De Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…) No círculo mais íntimo da família e do poder, contudo,
mesmo como papa continuará até ao fim falando e escrevendo em catalão. Por
volta de 1453, o sobrinho do cardeal dedicou-se aos estudos de Direito em
Bolonha. Os primeiros traços conhecidos de seu carácter devem ser contemplados
com muita cautela. Os humanistas tinham a tendência de reescrever em elegante
latim conhecidos lugares-comuns da Antiguidade clássica. E isso se aplicava
ainda mais quando se tinha de fazer uma lista com as qualidades de
personalidades poderosas e de outras que poderiam vir a sê-lo. Acreditava-se
poder distinguir nesses textos contornos de uma autêntica individualidade,
mesmo com todas as violações: na ênfase da imponência física, no louvor à
rápida faculdade de compreensão e agilidade mental, na capacidade de fazer manobras, assim como no talento de
administrar e dominar. Todas essas qualidades deveriam ser amplamente
demonstradas, pelo assim descrito, em 36 anos de cardinalato e onze de
pontificado. Informações adicionais sobre esses primeiros anos são, no entanto,
muito raras. Dentro da cúpula da Igreja, seu tio não desfrutava muito destaque.
Essa falta de proeminência não conseguiu impedir a sua
próxima escalada. No conclave, quando as partes em conflito não chegavam a um
acordo, entravam em cena os candidatos de conciliação. A idade de Alonso Borja
o qualificava, de mais a mais, a esse papel. Afinal, havia outros que também
queriam uma parte desse quinhão. Além disso, os pontificados muito longevos
provocavam, não raro, graves distúrbios. A distribuição de poder, as
influências e as riquezas cristalizavam-se de forma unilateral em benefício dos
sobrinhos do papa e seus clientes. Enquanto outros protagonizavam manchetes
diplomáticas e culturais, o cardeal de Valência, como era conhecido agora,
esperava tranquilamente. No conclave de 1447, pouco sobressaiu. Nesse conclave,
para surpresa de todos, o vencedor foi o humanista Tommaso Parentucelli, que
adotou o nome de Nicolau V. Durante os oito anos de seu pontificado, a Itália
foi palco de profundas transformações políticas. Em 1450, Francesco Sforza, o
único arrivista verdadeiro entre os governantes seculares da península,
ascendeu ao trono ducal de Milão. Longas negociações com as principais famílias
da aristocracia antecederam a disputa pelo trono, que, após a extinção dos
Visconti, curiosamente favoreciam o mais fraco entre muitos candidatos.
Seguindo essa linha, o domínio da nova dinastia permaneceu fora de perigo
enquanto estiveram conscientes dos pactos assumidos com a sua elite, ou seja,
enquanto respeitaram ou ampliaram seus privilégios e agiram com a máxima cautela
em assuntos relacionados à política externa.
Além do mais, Bórgia e Sforza eram velhos conhecidos. O novo
duque já tinha dado provas das suas aptidões para exercer funções mais
elevadas, quando foi líder de um exército mercenário durante a tortuosa luta
pelo trono napolitano, da qual Afonso Aragão saiu vencedor. Em horizontes
longínquos, foi traçado um cenário de três diferentes ângulos que revelava
grande tensão: os Sforza e os Aragão, primeiramente rivais, depois aliados por
muito tempo e, finalmente, inimigos mortais. Aliado a isso, os papas dos Bórgia
tinham como objectivo tirar proveito dessa rivalidade para consolidar o seu
próprio domínio. No final das contas, Alexandre VI contribuirá de forma
significativa para que uma dinastia permaneça por muito tempo no poder e para
que a outra lá fique por mais de uma década. Em meados do século XV, eventos
ocorridos fora da península foram cruciais para a Itália. O fim da Guerra dos
Cem Anos, entre Inglaterra e França, teve como consequência a rápida consolidação da monarquia
francesa. Sob a forma de influência de carácter diplomático, essa revitalização
da monarquia tornou-se cada vez mais perceptível entre os Alpes e o Monte Etna
já a partir de 1460». In Volker
Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN
978-857-960-127-9
Cortesia EEuropa/JDACT
JDACT, Volker Reinhardt, Escrita, Vaticano,