quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Arte e Artistas em Portugal. Parte Ic. Os Anos 60. «No campo da escultura, João Cutileiro desenvolve temáticas relacionadas com o corpo humano e a sexualidade, e introduz diversas técnicas e formas inovadoras que resultam em figuras de guerreiros, árvores ou mulheres»

Armando Alves, Objecto, 1969
Álvaro Lapa, Página, 1965
Cortesia do cvc

O Centro Virtual Camões apresenta a base temática Arte e Artistas em Portugal
Art and Artists in Portugal, uma adaptação Web da obra bilingue homónima com coordenação de Alexandre Melo, lançada pelo Instituto Camões no âmbito da Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia em 2007. Esta base temática apresenta uma panorâmica abrangente sobre as artes plásticas em Portugal, desde os anos 60 do Século XX até à actualidade, fornecendo ainda informação biográfica sobre alguns dos autores mais relevantes.

Os Anos 60
«Rolando Sá Nogueira, pintor já activo nos anos 50, período em que optou por um figurativismo de certo modo naif, enveredou, na década de 60, pela estética pop, na sequência da sua estadia em Londres (1961-1964), realizando colagens de grande liberdade plástica.
Nikias Skapinakis, nos anos 50, tinha enveredado por um figurativismo de grande riqueza cromática, oferecendo uma alternativa consistente às correntes em voga no período, tanto ao neo-realismo e ao surrealismo como ao abstraccionismo. Nos anos 60 realiza uma série de paisagens e retratos de grupo, a modo de retratos sociológicos de uma época
Noronha da Costa, um dos artistas mais importantes do período, para além de pintor, escultor, arquitecto e cineasta, intensifica as suas preocupações com a visibilidade e a fisicalidade dos objectos. As suas obras integram espelhos, numa exploração dos objectos enquanto tais, originando jogos de formas e espaços ora visíveis ora ocultos. No final dos anos 60, o autor dedica-se ao registo pictórico, mantendo estas explorações visuais, agora através de um sfumato ou uma atmosfera esbatida, deixando entrever fragmentos de pessoas, ambientes, paisagens, velas ou outros elementos de iluminação.

É deste período a série mais famosa de Costa Pinheiro - os Reis - apresentada pela primeira vez em 1966, na Alemanha, na qual o autor faz uma revisão pessoal da história nacional, com atributos iconográficos sugestivos dos vários monarcas, inaugurando assim a temática de personagens da memória colectiva nacional, como Fernando Pessoa, que marcaria a sua obra ao longo das décadas seguintes.

Nadir Afonso, Espacilimitado, 1958
Artur Rosa, Explosão-Esfera, 1968/69
Cortesia do cvc

Um vocabulário figurativo de inspiração naif, exercitado com grande variedade de registos, referências e materiais, sempre renovados, caracteriza o percurso de José de Guimarães, que desde então vem construindo uma sólida e bem sucedida carreira em Portugal e no estrangeiro.
Um outro conjunto de artistas pode ser reunido em torno de formulações específicas da op art, cujas obras são marcadas pelo rigor matemático e elementos geométricos, com investigações no campo da percepção e da tensão óptica. Artur Rosa, também arquitecto, multiplica e desconstrói formas no espaço, com ritmos e movimentos que criam jogos de percepção e ilusão. Com uma obra diversificada que passa pela pintura, desenho, fotografia e intervenções em espaços públicos, também o trabalho de Eduardo Nery vive da repetição de elementos e da exploração do espaço, da luz e da ilusão óptica. Eduardo Luiz, residente em França durante vários anos, através do seu uso peculiar do ''trompe l'oeil" cria espaços tridimensionais em superfícies pictóricas, com alusões surrealistas à suspensão do espaço e do tempo.
No Porto, ligado à Escola de Belas Artes e à Cooperativa Árvore - espaço de experimentação alternativo aos patrocinados pelo regime - o grupo Os Quatro Vintes, composto por Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, José Rodrigues e Armando Alves, entre 1968 e 1972, visa através da força de grupo alcançar uma acrescida visibilidade, chamar a atenção para a debilidade do ambiente cultural da cidade nortenha e reflectir sobre os novos conceitos de escultura, mas sem, no entanto, criar um programa plástico coerente e de conjunto, como fica demonstrado pela diversidade dos percursos individuais dos seus elementos.
No campo da escultura, João Cutileiro desenvolve temáticas relacionadas com o corpo humano e a sexualidade, e introduz diversas técnicas e formas inovadoras que resultam em figuras de guerreiros, árvores ou mulheres. Em 1966, o artista opta pelo uso exclusivo do mármore. A sua formação londrina na segunda metade dos anos 50 foi de grande importância para aproximar o artista, e consequentemente o país, de novas linguagens escultóricas, tornando-o um nome de referência para as novas gerações de escultores.

Costa Pinheiro, D. Inês de Castro, 1966
João Cutileiro, Guerreiro com Caveira de Touro, 1963
Cortesia do cvc

A década de 60 é referida por alguma historiografia como um período de ruptura. É por certo um momento de mudança. Trata-se de uma mudança acompanhada de continuidades mas é, ainda assim, o momento em que os artistas portugueses conseguem, em tempo certo e alinhado com as linguagens internacionais, introduzir pesquisas e formulações estéticas que, ao germinarem, resultariam em trabalhos amadurecidos e percursos individuais amplamente reconhecidos. Desenham-se e projectam-se nestes anos uma série de carreiras de artistas, muitos deles ainda activos, que viriam a assumir lugar de destaque no panorama da arte portuguesa contemporânea». In Alexandre Melo, Centro Virtual Camões.

Cortesia de CVirtual Camões/JDACT