segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hoje, só Poesia. Florbela Espanca. «Tuas mãos foram feitas para a dor, para os gestos de doçura e piedade; e os teus beijos de sonho e de ansiedade…»

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Roseira brava
Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.

Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio Amor!

Nasci envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!

Tua irmã... teu amor... e tua amiga...
E também, toda em flor, a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!...

Navios-fantasmas
O arabesco fantástico do fumo
Do meu cigarro traça o que disseste,
A azul no ar, e o que me escreveste,
E tudo o que sonhastes e eu presumo.

Para a minha alma estática e sem rumo,
A lembrança de tudo o que me deste
Passa como o navio que perdeste,
No arabesco fantástico do fumo...

Lá vão! Lá vão! Sem velas e sem mastros,
Têm o brilho rutilante de astros,
Navios-fantasmas, perdem-se a distância!

Vão-me buscar, sem mastros e sem velas,
Noiva-menina, a doidas caravelas,
Ao ignoto .País da minha infância...
A Bela Poesia de Florbela Espanca, in «Sonetos»

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