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O ducado de Beja: uma reordenação do poder?
«(…) Os exemplos aqui explanados,
exceptuando o caso de Jorge, cuja acumulação de direitos e mercês régias, à
custa das vicissitudes inerentes ao reinado de João II (morte do seu filho legítimo
Afonso e consequente concentração de benesses neste seu filho bastardo), forma um
caso incomum na primeira metade de Quinhentos,
espelham percentagens extremamente baixas no que toca à importância dos
assentamentos em função do rendimento geral destas casas aristocráticas, sendo
que estes nunca excedem, grosso
modo, os 5%. Já em 1525, o infante Luís detinha um assentamento
régio anual de quase 2.000.000 de reais. Embora não se comparasse aos montantes
homólogos das rainhas dona Catarina e dona Leonor (irmã de dona Manuel I, ainda
viva, à época), tal quantia era adequada ao estatuto que detinha na família
real, tanto como herdeiro presuntivo ao trono, à falta de descendência legítima
de seu irmão, João III, algo que aconteceu por duas vezes entre 1521 e 1527, ou
mesmo pelo desempenho formal de um dos cargos mais importantes do Reino, o de
Condestável, que só lhe é confirmado em 1527, não obstante o exercer
simbolicamente desde pelo menos a aclamação de D. João III, visto que, vinte
anos antes, Manuel I doava anualmente 2 contos (2.000.000 reais) para a mantença
do então Condestável, o seu sobrinho Afonso de Viseu.
Caso o assentamento de Luís
significasse 5% do seu rendimento total, este então seria de 38 contos
(38.000.000 reais), algo irrealista visto que não se encontra minimamente
equilibrado com os réditos gerais das outras casas ducais portuguesas (Bragança
e Coimbra). Para além disso, seria muito superior ao rendimento total do
próprio Manuel enquanto duque de Beja (27.000.000 reais). Portanto, facilmente
daqui se depreende que a percentagem respectiva ao assentamento de Luís deveria
andar entre os 10% e os 20%, o que confirma a dificuldade extrema em estimar
uma renda total a partir do assentamento doado pela Coroa.
Dimensão e composição da estrutura curial
Decorrente do aumento
espacial das suas jurisdições e aliado às necessidades que tais estruturas
administrativas implicavam, a família (o conceito de família aqui usado abrange não só
aqueles que possuem um grau de parentesco com o senhor em questão, mas
igualmente toda uma gama de indivíduos relacionados com a administração e
serviço doméstico da casa.) do infante Luís aumentou
progressivamente desde a implementação do ducado até à morte deste titular,
transitando a maior parte dos seus clientes para a esfera da Casa Real após
esta data. Com efeito, os livros de moradores que chegaram ao presente revelam
uma criadagem que andaria por volta de 500 indivíduos na segunda metade da
década de 1530, sendo que este número compreende já uma soma superior às seis
centenas em 1555, ano em que o infante Luís falece e a grande maioria dos seus
criados requere filiação na Casa Real.
Era,
portanto, a casa senhorial portuguesa com maior número de dependentes durante a
primeira metade de Quinhentos,
ultrapassando as restantes casas aparentadas directamente com a Coroa (casos do
senhorio do infante Fernando ou do infante Duarte) ou mesmo as pertencentes à
mais alta fidalguia do Reino (exemplo da Casa de Bragança e seu titular, Teodósio
I). Enquadrando estes valores na escala das casas nobiliárquicas europeias, à
época, diga-se que o número de dependentes do infante Luís é comparável, senão
superior, ao das maiores casas reais europeias, incluindo as cúrias de membros
da família real francesa e as casas condais inglesas de meados do século XV,
apenas sendo superada em alguns casos pelas cúrias espanholas, como é o caso do
ducado de Medinaceli ao sustentar 700 criados no último quartel do século XVII».
In Hélder Carvalhal, A Casa Senhorial do Infante D.
Luís (1506-1555), Dinâmicas de construção e consolidação de um senhorio
quinhentista, Revista 7 Mares, Nº 4, Dossié, Junho de 2014, Wikipedia.
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