Cortesia de ippc
Charola
«É uma construção que remonta ao final do século XII e cuja traça românica, em rotunda. é exteriormente apoiada por largos contrafortes que morrem num terraço ameado, tudo conferindo ao conjunto o aspecto da sólida fortaleza que era o primitivo oratório templário. Núcleo irradiador de todo o discurso arquitectónico, espraiado ao longo do monumento, o interior da «Charola» revela um prisma octogonal, rasgado por arcarias capitalizadas ao gosto romano-bizantino e que está envolvido por uma rotunda de 16 fases, conjunto rematado em cúpula.
Sobrevivência de um orientalismo assumido pelos cavaleiros templários, a exuberante decoração, estatuária, pinturas, estuques ao gosto mudéjar, frescos e outros elementos complementares, é dos começos do século XVI (1510-l5l5), época das obras manuelinas quando, igualmente, duas das faces poentes do muro periférico da rotunda, foram rasgadas pelo arco que anuncia a nave, adaptação atribuída a Diogo de Arruda, que assim transformou a «Charola» em capela-mor de um novo templo.
Penetrando na rotunda e percorrendo a face periférica da «Charola», a marcação dos alçados, tramo a tramo, segue o esqueleto seguinte:
- Fixadas aos arcos e «sobrepojados por baldaquinos góticos de timbre e flamento», tocando em pequenas mísulas de talha, existem estátuas representando Profetas, exemplares de madeira policromada da segunda metade do século XVI.
Cortesia de ippc
A parte média das paredes está ocupada por tábuas pintadas, encaixadas em locais previstos para esse fim (mais ou menos 2,5m x 4m). Estas grandes pinturas são atribuídas à oficina do pintor Régio Jorge Afonso, cerca de 15l0-1515, e representam cenas da Vida de Cristo. A parte decoração parietal atribuída a Domingos Vieira Serrão ou a Simão de Abreu e executada entre 1592 e 1600. Alguns dos quadros foram destruídos ou desencaminhados, na primeira metade do século XIX. Os que sobraram, em número de 22, foram transportados para depósito na Academia de Belas-Artes, algum tempo depois da extinção das ordens religiosas masculinas, 1834, e, só por acção do ministro Costa Cabral, dez anos mais tarde, alguns deles foram restituídos à «Charola». As têmperas que ocupam a parte superior também são atribuídas ao pintor Simão de Abreu.
Na parte inferior da face periférica, existem oito altares laterais que estavam, também, decorados com pinturas retabulares (mais ou menos 1,87 m / 2,60 m x l,16 m / 1,30 m) de que restam «S. António pregando aos peixes e S. Bernardo» atribuídas a Gregório Lopes e realizadas entre 1536 e 1538.
Seguindo o esquema e caminhando da direita para a esquerda, encontramos, por exemplo:
- 1. A, janela. B e C, capela que guardava 12 pequenas telas;
- 4. A, têmpera figurando a Fuga para o Egipto. B, pintura sobre madeira, Cristo e o Centurião. C, Altar. À direita, têmpera representando S. António e à esquerda, têmpera representando S. Francisco;
- 9. A, janela. B não tem pintura. C, engastada na parede está uma lápide referenciando o túmulo de D. Lopo Dias de Sousa com as armas dos Sousas de Arronches;
- 14. A, têmpera, Cristo a caminho do Calvário. B, não tem pintura. C, capela setecentista, fasquiada de talha dourada;
- 16. A, têmpera, Cristo no Monte das Oliveiras. B e C, arco.
O prisma octogonal, que centra a Charola, é rasgado por arcarias capitalizadas ao gosto romano-bizantino. As esculturas adossadas interiormente aos pilares do prisma central, tal como as da parede periférica, são de madeira dourada e policromada, ao gosto da estatuária do século XVI e simbolicamente suportadas por mísulas, seguindo o esquema:
Claustro do Cemitério
Foi este o primeiro dos claustros do Convento a ser construído e a sua realização remonta ao Infante D. Henrique, seu «governador e perpétuo administrador», por nomeação pontifícia de l420. A procura de uma maior funcionalidade conventual, levou o Infante a reformular aspectos materiais da primitiva Charola e a implantar-lhe, à ilharga norte, este claustro, destinado a servir de cemitério aos religiosos e cavaleiros da Ordem, já que os serventuários do Convento eram sepultados ou na ermida de Santa Catarina, situada à esquerda da entrada no castelo, passada a «porta do Sol», ou no terreiro da igreja manuelina.
O Claustro do Cemitério tornava-se, assim, complementar do tradicional panteão dos grão-mestres das Ordens do Templo e de Cristo que era na «Igreja de Santa Maria dos Olivais», já na actual cidade.
De risco quadrangular atribuído a Fernão Gonçalves (cuja assinatura, em caracteres góticos, se inscreve na base da coluna do ângulo sul-poente (FNAM:GLZ:FEZ:), este claustro desenha uma galeria abobadada em arestas de 4 lanços (14 m / 30 cm), com 5 arcos ogivais cada, que arrancam de colunas duplas (em número total de 32) com fustes lisos, rematados por delicados capitéis de motivos vegetalistas. O chão desta galeria é lajeado por pedras de sepultura, «sepulturas abertas em rocha viva, porque todo o pavimento é penhasco», a maior parte delas conservando ainda a numeração; lateralmente, corre uma silharia de azulejos azuis e brancos, de desenho orientalizante.
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No centro do claustro, por sobre o lajeado geométrico a descoberto, arrumam-se canteiros forrados por azulejos mudéjares de corda seca ou esmaltados de azul e branco, com debuxos persas. No topo norte-nascente está um poço cisterna:
- «tienne este claustro uma cisterna de que se proveo la sacristia de água para as necessidades».
O arranjo complementar decorrido entre os reinados de D. Manuel I e Filipe II de Espanha, explica o aparecimento de túmulos parietais e a adaptação ou criação de espaços adjacentes: tal é o caso da chamada Sacristia Velha, da Sacristia Filipina, da Capela dos Portocarreiros e do corredor azulejado, aberto na face sul, de acesso à Charola. com tecto de caixotões de estuque e decoração geométrica dourada». In Luís P. dos Santos Graça, Convento de Cristo, Instituto Português do Património Cultural, Edição ELO 1991, ISBN 972-9181-08-X.
Cortesia de Instituto Português do Património Cultural/JDACT