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«João de Castro nasceu
em Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1500, filho segundo de Álvaro de Castro,
governador da Casa do Cível e vedor da Fazenda no tempo de João II e de Manuel
I, e de D. Leonor de Noronha, filha de João de Almeida, 2º conde de Abrantes.
Pertencia à alta nobreza portuguesa e, como tal, recebeu esmerada educação,
tendo inclusivamente sido discípulo de Pedro Nunes. Privou com o infante Luís,
como ele mesmo confessa em texto autógrafo. A formação científica e literária
de Castro, a par do infante Luís, é referida pelo próprio na dedicatória que
escreveu em 1539, no Roteiro de Goa a Diu, onde diz explicitamente:
- … sendo eu criado de sua real casa, onde a ciência da Cosmografia mais floresceu que noutra parte alguma desta redondeza que habitamos…
Com dezoito anos foi
para o Norte de África, onde serviu durante nove anos, sendo aí armado
cavaleiro. Até 1535, desempenhou vários cargos na Corte, e casou-se com D. Leonor
Coutinho, senhora da Casa de Marialva, de quem ainda era primo. Em 1535, esteve
com o infante Luís, no ataque a Tunes, organizado por Carlos V e, voltando ao
Reino, retirou-se para a sua morada na Serra de Sintra, a quinta da Fonte
del-Rei, ou quinta da Penha Verde, que tinha herdado por morte do pai, em 1528.
Dizia que lhe tinha
grande afeição, … por ser em terra onde meu pai e avós se criaram ….
No entanto, os contactos
com a Corte tinham forçosamente que ser constantes.
Três anos volvidos,
embarcou pela primeira vez para a Índia, na armada de Garcia de Noronha, seu
cunhado, estando no socorro a Diu, quando do primeiro cerco. Durante estas
viagens começou a fazer levantamentos hidrográficos e topográficos e a recolher
imagens dos locais por onde passava, que depois lhe serviram para a elaboração
dos seus preciosíssimos Roteiros.
Nos anos seguintes
comandou navios em várias acções de protecção das nossas praças ou em acções
punitivas. Finalmente, depois deste período esgotante, mas também produtivo, e
de grande importância para o seu conhecimento da Índia, do Golfo Pérsico e da
Costa Oriental da África, regressou a Lisboa, em 1542, sendo nomeado
capitão-mor da armada de guarda-costas. No ano seguinte, socorreu as nossas
fortificações de Marrocos, coroando-se uma vez mais de glória. A sua presença
junto do infante Luís e do seu círculo de eruditos não se quebrou, pois de
outro modo não poderia nunca ter produzido uma obra científica como a sua, que vai
além da de um excelente técnico, pois denuncia um profundo conhecimento do
Humanismo vigente, que então se impunha em força em Lisboa e em Coimbra, depois
de ter tido o berço em Évora.
Em 28 de Fevereiro de
1545, por carta-patente passada por João III, em Évora, João de Castro foi
nomeado vice-rei, sucedendo a Martim Afonso Sousa, e a 10 de Setembro chegou a
Goa. A política de rigor e justiça que aplicou não agradou às altas patentes do
Estado da Índia, nem a muitos dos naturais daquelas partes, mas facto é que
tentou sanear as finanças e terminar com a corrupção que por lá grassava.
Resolveu também a questão da anexação dos territórios de Bardês e Salcete,
indispensáveis para a auto-suficiência de Goa e da ilha de Tiswadi, tendo para
isso de derrotar as forças do Idalcão. Mas a sua principal acção militar foi a
que teve no descerco de Diu, em 1547. Mas não teve descanso, pois logo avançou,
para dar combate aos inimigos da presença portuguesa no Índico. João III
prorrogou o seu mandato por mais três anos, mas pouco depois de ter chegado a
notícia, adoeceu e faleceu, quando contava apenas quarenta e oito anos de
idade. Foi sepultado na capela-mor do convento de São Francisco, e os seus
restos mortais trasladados para o Reino em 1576, e depositados em São Domingos de
Benfica.
Ainda em vida, João de
Castro tornou-se uma verdadeira lenda, quer nas terras banhadas pelo Índico
quer no Reino e no resto da Europa. Temido por uns e admirado por outros, a sua
aura foi crescendo e, a pouco e pouco, o tempo urdiu uma trama de episódios que
estão para além da realidade e que entram, pelo menos, no limiar da fábula.
Os feitos guerreiros de
João de Castro correram pela Europa do seu tempo, na correspondência
diplomática e nos relatos enviados para a Corte pelos agentes régios na Índia,
em textos impressos, alguns deles imediatamente após os acontecimentos que
relatam, de que se destaca o descerco heróico da cidade de Diu, nos Commentarius
de rebus a Lusitanis in India apud Dium gestis anno salutatis nostrae MDXLVI,
impresso em Coimbra, na tipografia de João Barreira, em 1548, da autoria de
Diogo de Teive. Este humanista teve certamente acesso à crónica da autoria de Leonardo
Nunes que incidia sobre este feito, então ainda manuscrita e que só viria a ser
impressa muito mais tarde, a primeira das vezes, segundo cremos, em 1925, por
iniciativa de António Baião e sob os auspícios da Academia das Ciências de
Lisboa. Teive teve que conhecer igualmente a missiva que o próprio vice-rei
escreveu a João III, em 16 de Janeiro de 1546, dando-lhe conta do que se tinha
passado, hoje guardada na Torre do Tombo, caso contrário o seu relato não teria
sido tão fiel». In
Pedro Dias, Uma Tapeçaria Inédita da Série dos feitos de D. João de Castro, A
importação de esculturas de Itália nos séculos XV e XVI, Coimbra, 1987.
continua
Cortesia de Wikipedia/JDACT
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