1923-1971
Nova Iorque
Fotografia de 1949
Cortesia de wikipedia e molduras
«A fotografia de Diane Arbus, Clouds on-screen at a drive-in movie, N. J.
(1960), momentaneamente, reporta-me para a disputa entre dois dos considerados
melhores pintores da Grécia Antiga, Zeuxippos e Parrhasius. As nuvens
projectadas no ecrã do cinema ao ar livre assemelham-se mais com o vasto corpo
de possibilidades de representação da ideia de nuvens do que as nuvens que na
realidade envolvem o ecrã do drive-in - mais parecidas a corpos amorfos.
Enquanto, por um lado, os animais ao realizarem que uma imagem é uma reprodução
da realidade e não a realidade perdem o interesse por essa imagem; por outro,
nos seres humanos, apesar de continuarmos a ser animais, acontece precisamente
o oposto. O nosso interesse pela imagem é ainda maior quando percebemos que é
uma imagem! Este estranho dualismo na imagem de Diana Arbus transgride as
fronteiras tradicionais entre a realidade e o falso, mas ela (Arbus), fá-lo de
uma forma particular através do recurso ao retrato.
A procura por um humanismo
nas poses frontais de indivíduos, incógnitos, parte e complemento do ambiente
social de Nova Iorque, entre as década de cinquenta e setenta, informa-nos de
uma forma desconcertante e detalhada sobre as diferentes subculturas que tende
a representar. "Em qualquer acto criativo existe também um acto de
resistência" (Deleuze), e no caso de Diana Arbus este acto de
resistência tomou a mesma forma que tomou com Robert Frank. A insatisfação e o
descontentamento com que ambos encaram as diferenças culturais e sociais
Norte-Americanas foram ironicamente traduzidas através da forma como captaram o
sujeito fotografado; e na documentação das tenções existentes entre realidades
raciais, cultural e sociais distintas.
Uma das funções específicas
de uma imagem é o seu caracter eminentemente histórico. A importância histórica
e messiânica das imagens resulta na forma como projectam poder e a
possibilidade direccionada para o que é por definição impossível, um regresso
ao passado. A experiência histórica resultante da 'dialéctica das imagens'
é messiânica com dois sentidos: é escatológica, de espera ansiosamente por
algo, por um lado, e de salvação, por outro. As imagem revelam-se em si mesmas
ao invés de desaparecerem no que fazem visível. Em cada momento, cada
fotografia é carregada por um momento histórico sobre as forças destrutivas do
capitalismo e da conformidade social definidoras da sociedade norte-americana
da década de cinquenta.
Arte ou Documentação?
As fotografias de Diana
Arbus funcionam como uma resposta visual às pressões da transformação social
ocorridas durante a década de sessenta. Durante este período uma nova cultural
emergiu e estruturou a realidade com que lidamos presentemente: entre o gradual
confronto com as limitações do meio que é específico da arte (o formalismo Greenbergiano),
e de tudo que possa existir no processo de reconhecimento da mesma (a
sublevação Duchampiana) da distinção entre a arte e a vida, e o
desenvolvimento de um novo conjunto de regras criativas para serem aplicadas
numa situação histórica diametralmente nova. Sem o retorno ao passado. No
entanto, o que aconteceu foi mais no sentido da sofisticação do vocabulário
conceptual, usado para analisar as condições e os efeitos dessa transgressão à
hegemonia optimista imposta pela disciplina social, cultural e política do pós-II
Grande Guerra.
jdact
Crescentemente a experiência
sensorial é obtida através do confronto com a imagem. As fotografias de Diana
Arbus reflectem um maior interesse no observador do que no fotógrafo ou no
assunto. Ao fotografar o 'circo' e aqueles que se encontravam à margem
dos cânones sociais (os 'freaks'), ela faz com que exista no contacto
com quem observa as imagens. Um momento de embaraço derivado do olhar directo
com que cada uma das personagem fotografada nos olha e nos atraí para o seu
meio. Imagens como Russian midget friends in a living room on 100th Street.,
N.Y.C.(1963) ou Two girls in identical raincoats, Central Park, N.Y.C.
(1969) transportam-nos para um mundo povoado por transgressões físicas ou para
o homogéneo meio dos arquétipos da individualidade social. Comportamentos
comprometedores da salutar convivência social. No entanto, o acto de sublevação
é ainda mais reforçado quando se enriquece o corpo de imagens observadas com A
blind couple in their bedroom, Queens, N.Y. (1967) ou, realizadas quando da
sua visita a Londres, Wax Museum: Lord Snowdon and Princess Margaret,
London. England (1969), nas quais o olhar dos sujeitos fotografados é
desabitado. Encontramo-nos, como observadores, numa zona de indecisão entre o
real e o possível.
A exposição Affinities,
de Diana Arbus, patente na Timothy Taylor Gallery até 17 de Agosto de
2012, reúne um conjunto trinta e duas fotografias concebidas no decorrer da sua
carreira (1956-71). A fotógrafa explora a noção de afinidades - os elementos
que compartilhamos, como aqueles que não compartilharmos». In Rui Gonçalves
Cepeda, Diane Arbus, ‘Affinities’ Timothy
Taylor Gallery, Londres, Antena 2, Teresa Pizarro.
A amizade do Rui.
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