4 de Março
Cristóvão Colombo chega a Lisboa. Volta da sua 1ª viagem para a América
Cortesia de paulocampos
Com a devida vénia a Paulo Campos.
Cristóvão Colombo e o Descobrimento da América
Primeira Conferência, 17 de Maio de 1891
«Subindo hoje a esta tribuna que, há cerca de dois anos, conserva-se muda, deserta, abandonada, e relanceando os olhos pelo auditório no intuito de comprimentá-lo, e agradecer-lhe o comparecimento, assalta ao meu espirito uma ideia triste, confrange-se-me o coração com uma dolorida reminiscência. Noto a falta de um grande patriota que desde o começo e durante muitos anos seguidos honrou sempre estas
conferências, animando os oradores com sua presença, incitando os ouvintes com suas palavras, aqueles pedindo a perseverança no trabalho, a estes aconselhando concorressem afim de se alcançarem resultados vantajosos e proficuos aos estudos científicos e literários. Refiro-me ao Sr. D. Pedro II, que ora, ingratamente expelido da pátria, sente decerto ainda bater-lhe o coração de saudades por ela, e faz votos ardentes pela sua felicidade e futuro.
Pago este tributo de gratidão, prestada uma homenagem devida de respeitosa saudação, passo a tratar do assunto anunciado para nossa conferência de hoje, apelando, como em outras ocasiões, para a vossa benevolência.
Sorriu-me esta ideia com a leitura dos anúncios publicados em periódicos de várias nações. No próximo ano de 1892 celebrar-se-á o quarto centenário do descobrimento da América. Achamo-nos na América, somos Americanos, porque nós não recordaremos de época tão memorável!
Para qae se compreenda, porém, a historia do descobrimento da América, necessário nos é começar pelo estudo da situação social, politica, económica, científica ,e litterária da Europa durante o século XV.
Saía da Idade Média, penetrava na da Renascença, e passava por extraordinárias evoluções.
Caía a feudalidade, isto é, o domínio despótico, brutal e caprichoso de fidalgos, senhores de castelos, de cidades, de vastos territórios, tanto leigos como eclesiásticos e que, independentes dos chamados reis e imperadores, vitimavam os povos residentes em suas terras e sob seu jugo.
Elevava-se sobre as ruínas do feudalismo o poder ilimitado dos monarcas, que começavam a governar nações maiores e mais unidas: aparecia já também à tona d'água, reclamando liberdades civis, a classe média e popular, que até então existira esmagada e submetida.
Desenvolvia-se a indústria e o comércio; propagava-se a instrução que estava monopolizada nos cláustros, privativa quase dos representantes da igreja cristã qae sucedera ao antigo culto do politeísmo pagão.
Ocupava-se, todavia, toda a Europa em guerras ou intestinas ou externas: Itália era presa de estrangeiros; França lutava com Inglaterra, unida à Bourgonha e Bretanha; Alemanha fazia e desfazia imperadores nominais; Espanha brigava com Árabes e Mouros, ainda donos de parte de seu solo, e repartia-se também em vários estados cristãos independentes. O império grego de Constantinopla estorcia-se em paroxismos diante das invasões e vitórias dos Turcos asiáticos, que o assaltavam de continuo.
Nenhuma nação possuía então marinha militar propriamente dita e apenas exércitos, dando-se as grandes batalhas e praticando-se as excursões bélicas em terra e só em terra.
Havia, porém, em um canto da Europa, o mais Ocidental, banhado pelo Atlântico, um povo pouco numeroso, mas guerreiro. Firmara na batalha de Aljubarrota por uma vez sua nacionalidade após três séculos de separação e tal qual independência do resto das Espanhas. Proclamara-a nas cortes de Coimbra de 1385, elevando ao trono D. João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I. Não tinha mais inimigos a combater, carecia, entretanto, de empregar sua actividade e aspirações audaciosas em qualquer empresa de vulto.
Desmembrado no princípio do século XII do Condado da Galiza, convertido em reino independente, alargara-se pela conquista sobre terras de Árabes e Mouros até o sul. Mais longe ia-lhe a ambição, e, pois, adiantou para o mar suas energias e afoitesas. Não tivera ao principio marinha, e para se apoderar dos territórios meridionais precisou do auxilio das armadas do Norte, que se dirigiam às Cruzadas. Do governo de D. Dinis em diante aprendera, porém, com os Genoveses a atirar-se ao oceano. Não o convidava ele com seus murmúrios a lançar-se-lhe nos braços?
Feliz como rei, afortunado como pai, foi D. João I. Seus cinco filhos honraram-lhe cavalheirosamente a família e a pátria, já pelos talentos e qualidades, já pela bravura do braço e ardentia do ânimo. D. Duarte foi rei e rei preclaro. D. Pedro, Duque de Coimbra, ilustrado em todos os conhecimentos cientificos e literários da época, ânimo prudente, superior, e esforçado cavalheiro, ganhou experiência em viagens pela Europa e Ásia, e era por isso chamado o Infante das sete partidas do mundo. D. Henrique de Viseu combatera em Ceuta como um leão, e entregava-se aos estudos cosmographicos. D. Fernando morreu prisioneiro de Mouros em Fez, e D. João ainda moço acabou a vida, quando ambos prometiam igualar nos méritos e qualidades a seus irmãos que tanto se haviam enobrecido.
De Mouros estava livre Portugal; nem um pisava em seu solo que não vivesse em cativeiro: tentou ao rei e aos princípes uma grande facção, atravessar os mares que separam a Africa da Europa, levar a guerra aos territórios e dominios em que Mouros se achavam, e expeli-los também daquelas regiões, como o haviam sido de Portugal. Dito e feito. Ceuta, a mais rica e comerciante cidade de Marrocos, foi atacada e subjugada em 1415 pelas armas de D. João I: teve de arriar o crescente de Mahomet e ornar-se com a cruz santíssima de Cristo: e foi o Infante D. Henrique, seu principal vencedor, nomeado para governar a conquista verificada.
Teve então D. Henrique ensejo de aprender a língua árabe, ler seus livros, estudar seus monumentos científicos, ouvir seus sábios, seus cosmógrafos, e muito lucrou e aprendeu, porque eram ainda os Árabes o povo mais ilustrado da época. Terminado seu governo e restituído à pátria, um pensamento, um intuito se lhe fixou no espirito, adiantar, estender os conhecimentos cosmográficos e geográficos, descobrir terras de que já haviam faltado os antigos Gregos e Romanos, e que então se não conheciam mais, devassar os segredos dos mares, opulentando com novos domínios sua pátria, dilatar e propagar a religião cristã, e desenvolver enfim o comércio com novas mercadorias e escambos». In J. M. Pereira da Silva, Cristóvão Colombo e o Descobrimento da América.
Continua.
Cortesia de University of California Libraries/JDACT
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Cortesia de University of California Libraries/JDACT