiro,
o território de um povo já não é um simples dom da natureza, mas sim uma cornbinação
original entre dois elementos: território e civilização. O povoamento concentrado
e a fraca densidadc populacional; o regime latifundiário e a cultura extensiva;
o pastoreio independente da agricultura que se observam na região alentejana são
exemplos dessa combinaçào original de território e civilização.
Para o geógrafo do Mediterrâneo
(Orlando Ribeiro), o Alentejo integra-se por inteiro na civilização do barro, que
tem como elemento característico a preferência dada ao barro (taipa, adobe e tijolo)
na arte de construir; mas aqui a respons:rlrilidade cabe muito mais à história do
que à natureza. Segundo o mesmo autor, o Alentejo possui bons afloramentos
graníticos, que nos tempos pré-históricos possibilitaram a construção de grandes
necrópoles dolménicas nos actuais concelhos de Évora, Reguengos de Monsaraz, Mora
(Pavia), Montemor-o-Novo. Arraiolos e Estremoz e fizeram desta região um importante
centro de civilização megalítica. Todavia, a civilização do granito, que noss tempos
históricos continuou florescente no Norte, foi suplantada no Sul pela civilização
do barro, em virtude de uma maior susceptibilidade deste às correntes de civilização.
Reconhecendo
a dificuldade de filiar a arte do barro numa única origem histórica, Orlando
Ribeiro admite como provável a sua remota filiação ibérica e como centro
difusor os planaltos castelhanos onde falta a pedra. Embora sublinhe o emprego do
tijolo pelos Romanos, considera que foram os Mouros os principais responsáveis pela
generalizaçào da taipa, que já traziam do mundo muçulmano. Não podemos,
entretanto, deixar de lembrar que o uso da taipa e do adobe é apanágio das construções
humildes. Só deste modo se justifica que, na actualidade, outro geógrafo (Amorim
Girão) possa reivindicar para Évora (mais do que para Lisboa) o direito ao título
de cidade de mármore e granito, e que na Idade Média, as construções da cidade,
embora recorressem largamente ao barro, sempre tenham utilizado a pedra. A esta
persistência não são alheios os dois factores convergentes da natureza e da história:
de um lado, a abundância de material lítico; do outro, a marca indelével da arquitectura
romana consubstanciada no próprio templo de granito». In
Maria Ângela Rocha Beirante, Évora na Idade Média, Textos Universitários de
Ciências Sociais e Humanas, Dissertação de Doutoramento em História, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1ª Edição, 1995, ISBN 972-310-693-0.
Cortesia de FCG, CMÉvora/JDACT