quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Jesus ou o Segredo Mortal dos Templários. Robert Ambelain. «Os prelados instrutores estavam encarregados de investigar se os Templários eram gnósticos, ou, o que era pior, maniqueus, dos que dividiam Cristo num Cristo superior e um Cristo inferior…»

Cortesia de wikipedia e jdact

 Sang de Toulouse

Data: 21 de Outubro de 1307

«Uma janela ogival, estreita e alta, apenas permite a entrada da luz do dia. Achamo-nos em uma ampla sala abobadada do velho Louvre de Felipe Augusto, que a fumaça das tochas murais obscurece ainda um pouco mais. Atrás de uma mesa de tosca madeira, uns homens vestidos com pesadas roupagens, com os rostos tensos e crispados pelo ódio, os legistas de Felipe IV, o Formoso, escutam a voz baixa e triste que se eleva de um vulto de roupas imundas e manchadas de sangue, desabado diante deles. Detrás, uns carcereiros revestidos de couro e malhas, com rosto impassível, curtido pelas campanhas. O homem que fala é um templário, chama-se Godofredo de Charnay, e foi comendador da Normandia. Hoje, depois de ter sido trabalhado duramente durante vários dias pelos verdugos do Palácio, conta as circunstâncias de sua admissão na Ordem do Templo, e toda sua juventude, apaixonada pelas façanhas guerreiras a cavalo e pelas carreiras marítimas sob o esplêndido sol mediterrâneo, acode agora a sua memória... Sem dúvida, e apesar do atroz sofrimento que lhe causam as suas pernas, que os verdugos foram lubrificando lentamente, durante horas, com azeite fervendo, negou tenazmente a sua homossexualidade, uma das primeiras acusações que lhe faziam. Sem dúvida afirmou que ignorava tudo que lhe dizia sobre a suposta adoração ritual de um gato preto, ou sobre uma misteriosa cabeça num relicário de prata. Mas quanto a renegar a divindade de Jesus, confessou, e mais, inclusive proporcionou detalhes: depois de me haver recebido e colocado o manto, trouxeram-me uma cruz em que havia uma imagem de Jesus Cristo. O irmão Amaury disse-me que não acreditasse naquele cuja imagem estava representada ali, já que era um falso profeta, não era Deus...

O comendador que impunha semelhante abjuração ao jovem Godofredo de Charnay, futuro comendador da Normandia, chamava-se Amaury de la Roche, e era o amigo e favorito de são Luis... Esta confissão de Godofredo de Charnay confirmava a de outro cavaleiro templário. A este outro, o comendador que acabava de proceder à sua recepção tinha assegurado, ao lhe ver retroceder horrorizado: não tema nada, filho. Este não é o Senhor, não é Deus, é um falso profeta... Muitas outras confissões parecidas completaram o expediente. Numa das obras mais completas que se consagraram a este processo, M. Lavocat resume as perguntas formuladas aos templários pelos inquisidores, tal como aparecem no próprio expediente: alguém se encontrava frente à conclusões de inculpação e de informação já estabelecidas (sistema muito cómodo), elaboradas por uns juristas versados na ciência das heresias infligidas à Igreja. Os prelados instrutores estavam encarregados de investigar se os Templários eram gnósticos, ou, o que era pior, maniqueus, dos que dividiam Cristo num Cristo superior e um Cristo inferior, terrestre, passivo, partidista, vivo e cativo na Matéria, cuja Organização ele constituía. Formariam parte daquelas antigas seitas chamadas libertinas dos gnósticos carpo-cratianos, nicolaístas e maniqueus? Teriam abraçado a religião de Mahoma (como pretendia a Chronique de Saint-Denys)? Ficava ainda um ponto por examinar, mas difícil de conciliar com os outros. Os irmãos do Templo consideravam Jesus como um falso profeta, como um criminoso de direito comum, que teria sido condenado e executado pelos seus crimes? Ao confirmar-se esta última hipótese, os Templários se teriam somado ao número dos assassinos de Jesus, a quem crucificavam pela segunda vez, como escrevera Felipe, o Formoso?

Nestas últimas perguntas, os inquisidores demonstravam estar perfeitamente informados. Cem anos antes, os interrogatórios aos perfeitos cátaros tinham-lhes revelado um segredo que sempre, até então, tinham ignorado, posto que era secreto da Igreja, unicamente conhecido por seus mais altos dignatários: a revelação do verdadeiro rosto de Jesus na História. Esse rosto tinha sido registado nos arquivos do Império romano. E depois de Constantino tinham-no expurgado. O judaísmo tinha-o conhecido, e na tormenta das perseguições que se abateram fazia mil e trezentos anos sobre os desafortunados judeus se conseguiu confiscar, destruir ou modificar os escritos comprometedores. Tinham-no conhecido os cátaros, e se tinha destruído esta heresia, assim como seus documentos manuscritos. Tinham-no revelado aos Templários. E agora do que se tratava era de destruir os cátaros. Aí estavam as confissões, formais, de numerosos irmãos da Ordem que sabiam... E esses beijos impúdicos que se davam, um entre os dois ombros, e o outro no vão dos rins, não estavam acaso destinados a atrair a atenção por volta de um dos segredos do Zohar, para um procedimento de acção que os cabalistas judeus denominam o mistério da Balança, que põe em acção Hochmah (a Sabedoria) e Binah (a Inteligência), os dois ombros do Antigo Dia, no mundo de Yesod (a Base dos seus rins)?» In Robert Ambelain, Jesus ou o Segredo Mortal dos Templários, 1970, Éditions Robert Laffont, Ediciones Martínez Roca, 1982, ISBN 842-700-727-2.

Cortesia de EMartinezRoca/JDACT