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«(…) Como todos de sua laia. De todos os garotos e homens
para quem Andzelika podia ter-se entregado, porque ele? Que atracção venenosa é
essa que liga a família dele e a minha? Duas mortes não foram o suficiente para
extingui-la? Se ao menos eu tivesse compreendido quem ele era naquela primeira
noite... Intensos olhos negros, a mão branca e delicada mexendo naquela
cabeleira brilhante. Um desprezo bolchevique lá no fundo da sua cortesia. Posso
ouvir Stas dizendo, Ciotka Valeska, tia Valeska, deixe-me apresentar o meu
amigo do colégio, Piotr Droutskoy. Sim, sim, seja bem-vindo. É claro, seja
bem-vindo. Seu nome não significa nada, você não significa nada. Outro
cavaleiro errante, não é? Ou um fidalgo de sangue azul e meios limitados? Sim,
você completará a nossa mesa agradavelmente por duas semanas. Eu deveria ter
atirado nele bem ali no pátio, à luz fraca das torchières. Se eu tivesse
percebido. Em vez disso, eu o acolhi. O amiguinho de Stas. Sim, sim, por favor,
fique. Adam foi logo levar as coisas deles para o terceiro andar. E então ele
possuiu Andzelika. O irmão da adorada libertina de Antoni possuiu minha filha.
O irmão da encantadora baronesa Urszula. Urszula. Seus largos quadris
ticianescos enroscados no meu marido mesmo na morte. Quantas noites teriam eles
dormido assim? As expedições de caça de Antoni, os seus negócios em Praga, em Viena.
Visitas às fazendas, às vilas. Sempre com ela. Sempre com Urszula. Dois
disparos de uma pistola para que os dois pudessem dormir daquele jeito para
sempre. Será que nunca me verei livre da visão dela, dos dois?
Toussaint
estava de pé atrás de mim enquanto eu olhava da porta aquela manhã, as suas
mãos como ferro sobre os meus ombros. O que foi que ele sussurrou então? Até Rudolf
e sua baronesa tiveram a decência de se cobrir. Toussaint então colocou-se na minha
frente, abaixou-se para pegar o kontusz de Antoni, que tinha sido atirado às lajotas
de mármore do chão. Como ele adorava aquele casaco, o símbolo da sua comiseração
pelos camponeses. Deixava abertas as mangas, erguia-as até bem acima das da
camisa ou do casaco de couro e lá ia ele, a brisa inflando a longa peça de
roupa. Toussaint cobriu-os com o casaco, a mortalha certa para um bom szlachta
e a sua amada. Ainda me lembro de quando era eu a sua amada». In Marlena de Blasi, Amandine,
2010, Editora Record, 2014, ISBN 978-850-140-017-8.
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