quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Teatro Aberto. Cândida Branca Flor: a alma portuguesa? « André Murraças leva ao palco a vida de ilusão da cantora popular portuguesa Cândida Branca Flor. Até dia 14 de Outubro»

Cortesia publico

Entre trocas e baldrocas, sonhos e desilusões, André Murraças leva ao palco do Teatro Aberto, em Lisboa, a vida de ilusão da cantora popular portuguesa Cândida Branca Flor.
Cândida Maria Coelho Soares. Era esse o nome, mas a verdade é que poucos a reconhecerão nele. Já Cândida Branca Flor muitos mais saberão quem é. E se se falar em Trocas e Baldrocas, fica ainda mais fácil. É mesmo aquela música dos anos 1980 que continuará, de vez em quando, a passar em festas revivalistas. A partir de hoje, e até dia 14 de Outubro, será ouvida também no Teatro Aberto, na peça Cândida - Uma história portuguesa, escrita por André Murraças e encenada em parceria com Paulo Ferreira. Estávamos em 1982 e Cândida Branca Flor concorria ao Festival RTP da Canção, à época um passo importante na carreira de qualquer artista português. Surgia como intérprete do tema Trocas e Baldrocas, escrito por Carlos Paião. Apareceu vestida de branco e com um volumoso cabelo loiro. A coreografia estava toda sabida, estava tudo ensaiado. Cândida planeou ao pormenor, pensou em tudo. Só se esqueceu de pensar numa possível derrota. Pelo menos, seriamente. Estava convencida de que naquela sua segunda participação no festival, depois da estreia em 1978, a vitória não lhe escapava. Mas, no fim, as Doce acabaram por lhe levar a melhor, com Bem Bom. "Em termos históricos, este é o momento mais marcante dela e também um dos mais frustrantes. É o momento em que apostou mais. Ela veio devagarinho e percebeu que era por ali que queria ir. Surgiu a colaboração com o Carlos Paião e é depois, nesta montra que eram os festivais, que ela apostou tudo, acabando por ficar em segundo lugar, a apenas seis pontos das Doce", recorda ao P2, André Murraças, explicando o momento específico em que acontece a peça, desenrolando-se no camarim da cantora, horas antes da sua actuação no festival.
Se o que agora vemos em palco é verdade ou não, não sabemos. Nem mesmo André Murraças ou a actriz Sílvia Filipe, que assume o papel de Cândida Branca Flor, o sabem. A peça pretende instalar-se num espaço outro: "O que se pretendeu fazer aqui foi, a partir da imagem da Cândida, ter um pretexto para falar de outras coisas, como a questão dos ícones, das pessoas que vivem através de uma imagem, da percepção que o público tem disto tudo", diz o encenador, lembrando o suicídio da cantora, que em 2001 foi encontrada morta em sua casa. Cândida Branca Flor gostava do palco, das luzes da ribalta e de ser adorada. Não terá suportado o esquecimento a que o tempo a votou.
"Ela realmente não é das mais lembradas e é por isso que esta peça vem homenagear um bocadinho a Cândida esquecida", conta Sílvia Filipe. "É engraçado que eu não sabia muito dela, mas a música [Trocas e Baldrocas] foi uma coisa que guardei", acrescenta a actriz.
A ilusão do brilho e esplendor dos palcos, contrastando com a angústia e a vida cinzenta escondida atrás das cortinas, em bastidores. Esta, diz André Murraças, não é apenas a vida de Cândida Branca Flor, mas de muitas daquelas que um dia estiveram no centro das atenções. "No fundo é aquilo que todos os artistas enfrentam. Nós só existimos enquanto existimos em palco. Tudo isto é fantasia, é teatro, é espectáculo. [Esta peça] é uma reflexão sobre o próprio ser humano", conclui o actor Guilherme Filipe, intérprete de uma personagem-surpresa de André Murraças na peça». In Cláudia Carvalho, jornal Público.

Cortesia de Público/JDACT