sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Armando de Mattos. As Armas da capela dos Coimbras: «Concordo que os escudos da capela apresentam uma planta florida, pouco semelhante ao cardo heráldico, especialmente o do entablamento, que, executado já pelo da abóbada e muito mais estilizado, mais se afastou do verdadeiro motivo a representar, mas o que é certo também, é não estar mais longe da verdade heráldica do que este brasão de João Esteves da Fazenda...»

Cortesia de ilustracaomoderna43

«Sousa Machado quer ver até uma vaga alusão à emboscada no facto de o arco da”Deposição no túmulo” ser decorado com um motivo vegetal de romãs, e no do corvo lendário. Mas as romãs não serão antes um dos vários assuntos ornamentais, que se espalharam pela arquitectura, como por exemplo o cardo nas capelas imperfeitas da Batalha, neste caso relacionado com a tomada de Granada, como diz Vergílio Correia?
Não se deverá aproximar o aparecimento desse ponto, do facto que originou o emprego de «ferros» com esse mesmo motivo, em certas encadernações do século XVII, e o adaptou também, por exemplo, na decoração de azulejos de figura avulsa, da mesma época?
Nada se pode responder de urna forma positiva, é claro, e de tudo por ele exposto, perfilho a ideia de que o João de Coimbra era de família proveniente de Évora, ideia que se avoluma com as notas que a seguir dou. Do que não pode haver dúvida, é da grande antiguidade do apelido Coimbra, segundo se infere do que se lê no «Nobiliário» do conde D. Pedro, além das referências aos já citados "Moedeiros".
  • «24. Lourenço Gonçalves Magro, num. 24 foy ayo del Rey D. Dinis de Portugal: foy casado com D. Branca Gudins, filha de D. Godinho de Coimbra, fez em ella, Egas Lourenço Magro chantre de Braga, Vasco Lourenço Magro e D. Beatriz Lourenço».

Cortesia de ilustracaomoderna43

Peles passagens.dos ms. nºs 276 e 442, já o temos natural de Lisboa, o que aumenta as probabilidades de ser de família originária do sul. E, para isso, baseio-me no que vou dizer:
  • «A páginas 26, da «'História da Descoberta das Ilhas, o marquês de Jacome Correia, diz que o Condestável D. Nuno, após a batalha de Aljubarrota e depois do Mestre de Avis lhe ter dado terras, comtemplara, entre outros, a Rodrigo Afonso de Coimbra com Vila Alva e Vila Ruiva. Estas duas vilas, extintas, são ambas do distrito de Évora, distando desta cidade 6 quilómetros. A primeira é do concelho de Vila de Frades e a segunda do de Cuba. Deste indivíduo, certamente, era descendente o tal Afonso de Coimbra, agraciado com casas naquela cidade por D. Afonso V».
Encontrado por um acaso, e, até hoje ainda não citado neste assunto, o nome de Rodrigo Afonso de Coimbra, fez-me reparar em uma particularidade que me provocou suspeitas.
O nome Afonso, seria usado como apelido, ou como sobrenome? Se era como apelido, que é a minha opinião, vemos que as armas de uma das famílias com ele nobilitadas são as que foram dadas a João Afonso, a da Fazenda, fundador da respectiva linhagem.
Essas armas, são assim descritas por Santos Ferreira:
  • «De vermelho com uma flor de cardo de oiro, com pé e folhas de verde, e um cordão de S. Francisco de prata posto em orla».
Com isto concorda Sousa Machado, pois escreve:
  • «O Dr. João de Coimbra usava, sem dúvida o brasão de João Afonso da Fazenda, que devia ser seu ascendente em linha masculina».


Cortesia de ilustracaomoderna43

Cunha Saraiva; já citou estas armas num trabalho publicado no «Tombo Histórico de Portugal», como sendo as que no armorial português se encontram mais idênticos como as da capela dos Coimbras. Será, pois, o brasão da capela dos Coimbrãs, o brasão dos Afonsos, de João Afonso da Fazenda, de que Rodrigo Afonso de Coimbra podia descender por linha de varonia como a «diferença» demonstra?
Não se deverá também atender à própria organização do nome de todos os indivíduos do apelido «Afonso», citados neste trabalho?
Nesta época, o apelido de varonia, ainda era o primeiro usado a seguir ao «nome» ou ao «sobrenome». O facto de não se encontrar registado nenhum brasão com as armas dos «Afonsos», de João Afonso da Fazenda, com esta «diferença», em nada impede o meu raciocínio, pois não se deve esquecer que nos faltam uma enorme quantidade de livros de registos que se perderam com o cartório da nobreza no cataclismo de Lisboa de 1755.

Concordo que os escudos da capela apresentam uma planta florida, pouco semelhante ao cardo heráldico, especialmente o do entablamento, que, executado já pelo da abóbada e muito mais estilizado, mais se afastou do verdadeiro motivo a representar, mas o que é certo também, é não estar mais longe da verdade heráldica do que este brasão de João Esteves da Fazenda, que eu encontrei no código nº 433 da Biblioteca Municipal do Porto, e aguarelado a vermelho e a amarelo, ou dum outro de João Afonso da Fazenda, igualmente colorido, e que se vê no código nº 432 da mesma biblioteca.


Aconteceu com esta família dos Coimbras, o mesmo que a muitas outras que não chegaram a ter armas próprias. Lembro a família Infante, que traz as armas dos Sobrinhos, os Quaresmas que trazem as dos Pessanhas e dos Lacerdas, os Guerras as dos Eças, os Palhas as dos Almeidas, etc. Até certo ponto, esta ausência de símbolos heráldicos atribuídos ao apelido Coimbra, em seus brasões, confirma o ponto de vista desenvolvido de que esta linhagem não teve armas próprias». In Armando de Mattos, As Armas da capela dos Coimbras, Edições Apolino, Gaia, 1931, Ilustração Moderna nº 43.

Cortesia de Ilustração Moderna 43/JDACT