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O
Hospital Real das Caldas de Lafões
«(…)
Manuel d'Azevedo Almeyda era filho de Sebastião Rodrigues Azevedo e Isabel
d'Almeyda, da Casa da Cavalaria, pelo que, com ele, a provedoria voltou à família
dos Almeydas, após a breve interrupção, no tempo do Cardeal-Rei. Em 14 de Outubro
de 1592, o Desembargo do Paço repete todas as obrigações dos administradores das
Caldas, nomeadamente das quatro camas para os pobres; de sustentar à sua custa um
Banheiro que tinha o cuidado de temperar as águas aos enfermos; de cada um dos 24
homens repartidos pelos 24 casais ter disponível uma cama, ao preço de dois
reais por noite, para quem viesse aos banhos; um clérigo para dizer missa e
todos os ornamentos necessários ao culto; pagar a lâmpada acesa onde estavam os
enfermos; reparar o Hospital de todas as ruínas e danificações.
Aqui se fala em 24 casais, o que
não condiz com os 22 do Tombo de João V. Como vimos, é na carta de mercê a Fernão
Lopes d'Almeyda que se estipula aquela obrigação dos 24 homens privilegiados,
ainda que não se refira o número de casais. Mas tudo parece indicar que os 24
homens correspondiam aos 24 casais que constituiriam o Reguengo do Hospital. A ser
assim, há lacuna no Tombo de João V. Teriam escapado dois casais a quem o organizou.
Posteriormente, Filipe II deu a administração ao Real Colégio de S. Paulo em
Coimbra, o que levou a Câmara de Lafões a levantar embargo, com base no facto
de a haver possuído no tempo do Cardeal-Rei. O Colégio venceu o litígio, em 1611.
Mas, pouco tempo depois, renunciou, devido aos cuidados de tal administração, não
compensados por lucro tão reduzido. Pires Sylva refere-o, nos seguintes termos:
... como a administraçaõ das Caldas he sem lucro algum, & ocupação grave,
que divertia os Collegiaes do seu estudo, pediraõ a ElRey lhes désse em seu lugar
a Capella de Álmoster, o que ElRey lhes concedeo liberalmente (…) ficou a administração
devoluta aos Juizes de fóra do dito Concelho [de Lafões] , como Ouvidores da Villa,
& Caldas do Banho, atè ao tempo em que o Senbor Rey Pedro II, fez mercè, &
doaçaõ della a Ayres Almeyda Sousa, senhor da mesma casa da Cavallaria, & descendente
dos possuidores do mesmo couto, & Villa do Banho.
Foi a mercê concedida por alvará de
4 de Janeiro de 1676, seguida de carta de doação de 28 de Fevereiro do mesmo ano.
Nesta data, Pedro era ainda Príncipe Regente e não Rei, como afirmam Pires Sylva
e todos quantos o repetem. De resto, como pode ler-se na carta, Pedro intitula-se
Príncipe, ainda que como rei actuasse: … D. Pedro (…) Faço saber (...) que por
parte de Áires Almeida Sousa Sá, Fidalgo da Minha Casa Me Foi apresentado um Alvará
por mim assinado (...) Eu o Principe (...) Hei por bem fazer-lhe mercê (...) da
Villa e Coito dos Banhos (...) sendo seu provedor como fazia até agora o Juiz de
Fora do Concelbo de Lafões, como Ouvidor da dita Villa e Coito, e como foram os
antepassados do Suplicante.
Sabe-se por uma escritura datada de
26 de Fevereiro de 1684 que, durante esta provedoria, foi o Hospital sujeito a obras
de ampliação: … em a Quinta da Cavalaria, junto à vila de Vouzela, do concelho de
Lafões, nas casas da dita Quinta, onde eu Tabelião fui, estando aí presentes Aires
Almeida Sousa, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, Senhor da Vila e Couto dos Banhos
e Provedor do Hospital das Caldas e Vila dos ditos Banhos, (...) e bem assim Manuel
Ferreira (...) e António Lourenço Novo, moradores no lugar de S. Miguel do
Outeiro, do termo da cidade de Viseu (…) e logo por eles foi dito (…) que ele dito
Aires Almeida Sousa mandara pôr a pregão as quatro casas que se vão a fazer no
Hospital dos Banhos na forma dos apontamentos que estão nos autos de arrematação
da dita obra, (...) ele dito Manuel Ferreira se obriga a fazer a dita obra (...)
e dá-la feita e acabada até ao fim de Setembro o primeiro que vem deste presente
ano (...) e em preço e quantia de Noventa e cinco mil réis que tanto consta do auto
de arrematação em que foi arrematada esta obra de pedraria». In
António Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul, Antigas Caldas de Lafões, Palimage
Editores, Viseu, 2002, ISBN 972-857-538-6.
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