Abatido
«(…) Comandante, o nosso tempo está-se esgotando. Ele pôs a mão na testa enquanto olhava para a superfície cintilante do lago, que reflectia os altos pinheiros e os bosques cerrados de palmeiras que o circundavam. Seu chalé era o único num raio de vinte quilómetros. Wyatt ia para lá algumas vezes ao ano para relaxar e pescar. Naquele dia, porém, não haveria pescaria. Comandante Krull, o mundo é um lugar difícil. Eu sei. Talvez os outros não compreendam o que o excesso de tensão pode fazer a um homem. Mas eu sei. Thomas Wyatt olhou mais uma vez para as páginas do fax. Nada no perfil de Krull indicava o que teria levado o piloto a perder o juízo. Ele não tinha problemas conjugais nem dificuldades financeiras. Não havia registo de abuso de álcool ou de drogas. E era isso o que tornava a tarefa de Wyatt mais difícil. Ele não tinha nada em que se apegar, nada a que recorrer para convencer o piloto de que era um amigo, talvez o único que ele tinha no momento. Era preciso ganhar a confiança de Krull mas, sem encontrar algo que o fizesse conversar, o comandante nunca o veria como um aliado. Essas eram más notícias. Eram poucas as chances de convencê-lo de alguma coisa. Comandante Krull, insistiu Wyatt, sabendo que essa era a sua última oportunidade de dissuadir o piloto de qualquer que fosse o seu plano. Dois jactos de caça F-18 estão-se aproximando da sua aeronave por trás. Um deles está prestes a se posicionar ao seu lado e sinalizar para o senhor diminuir a velocidade, descer a dez mil pés e segui-lo para um local de pouso alternativo. O senhor compreende? O silêncio foi tão vazio quanto as esperanças de Wyatt. Novamente ele olhou para o relógio. Comandante?
Oh, meu Deus!, uma mulher gritou algumas fileiras atrás de onde o passageiro do 2-K estava sentado. Ela apontava para a janela. Eles vão abater-nos! Nos últimos instantes, o nível de ansiedade dentro do airbus havia passado das preocupações sussurradas ao pânico. Agora, enquanto todos olhavam em desespero para o lado esquerdo da aeronave, o passageiro do 2-K avistou a forma esguia e ameaçadora de um jacto de caça militar. As barbatanas gémeas da cauda lembravam lâminas de faca. O nariz comprido e agudo parecia o de um insecto prestes a dar uma ferroada. Sentado dentro da cabine enflechada, o piloto gesticulava, tentando atrair a atenção do comandante Krull.
Para ter uma visão
melhor do caça, o passageiro do 2-K aproximou-se mais da janela e viu algo que
fez o seu pulso acelerar e a respiração ser sugada dos pulmões. Preso à
extremidade de cada asa do caça via-se um pequeno míssil teleguiado azul. Ele
seria usado para derrubar o avião nas águas frias em baixo, depois de
transformar o vôo 45 numa bola de fogo? Pu… que pariu!, gritou um adolescente
entre os passageiros. Fiquem todos calmos!, berrou a comissária de bordo
tentando encobrir os gritos dos passageiros. Este é um procedimento padrão. O
avião está aí apenas para nos escoltar em segurança para o local de pouso mais
próximo. Porquê?, bravejou o adolescente. Para que precisamos de uma escolta? O que há
de errado em pousar no JFK? Tem mais um!, alguém gritou do lado oposto da
cabine.
O segundo F-18 estava tão próximo que era possível ver o rosto do
piloto. O passageiro do 2-K sentiu os joelhos fraquejarem ao mesmo tempo que
afundava no assento. Tirou os óculos e fechou os olhos. Procedimento padrão?,
pensou. Escoltar-nos? Se o co-piloto está morto e o comandante ameaçou atirar
em si mesmo, quem vai pilotar o avião?» In Lynn Sholes e Joe Moore, O Último Segredo,
1995, Editora Pensamento, 2015, ISBN 978-853-151-778-5.
Cortesia de EPensamento/JDACT