«(…) A muralha romana que parcialmente
se conserva data de fins do século III. Quanto ao aqueduto, não temos dúvidas
sobre a sua construção no tempo dos Romanos, pois só assim se justifica a existência
da Rua do Cano, que já no século XIII se encostava ao velho aqueduto. O templo
que, em meados do século II, se ergueu no ponto mais alto da cidade estava consagrado
ao culto imperial, tendo por sacerdotes os servi Augustales. A divindade
oriental de Némesis tinha também uma comunidade de fiéis em Évora, os amici
Nemesiaci, que formavam uma confraria cuja função era dar sepultura aos seus
membros. Évora era a cidade da Lusitânia onde habitava maior número de famílias
de origem romana, como Júlia, Calpúrnia, Canídia e Catínia. Algumas tinham as
suas residências nas villae dos arredores. Uma das mais importantes, que
no início do século II pertencia à família Júlia, ficava na Tourega, por onde
passava a via de Ebora a Salacia (é de notar que este lugar foi um
centro de civilização megalítica, como o provam as antas de Valverde e do Barrrocal;
aí fica o chamado castelo do Geraldo, e perto encontra-se o grande relevo metalúrgico
da serra dos Monges, onde abunda o ferro; neste lugar encontra-se a Fonte Senta,
à qual se ligam lendas de mártires cristãos).
Mas
os vestígios romanos encontram-se em vários pontos ao redor da cidade: na Glória,
a 300 m da Porta de Alconchel; na Horta do Bispo, a 600 m da Porta do Raimundo,
à beira da estrada para Viana; na Herdade da Fonte Coberta, 10 km a sueste de Évora;
na Herdade da Curraleira e na Herdade da Morgada, a caminho de S. Miguel de Machede.
Na freguesia de S. Vicente de Valongo existe um pequeno forte que deve datar
dos primeiros tempos do império e que, tal como o castelo da Lousa, na margem
esquerda do Guadiana, tinha funções eminentemente defensivas. As setenta
inscrições conhecidas provenientes de Évora e dos concelhos limítrofes são prova
inegável da importância que a cidade alcançou na época rornana. A confirmar a supremacia
de Évora conta-se o facto de, já no início do século IV, ser sede de bispado, suplantando
deste modo a capital do convento pacensce, que só no século VI ascendeu àquela dignidade».
In Maria Ângela Rocha Beirante, Évora na Idade Média,
Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Dissertação de Doutoramento
em História, Fundação Calouste Gulbenkian, 1ª Edição, 1995, ISBN 972-310-693-0.
Cortesia de FCG, CMÉvora/JDACT