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Olá.
Após intervenção cirúrgica, estou de volta!
A
Mulher que Amou Jesus
«(…) O que é que está olhando?,
perguntou Quezia. Então, riu-se e deu-lhe a mão. Vamos lá, vamos continuar
a exploração. Encontraram-se com outro grupo que parecia comedido. Quando ouviram
que vinha de Nazaré, riram. Não temos de nos preocupar, disse Sara. Ninguém
presta atenção aos nazarenos. Eles não contam. Por quê? Não contam, em que
sentido?, perguntou Maria. Segurava a sua nova amiga, Quezia, bem
próximo a si, como se tivesse encontrado um tesouro perto da estrada e não o
largasse. É um vilarejo de gente pobre, disse Sara. Até surpreende como conseguiram
juntar um grupo para viajar a Jerusalém. Mas têm uma porção de camelos, disse
Maria. E ela achava que pessoas que têm camelos deveriam ser mais interessantes que as que têm jumentos,
pois os camelos têm mais personalidade que os jumentos. É verdade, disse
Quezia. Vamos lá, vamos tentar juntar-nos ao grupo e aí poderemos saber como é
que são.
Com cuidado, foram se
aproximando, pouco a pouco, até se juntarem a uma família que caminhava bem
devagar. Tentaram começar uma conversa, perguntando sobre Nazaré. Mas as
pessoas respondiam com frases curtas, secas. Não temos muitos forasteiros em
Nazaré, disseram. Nazaré era uma cidade tranquila. Boa para criar uma
família, foi o que disseram. Como não há muito o que fazer, talvez por isso as
crianças não se metem em encrencas, disse uma senhora mais velha. Como
aquela família ali. Apontou um grupo de pessoas que caminhavam juntas, com duas
crianças pequenas sentadas no jumento. Aquele pessoal. José e a sua família. Maria
olhou para ver de quem a mulher falava. Um homem ainda jovem, simpático,
caminhava na frente, seguido, presumia-se, por sua mulher e várias outras
pessoas, com o jumento com as crianças no fim da fila. É carpinteiro, disse um
jovem. Não faz a viagem todos os anos, mas com bastante frequência. Tinha um
irmão em Cafarnaum cujos filhos ficaram rebeldes e se juntaram àquelas
insurreições. Suponho que José queira evitar esse tipo de problemas. Logo atrás
de José e da sua mulher, caminhava um jovem, alto, resoluto, quase um homem,
mas ainda bem jovem, de cabelo espesso e escuro que parecia ruivo à luz do sol
de meio-dia. A seu lado, caminhava outro rapaz e em seguida um bando de outros.
Nesse momento, o jovem voltou-se
para olhar Maria e as suas amigas. Tinha olhos escuros e profundos. Quem é ele?,
perguntou Quezia. Aquele é o filho mais velho, Jesus, respondeu o rapaz que
mostrara a família. É o preferido de José. Por quê? É bom carpinteiro? O rapaz encolheu
de ombros. Não sei. Deve ser, senão José não teria orgulho dele. Mas todos os
adultos gostam dele. E as pessoas da idade dele? Bom, nós gostamos dele, mas
ele é muito... sério.
Mas ele gosta de brincar e é um bom amigo. Mas..., riu-se, gosta muito de ler e
tenta guardar segredo disso. Talvez por gostar tanto de ler e estudar, quando todos
nós achamos tão maçante. Dizem que ele até sabe ler grego. Aprendeu sozinho. Isso
é impossível, disse uma moça alta. Ninguém aprende grego sozinho. Bom,
talvez o tenham ajudado, mas ele estudou sozinho. E em segredo. Tenho a certeza
de que isso não era segredo para os amigos mais próximos dele, disse a
moça, com desdém. Maria e as amigas decidiram conhecer de perto aquela família
intrigante. Não foi difícil aproximar-se e juntar-se a eles. José, o patriarca,
conduzia o grupo, batendo, a cada passada, com o cajado no chão. Maria notou
que o cajado tinha uma bela talha e, no castão, tinha esculpida uma tâmara: um toque
de artista.Que lindo cajado, disse Quezia, aproximando-se. José olhou para elas
e sorriu. Gostou? Fui eu que fiz a talha, mas foi Jesus, este moço aqui, que
esculpiu a tâmara». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de
Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
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