Jamaica. 1504 d. C.
«Cristóvão Colombo percebeu que o momento decisivo estava
próximo. Seu destacamento avançava penosamente para o sul, atravessando a densa
floresta desta terra tropical havia três dias, ganhando cada vez mais altitude.
De todas as ilhas que descobrira desde a primeira terra avistada, em Outubro de
1492, esta era a mais bela. Uma planície estreita margeava sua costa rochosa.
Montanhas formavam uma espinha encoberta, subindo gradualmente desde o oeste e
culminando na tortuosa cadeia de picos que agora a cercavam. A terra era quase
toda formada por calcário poroso coberto por um fértil solo vermelho. Uma
incrível variedade de plantas florescia por baixo da grossa protecção da antiga
floresta, todas nutridas por constantes ventos húmidos. Os nativos que viviam
ali chamavam o lugar de Xaymaca, que, Colombo descobrira, significava terra dos
mananciais, o nome fazia sentido, uma vez que havia água abundante em todos os
lugares. Mas, como em espanhol o X é
substituído pelo J, ele passara a
chamar o lugar de Jamaica.
Almirante.
Ele parou e virou-se para encarar um de seus homens. Não está longe, disse De
Torres, apontando para a frente. Montanha abaixo até aquela área plana, passando
depois pela clareira. Luís navegara com ele nas três viagens anteriores,
incluindo a de 1492, quando desembarcaram pela primeira vez. Eles se entendiam
e confiavam um no outro. Colombo não podia dizer o mesmo dos seis nativos que
transportavam as arcas. Eles eram bárbaros. Apontou para dois, que carregavam
um dos menores contèineres, e fez um sinal para que tomassem cuidado. Estava
surpreso por, depois de dois anos, a madeira ainda estar intacta. Nenhum verme
se infiltrara, como acontecera com o casco de seu navio no ano anterior. Um ano
que ele passara abandonado nesta ilha. Mas seu cativeiro tinha chegado ao fim. Você
escolheu bem, disse ele para De Torres em espanhol. Nenhum dos nativos sabia
falar a língua. Outros três espanhóis os acompanhavam, todos escolhidos a dedo.
Os nativos tinham sido recrutados e subornados com a promessa de mais guizos,
bugiganga cujo som parecia fasciná-los,, caso carregassem três arcas para as
montanhas. Eles tinham começado ao amanhecer, numa clareira na floresta
adjacente ao litoral norte, um rio próximo que jogava água gelada e cristalina
montanha abaixo, formando várias piscinas e, finalmente, dando um último
mergulho prateado até ao mar. O zumbido constante de insectos e o canto dos
pássaros estavam mais altos, atingindo um crescendo ruidoso. Carregar as arcas
montanha acima exigia esforço, e todos eles estavam ofegantes, com as roupas
suadas grudadas à pele e sujeira cobrindo seus rostos. Agora, desciam para o
exuberante vale. Pela primeira vez em muito tempo, Colombo se sentia
rejuvenescido.
Amava
esta terra.
Ele
liderara a primeira viagem em 1492, indo contra os conselhos de pessoas
consideradas cultas. Oitenta e sete homens acreditaram no seu sonho e se
aventuraram no desconhecido. Durante décadas, ele se esforçara para conseguir
que financiassem a sua viagem, primeiro com os portugueses, depois com os
espanhóis. As Capitulações de Santa Fé, que assinou junto à coroa espanhola,
prometeram a ele status de nobre, dez por cento de todas as riquezas e controle
dos mares que descobrisse. Um excelente negócio no papel, mas Fernando e Isabel
não cumpriram sua parte. Nos últimos 12 anos, depois que ele provou a existência
do que todos estavam chamando de Novo Mundo, navios espanhóis navegaram para o
oeste, um atrás do outro, e nenhum deles com a sua permissão como Almirante do
Oceano. Putos. Mentirosos. Todos eles. Ali, disse De Torres. Colombo parou sua
descida e olhou entre as árvores com milhares de flores vermelhas, que os
nativos chamavam de Chama da Floresta. Localizou uma piscina clara, lisa como
vidro, e o gorgolejo de mais água em movimento.
A
sua primeira viagem à Jamaica fora em Maio de 1494, na sua segunda incursão,
quando descobriu que o litoral norte era habitado pelos mesmos nativos
encontrados nas ilhas próximas, só que ali eram mais hostis. Talvez a
proximidade com os caraíbas, que viviam em Porto Rico, a leste, fosse o motivo
de sua agressividade. Os caraíbas eram canibais ferozes que só entendiam a língua
da força. Com base em seu aprendizado, Colombo despachara cães de caça e
arqueiros para iniciarem a conversa com os jamaicanos, matando alguns e
maltratando outros, até que estivessem dispostos a agradá-lo. Ele parou o avanço
da caravana. De Torres se aproximou e sussurrou: É aqui. O lugar.
Ele
sabia que esta seria a sua última vez no Novo Mundo. Tinha 51 anos e conseguira
reunir um número surpreendente de inimigos. Sua experiência no ano anterior era
prova de que esta quarta viagem estava amaldiçoada desde o começo. Primeiro, explorara
a costa do que passara a acreditar ser um continente, cujo litoral infinito se
estendia de norte a sul até onde ele navegou. Após concluir essa patrulha,
esperara desembarcar em Cuba ou Hispaniola, mas seus navios corroídos por
vermes só conseguiram chegar até à Jamaica, onde ele os ancorou e aguardou um
resgate. Que não chegou. O governador de Hispaniola, um inimigo jurado,
resolveu abandonar Colombo e seus 113 homens à morte. Mas ela não chegou. Em
vez disso, algumas almas corajosas remaram numa canoa até Hispaniola e
trouxeram um navio. Sim, ele realmente tinha muitos inimigos». In Steve Berry, A
Conspiração Colombo, 2012, Edição Record, 2014, ISBN 978-850-140-380-3.
Cortesia de ERecord/JDACT
JDACT, Steve Berry, Literatura, Colombo, América,